Fratura | No final, não tem coragem de ser um filme melhor


[dropcap]E[/dropcap]xiste um prazer estranho em ser enganado enquanto vê um filme. Todo mundo saiu surpreso do cinema depois Psicose ou de Sexto Sentido, por exemplo. Em ambos os casos, como em um truque de mágica, você olha para um lado enquanto está sendo ludibriado pelo outro. Fratura tenta fazer isso, mas perde a mão.

Derrapa, justamente, por não entender o que quem acertou já tinha feito. Obcecado pela ideia de criar a dúvida no espectador, Fratura se torna chato e repetitivo ao não conseguir perceber para que lado vai, como se tentasse fazer o truque com as duas mãos ao mesmo tempo. Todo mundo gosta de ser enganado em um filme, uma vez, quando isso acontece a cada meia dúzia de minutos, logo você desiste de querer saber o que é real e o que é imaginação do personagem.

O filme é escrito por Alan B. McElroy, roteirista que tem pérolas em seu currículo como Spawn (o filme), Tekken e Panico na Floresta, o que não permite que ninguém crie muita expectativa. Em Fratura, Sam Worthington vive um cara que dá entrada em um hospital com sua filha machucada depois de uma queda. O problema é que horas depois de internada, ele acaba descobrindo que, tanto a filha, quanto a esposa, sumiram completamente do mapa.

Começa depois disso uma busca ensandecida do pai pelas duas, ora colocando em dúvida a moralidade do hospital, ora pressionado pela possibilidade de estar ficando louco. Entendendo essa dinâmica, o diretor Brad Anderson se aproxima bastante dessas dúvidas e incertezas e coloca o espectador dentro das mesmas incertezas.

Curiosamente, Anderson tem em sua filmografia dois outros grandes trabalhos que brincam, justamente, com essa espécie de terror psicológico onde ninguém sabe o que é real e o que não é, o terror A Nona Sessão e o drama O Maquinista. Em ambos, o tudo é muito melhor e mais eficiente.

Fratura não sabe onde parar na hora de dar dicas e desviar a atenção, o que torna a experiência óbvia. Como se estabelecesse cenários demais para construir verdades demais, e uma hora, lá mais para frente, quando a impressão é de que tudo pode ser verdade ou mentira, o estapafúrdio e paranoico se torna divertido, enquanto o dramático e profundo parece ficar aquém de todos esforços narrativos do resto do filme.

E se é difícil discutir isso sem tropeçar em nenhum spoiler, basta dizer que Anderson e McElroy acabam tomando o caminho mais artístico e deixam de lado o quanto pode ser divertido uma boa e velha teoria da conspiração.

Como se Fratura te desse todas os sinais para olhar para desviar seu olhar para a mão do mágico onde ele está trocando a carta. Enxergar o truque não é legal quando você está querendo ser enganado, e é ainda mais frustrante sentir que o filme te carrega pela mão até perto da surpresa, mas prefere a frustração.

Felizmente, Anderson consegue fazer essa bagunça toda ser minimamente tensa e realmente consegue aproximar o espectador do protagonista, tanto na sanidade, quanto na loucura. Seu estilo visual seguro e preciso também consegue oferecer um filme bonito e eficiente, o que ajuda na experiência e não deixa tanto que os defeitos atrapalhem o resultado total.

De qualquer jeito, enquanto existe um prazer em ser enganado por um bom filme, não existe esse prazer quando o filme te engana tanto que você acaba ele sem saber bem porque raios, se a ideia era te enganar, ficou te esfregando na cara todas as dicas e sinais.


“Fracture” (EUA, 2019), escrito por Alan B. McElroy, dirigido por Brad Anderson, com Sam Worthington, Lily Rabe, Lucy Capri, Adjoa Andoh e Stephen Tobolowsky


Trailer do Filme – Fratura

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