Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars | Nem os elfos salvam


Parece que, de vez em quando Will Ferrel resolve fazer algum tipo de remake dele próprio. Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars vai na mesma esteira de coisa como Os Aloprados, Escorregando Para a Glória e Ricky Bobby. A diferença entre eles é que o último é realmente divertido, o resto é descartável.

Ricky Bobby tinha por trás dele o hoje indicado ao Oscar Adam McKay (por Vice e A Grande Aposta), portanto, mais do que somente apostar nessa história que Ferrel não cansa de repetir. Aquela história sobre um personagem meio idiota, mas com coração gigante e um sonho que não lhe permite sair da juventude, independentemente da idade que ele tiver.

Nesse caso, Farrel é Lars e Rachel McAdams é Sigrit, um casal de amigos de uma pequena aldeia islandesa com um sonho: ganharem o Festival Eurovision. Na verdade, o festival é real, e exatamente tão brega quanto a versão do filme. Para o real fica faltando só os comentários de Graham Norton, que são uma das melhores coisas da produção que chega na Netflix com todo jeitão de “grande lançamento do mês”.

Azar de quem acreditar nessa ideia de “destaque” e mergulhar nessa comédia achando que irá encontrar algo que vá um pouco além do medíocre. Ferrel encarna mais uma vez esse personagem esquisito e que parece não ter nenhum tipo de traquejo social. Seu objetivo parece ser sempre passar a maior quantidade de vergonha possível. McAdams aceita a piada e embarca de cabeça na personagem com o cinismo e falta de noção necessária para isso tudo funcionar, mesmo sendo tão pouco.

Pierce Brosnan ainda aparece como pai de Lars, mas, como em todo resto do filme, é apenas a personificação de uma piada que é tão recorrente dentro do filme que fica difícil não se irritar com ela depois da décima vez que ela aparece. Isso quer dizer que Eurovision até funciona em alguns momentos, já que por curtos períodos de tempo as piadas são inéditas, então você dará risada delas. Por outro lado, esse tom repetitivo faz bastante parte do humor de Ferrel, sempre gostando da ideia de repetir uma ação ridículo à exaustão até que ela se torne incômoda o suficiente para ser engraçada. Não se engane, às vezes isso funciona, aqui não.

Talvez não seja o caso em Eurovision, pois, por mais que o filme busque esse tom esquisito e ridículo, ele nunca consegue extrapolar o conceito já esquisito e ridículo da competição em si. Em certos momentos é difícil entender se o humor ali é proposital ou não.

Durante uma grande cena onde vários participantes encaram a câmera e cantam uma música, a acidez está em prever essa montagem, mas depois que ela começa, não acaba, deve ter um monte de gente conhecida no “meio” (servindo de “easter egge) e carrega a seriedade até o final, é complicado achar que aquilo é uma piada e não apenas uma decisão brega de um diretor que não tem mais o que enfiar no filme.

Assim como a trama que sustenta a jornada dos dois é tão comum e sem surpresas que é impossível não prever nada. É lógico que adivinhar o que iria acontecer nesse tipo de filme não seria um problema, mas ter uma estrutura minimamente interessante não deixaria de ser uma ótima opção. Aquele pouco humor que funciona no filme ainda está intimamente ligado a como trata com seriedade pontos óbvios, como quando Lars “larga” o Festival e algumas horas depois já está pescando em sua “nova vida”. Ferrel sabe que o exagero da passagem de tempo cria uma estranheza que culmina ainda na oportunidade de uma sequência clássica dele correndo por seu amor, mas esse tipo de extrapolação é pouco usado no resto do filme.

E se isso foi um spoiler, talvez você se irrite com Festival Eurovision bem antes da maioria dos espectadores, já que o filme não faz o mínimo esforço de surpreender qualquer um, a não ser quando toma uma atitude explosiva para fazer com que a dupla se classifique para o Festival.

Também não seria uma surpresa descobrir que grande parte do problema de Festival Eurovision vem de uma duração inchada e que faz com que as poucas piadas que funcionam acabem longe demais umas das outras. Com 123 longuíssimos minutos, Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars ainda prova aquela máxima de que nenhuma comédia devia passar dos 120 minutos, melhor ainda, que ficassem todas por volta dos 90 minutos. Com tanto tempo de história, nem os elfos islandeses iriam conseguir salvar esse desastre.


“Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga” (EUA, 2020); escrito por Will Ferrell e Andrew Steele; dirigido por David Dobkin; com Will Ferrell, Rachel McAdams, Dan Stevens, Pierce Brosnan, Missanthu Mahut e Demi Lovato


Trailer do Filme – Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

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