Crítica do Filme Força Maior

Força Maior | A cada nevasca, curva ou avalanche

É incrível como existem filmes que partem de um ponto tão simples para chegar nas mais profundas angustias do ser humano. Força Maior faz isso. Melhor ainda, o faz e ainda obriga todos a refletirem de verdade sobre aquilo. Por mais doloroso que isso possa vir a ser, tanto para o espectador, quanto para os personagens.

O ponto de partida em questão é uma avalanche controlada. Umas daquelas que chamam a atenção de todo e qualquer turista que esteja hospedado em alguma chique e segura estação de esqui nos Alpes. Um desses onde Thomas, Ebba e seu casal de filhos estão hospedados, e uma dessas avalanches que eles presenciam durante uma café da manhã, mas uma que dá levemente errado e acaba atingindo o balcão do restaurante com uma névoa e a impressão de que ela chegaria a eles.

Uma impressão que simplesmente coloca no chão o relacionamento estre os dois, já que o pai tem uma atitude pouco nobre . Força Maior então é um retrato poderoso, frio, duro e pesado sobre o ser humano e suas motivações. Por menores, maiores, vãs ou egoistas que elas sejam.

Para o diretor e roteirista Ruben Östlund, o problema então não é a avalanche, mas sim o que fica depois da destruição. Um filme catástrofe onde a catástrofe não é um mundo destruído, mas sim um homem acabado que precisa encarar seu próprio tamanho diminuído pelas suas ações. Östlund então parte do ponto de vista da esposa para encarar as costas desse novo homem que ela percebe estar casada, como se descobrisse ela mesma que não sabe o que fazer com isso.

Força Maior a partir disso então é um drama ágil, cheio de diálogos ácidos e uma vontade de encarar essas verdades que estão escondidas dentro de cada um. A esposa empenhada em entender o marido e o que o levou àquilo, e ele tentando a cada segundo que passa aceitar esse novo homem que ele descobre ser.

Força Maior Crítica

Sem tomar partido, o filme sueco observa esses dois lados e não tira conclusões simples, apenas obriga seus personagens a tirar suas próprias conclusões. A cada conversa constrangedora, a cada briga e a cada decisão movida pela tristeza ou pela dor, o que surge é um quadro complexo do ser humano. Aquele ser humano que erra, que tem falhas, mas também que é capaz de enfrentar todos seus medos por algo maior. Talvez pelo amor dos filhos, ou até pela aceitação de suas escolhas.

Força Maior, mesmo diante de uma premissa simples e de um desmembramento pesado, faz tudo isso como uma genialidade e uma sensibilidade ímpar. Sobre as fraquezas de cada um, mas que discute de peito aberto a real existência de heróis enquanto encara a dor da fraqueza.

Um filme de soluções inteligentes e que ao final deixa claro que, mesmo que você tenha toda certeza de que agiria de modo diferente (e honrado), ainda assim não se permite ter a certeza de que se manterá nesse pedestal pelo resto do tempo. Um filme que parte de um ponto simples para discutir todas essas angústias, mas nem por isso permitindo que elas não deixem de existir a cada nevasca ou curva sobre um penhasco.


“Force Majure” (Sue, 2014), escrito e dirigido por Ruben Östulnd, com Johannes Kuhnke, Lisa Loven Kongsli, Vincent Wettergren, Clara Wettergren, Kristofer Hivju e Fanni Metelius


Trailer do filme Força Maior

*CinemAqui foi convidado pelo Cine Roxy para cobrir a Itinerância
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