Espelho, Espelho Meu

O diretor indiano Tarsem Singh definitivamente não é uma pessoa cinematograficamente confiável, ainda mais se o espectador for ao cinema em busca de qualquer profundidade. E Espelho, Espelho Meu é o resultado disso: uma carreira visualmente espalhafatosa, mas que não faz a mínima ideia do que fazer com qualquer trama que possa colocar de pé esse apuro visual.

A situação parece piorar agora, já que, pela primeira vez, Singh poderia ter em mãos uma história que faria sentido sem o mínimo esforço, pois em qualquer um dos quatro cantos do mundo, todos sabem de cor e salteado tudo que acontece em “Branca de Neve e os Sete Anões”. Ainda assim, Singh aceita com facilidade o roteiro pretensioso escrito por Jason Keller e Melisa Wallack, que não sabe que tom quer ter e se perde na imbecilidade de tentar desconstruir essa história clássica (quase um estereótipo narrativo) pelo único prazer de fingir ser diferente.

E nem o aviso do príncipe vivido por Armie Hammer (“os gêmeos” de A rede Social), “Você está tentando mudar uma história boa por si só”, faz Singh acordar dessa atrocidade sem graça que se torna Espelho, Espelho Meu, que conta a história dessa princesa Branca de Neve (Lily Collins), maltratada por sua madrasta/Rainha (Júlia Roberts) que acaba indo parar na floresta, conhecendo um bando de mini-ladrões (sete anões?), se juntando a eles nos crimes e, com a ajuda deles, tentando impedir o casamento da Rainha com o príncipe (?!).

É verdade que, talvez, a ideia de Singh seja brincar com o conto de fadas de modo irônico e divertido, e até o faz na introdução onde a própria Rainha conta a história do nascimento de Branca de Neve sem poupar o espectador de um humor ácido, tudo isso em uma animação caprichada e que poderia durar todo resto do filme, já que o que vem depois fica tão aquém, tanto da história clássica quanto desse começo bacana, que faz qualquer um no cinema ter vergonha do dinheiro gasto nessa produção.

Como é de se esperar nas produções de Singh, Espelho… é “desenhado” de modo espetacular, dos vestidos cheios de personalidade às maquiagens e penteados visualmente marcantes, dos cenários enormes e cheios de força a um banho de cores e brilhos característicos, mas tudo a disposição de um enorme vácuo narrativo.

Pior ainda, na tentativa de ser diferente aposta em fatores completamente imbecis e inversões sem a mínima necessidade de existirem. (E aqui vão alguns Spoilers!!) Diminuir a presença do caçador à figura de Nathan Lane, baixinho, gordinho (e quase afeminado) só não é pior que ver a própria Branca de Neve despertando o príncipe de um encantamento onde ele se portava como um cachorro (fim do Spoiler). E se isso parece ser alguma viagem lisérgica sem graça e de gosto pelo bizarro, Espelho… parece orgulhoso disso, de não dar importância para o espelho em si e usar um dos anões para maquiar e pentear a protagonista antes do beijo. Uma tentativa completamente patética de ser diferente, quase como uma revolta sem causa e infantil.

E sobre a protagonista, se no começo de tudo, a Madrasta ao contar o prólogo tenta deixar claro que a história é sobre ela, é justamente Julia Roberts a única pessoa no filme inteiro a ter a oportunidade de fazer algo que não medíocre, já que a atriz consegue acertar em vários momentos em um tom divertido, ácido e meio insano, que marca a vilã e só não permite que ela vá mais longe, pois para isso o resto da história precisaria ser mais que uma colagem mal feita do conto de fadas.

Mas não se preocupem, ninguém vai sair do cinema mais envergonhado do que a figura de Sean Bean, estático no fundo do final “bollywoodiano” de Singh, olhando a filha do lendário baterista do Genesis, Phil Collins, pulando e cantando rodeada de sete saltitantes e diminutas figuras.


Mirror, Mirror (EUA, 2012) escrito por Jason Keller e Melisa Wallack , dirigido porTarsem Singh, com  Julia Roberts, Lily Collins, Armie Hammer, Nathan Lane e Sean Bean.


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1 Comentário. Deixe novo

  • Danilo Jovê
    03/06/2012 5:21

    Adorei a critica. Concordo com tudo que esta ai escrito. Infelizmente foi uma perda de tempo esse filme, nem a fotografia ajuda, e esse ar de estúdio deixou a desejar. Não desperdicem tempo assistindo

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