Garota Exemplar Filme

Garota Exemplar | Uma decepção para os fãs de Fincher


Garota exemplar é uma decepção para os fãs de David Fincher. Quem acompanha o diretor, que em seus 22 anos de carreira em longas-metragens criou ao menos dois clássicos (Clube da Luta e Se7en) e duas obras-primas (Zodíaco e A Rede Social), não vai encontrar a qualidade que normalmente aparece em seus filmes. Verdade seja dita, porém: a maioria das falhas de Garota exemplar vem do roteiro, não da direção.

O filme conta a história dos Dunne, um casal aparentemente perfeito. Na manhã de seu quinto aniversário de casamento, Nick (Ben Affleck) chega em casa e não encontra a esposa Amy (Rosamund Pike). Há, porém, sinais de que algo estranho aconteceu: móveis da sala mexidos, mesa de centro quebrada uma mancha de sangue no armário da cozinha. Conforme a investigação se desenvolve e o circo midiático em torno do caso aumenta, a atitude fria de Nick implica que ele pode não ser tão inocente quanto afirma, e sua relação com Amy, não tão perfeita quanto parece.

É difícil escrever uma crítica sobre esse filme sem dar spoilers, pois a maior reviravolta não demora muito a acontecer. Nesse sentido, o suspense, tão característico de Fincher, dura muito pouco, e a maior atenção recai no tipo de relação que Nick e Amy têm, e em que tipo de pessoa cada um deles é. A ideia é usar o desaparecimento e seus desdobramentos como metáforas para a destruição do casamento, para mostrar que mesmo que vivamos com uma pessoa por anos, nunca a conheceremos completamente. Assim, ainda que a história pareça importante, o que está em foco, mesmo, são os personagens.

A interação de Ben Affleck e Rosamund Pike é ótima. Eles funcionam muito bem juntos e passam verossimilhança ao interpretar um casal que vê seu casamento se desgastando. As diferentes fases da relação parecem verdadeiras, desde os flertes da primeira noite até a frieza dos meses antes do desaparecimento de Amy.

O problema é que quando Affleck está sozinho (ou contracenando com outros atores que não Pike), piora muito. Quando Nick exige mais camadas de Affleck, o ator se mostra incapacitado de entregar uma performance convincente, o que o deixa superficial e monótono. Isso funciona quando as coisas são contadas do ponto de vista de Amy, já que ela vê no marido a culpa da ruína do casamento. Em qualquer outro momento, Affleck é apenas um protagonista que não engrena.

Em contrapartida, Rosamund Pike é tudo o que Affleck não é: ela flutua maravilhosamente entre as diferentes facetas de Amy, encarnando com perfeição cada uma de suas emoções, cada um de seus pensamentos. Ela é a graça do filme, mesmo nos momentos fracos e bizarros de sua personagem – causados sempre pelo roteiro.

Garota Exemplar Filme

Essa é a maior falha de Garota Exemplar: o roteiro. A premissa é boa, parece interessante, mas se desenvolve de tal maneira que é impossível levar a sério. As ações dos personagens não parecem verossímeis, e quanto mais o filme avança, mas nonsense tudo parece. Pela metade do filme, o pensamento que me ocorreu foi “ou o final vai salvar ou destruir tudo com chave de ouro”, e não adiantou torcer pela segunda opção. Se você viu Terapia de Risco, sabe do que eu estou falando.

O que salva boa parte do filme é a direção de Fincher, que está muito diferente de suas obras anteriores. Esqueça a fotografia fria, os belos planos, a montagem interessante. Garota exemplar traz um David Fincher objetivo e uma decupagem a serviço da narrativa. O resultado é bom em vários momentos, os planos, sua ordenação, tudo cria uma narrativa ágil, que não cansa o espectador, o que, num filme de duas horas e meia, é bastante difícil.

O problema é que o rumo tomado pela história, que parece ser estabelecido já no roteiro, mas reforçado pela direção, não deixa espaço para o espectador formular suas próprias ideias. A sensação que fica é que a história foi puxada demais para um lado, abandonando as ambiguidades que costumam deixar os filmes de Fincher interessantes. Aquela necessidade de pensar sobre a resolução escolhida, de ponderar os certos e errados, de voltar ao filme para entender certos aspectos não está aqui. O filme estabelece uma visão muito clara de quem é o culpado pelos problemas do casamento, e apesar de a outra parte ter sua parcela de erros, fica óbvio quem é a pessoa louca da relação.

Uma das maiores qualidades de Fincher é trabalhar com boas histórias, mas isso não acontece em Garota Exemplar. É um ponto baixo na carreira do diretor. Resta esperar pelo próximo longa, e torcer pela redenção. Eu estou.


Gone Girl” (EUA, 2014), escrito por Gillian Flynn, dirigido por David Fincher, com Ben Affleck, Rosamund Pike, Tyler Perry e Carrie Coon.


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