Fotógrafo De Guerra | Cru e verdadeiro

*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


[dropcap]F[/dropcap]otógrafo de Guerra é um filme quase cru, sem substância, cujo titulo já anuncia sem rodeios seu conteúdo, que pode ser chocante para a maioria das pessoas, mas como espectadores nos acostumamos com o que vemos.

De qualquer forma, o que vemos, a rotina de um fotógrafo de guerra nas guerras do Oriente Médio, não se compara com fotos das guerras mundiais, pois diferente dessas, muitos civis estão morrendo e fugindo de onde sobrevivem no século 21. Deveríamos estar mais abalados do que nunca, mas algo mudou em nossa percepção do absurdo humano. Talvez o fato que o palco desses conflitos seja em um lugar muito longe do primeiro mundo.

O filme explora vagamente este distanciamento quando o protagonista encontra um colega fotógrafo e ambos falam sobre as qualidades das lentes e como hoje em dia todas as fotos exigidas pela mídia devem ser totalmente nítidas, sem espaço para uma interpretação da luz que tanto acrescenta ao momento. “Não há mais espaço para emoção”, diz o fotógrafo que está há duas semanas no fronte e não parece temer pela própria vida.

De fato não há mais espaço para algumas emoções, como solidariedade e empatia. Ao combinar as rotinas de pai e fotógrafo no mesmo filme vamos percebendo como são vidas distintas a de Marie Bitsch-Larsen, e seus quatro filhos possuem seus assuntos pessoais do dia-a-dia, além do drama pessoal de ter uma mãe à beira da morte. E nada disso se confunde com os momentos em que Marie está a trabalho, nunca os assuntos chegam a convergir, exceto no lado prático, como quando uma das filhas precisa do material do seu pai para um trabalho de escola.

Com isso o filme ganha uma distância dos acontecimentos brutais da guerra que o próprio Marie aparenta ter pela frieza com que descreve e trabalha, uma frieza provavelmente desenvolvida como forma de auto proteção e preservação. E a despeito de provavelmente estar sofrendo de estresse (ele não consegue mover uma parte do rosto) o que vemos não é uma viagem introspectiva na vida desse fotógrafo, mas o que ele consegue extrair de sua profissão – as fotos – e o que precisa fazer para isso, onde precisa estar.

Desconfio que Fotógrafo de Guerra tenta em vários momentos se tornar um retrato mais intimista, mas a falta de algum acidente em seu protagonista ou um diagnóstico mais grave do seu médico frustram a exploração de mais uma tragédia: os efeitos psicológicos dessa profissão. Restam, então, as fotos, uma mais bela que a outra, que ilustra essa nossa era dos extremos.


“Krigsfotografen” (Din/Ira, 2019), dirigido por Boris B. Bertram, com Marie Bitsch-Larsen, Elias Sekjær Grarup e Jan Grarup.



Trailer do Filme – Fotógrafo De Guerra

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