E o Oscar vai para... ou não

Especial: E o Oscar vai para… ou não

Não que não seja complicado entender como aqueles oitos filmes foram indicados ao Oscar, a conta passa por um “número mágico”, um monte de divisões, sobras de votos e a impressão que de ser algo tão complexo que acaba sendo justo. E realmente isso parece ser justo. O que não é justo, pelo menos no caso de 2015, é ver um disputa tão bilateral e um punhado de filmes que não mereciam estar ali.

Talvez merecessem até, já que há um bom tempo que a epígrafe “Indicado ao Oscar” não vale mais muita coisa. E talvez tenha deixado de valer justamente quando pararam de existir os injustiçados. Primeiro (em 2009), quando a Academia resolveu voltar aos “velhos tempos” e indicar dez filmes ao invés dos cinco que vinham sendo prestigiados, e na sequencia (2011), quando esse número simplesmente se tornou móvel, entre cinco e dez.

Só a título de curiosidade, a primeira cerimônia do Oscar a indicar cinco “melhores filmes” foi em 1945, antes disso foram 16 premiações onde tiveram três, cinco, oito, dez, e até anos em que chegaram a 11 e 12. Com isso em mente, é bom lembrar que a fórmula com cinco indicados foi um sucesso que durou muito (mas muito!) mais do que qualquer outra. Mas mesmo assim não com força o suficiente para enfrentar os interesses mercadológicos. Mas isso talvez seja uma conversa para um outro momento, já que dinheiro não parece ser o problema em 2015.

O problema esse ano parece ser uma incrível inabilidade na hora de juntar os indicados a Melhor Filme. Dos oito indicados (graças àquela fórmula complicada) é impensável que metade deles possa estar lá. Em “bons tempos” esse ano teríamos uma incrível disputa entre três grandes filmes, um azarão e um correndo por fora sem muitas chances. Nesse mundo perfeito ainda teríamos um punhado de injustiçados, onde três desses, no caso de 2015, acabam se erguendo a um pedestal que não merecem.

E o Oscar vai para... Birdman

Birdman, Boyhood e Grande Hotel Budapeste são obras-primas indiscutíveis. O primeiro e o segundo tratando o tempo cada um a seu modo e distorcendo isso diante das certezas dos espectadores. O terceiro levando para a tela uma mistúra lúdica de narrativa fantástica, com uma melancolia que é a assinatura do diretor Wes Anderson. Uma quarta vaga talvez ficasse com Selma e toda sua militância, já que o “pequeno entre os grandes” teria que ser o obrigatório Whiplash.

Daqui a alguns anos os cinéfilos do mundo inteiro então diriam: “Nossa, como esse ano deve ter sido bom para quem gosta de cinema”, assim como um monte de outras premiações que celebraram o bom cinema, e não o meia-boca.

Sim, A Teoria de Tudo e O Jogo da Imitação são meia-bocas. Ambos tem história incrivelmente marcantes e reais, com protagonistas mais incríveis ainda e um estopo histórico que os torna obrigatórios, mas sobre tudo isso são tentativas medianas de um cinema muito maior. Já Sniper Americano é uma panfletagem descontroladamente armamentista temperada com uma patriotada tão sútil quanto um elefante em uma loja de cristais.

Mas ainda assim, os três são filmes acima da média em termos de produção, direção e (principalmente) elenco, principalmente se compararmos com a enorme maioria que chega por ai nos grandes circuitos. O assustador (e preocupante) é que para esses três estarem nesse lugar na noite do dia 22 de fevereiro é que eles foram votados por um número expressivo de “acadêmicos” como o “filme número um” do ano.

Explicando em poucas palavras e fugindo daquela regra matematicamente maluco, para que o filme entre nela, antes de qualquer coisa ele tem que ser votado por um número bem alto de votantes na primeira posição (um chute colocaria mais de 300 votos só para o menos votado). Isso quer dizer que não foram poucas as cédulas que constavam qualquer um desses três filmes na primeira posição de uma lista de dez filmes. Em ainda outras palavras, há muita gente votando para o Oscar que acha O Jogo da Imitação um melhor filme que Birdman.

E não estamos falando de filmes preferidos, mas sim de um filme melhor. E é impensável achar que por algum segundo sequer alguém que entenda minimamente de cinema coloque (por exemplo) esse dois filmes lado a lado e ache que O Jogo da Imitação merece ser escolhido como melhor filme de 2014 diante da existência de Birdman.

E o Oscar vai para... Sniper Americano

É lógico que isso soa pedante, mas em uma premiação onde se escolhe os melhores filmes, atores, diretor etc., sem a pedância e um grau satisfatório de discernimento o que sobraria seria um jantar entre amigos onde todos levariam uma estatueta para casa.

Mas também é ai que talvez esteja o erro, na falta de discernimento. Nem todos os votantes se interessaram por ver um filme em um plano só sobre o antigo Batman querendo virar ator de teatro, e talvez um número menor ainda tenha se abalado a ir ao cinema ver um filme onde não acontece muita coisa, mas que foi filmado durante mais de uma década. Por outro lado, talvez tenham ido no final de semana da estreia ver Bradley Cooper explodir as cabeças de alguns terroristas, e eles tem todo o direito do mundo de acharem que Sniper Americano é o melhor filme que viram no ano, mas vai então da Academia pensar em um esquema que não permita que essa grande cerimônia se torne uma noite de cartas marcadas.

Não existe possibilidade no universo que faça o Oscar de Melhor filme ir para A Teoria de Tudo, O Jogo da Imitação e Sniper Americano”, então para que eles estão lá? É lógico que a resposta mais fácil e óbvia é dinheiro, mas será que chegarem ao Oscar tão sem chance alguma é alguma vantagem?

Selma e Whiplash chegariam com a mesma ausência de possibilidade, mas fariam disso um feito que imprimiriam em seus cartazes e, muito provavelmente, fariam com que fossem vistos muito mais do que foram. Chegariam ali por suas qualidades, e não por terem vagas sobrando nesse ônibus. “Grande Hotel Budapeste” tampouco seria premiado, mas toda sua esquisitice passa por saber que estar entre os cinco já bastaria como prêmio. Mas a grande verdade é que se nem Birdman ou Boyhood ao final da noite levassem o troféu para casa, qualquer um desses três cuidaria muito bem dele.

PS: É lógico que existe a possibilidade de A Teoria de Tudo, O Jogo da Imitação e Sniper Americano saírem vencedores… mentira, isso não é uma “mea culpa” e, nenhum dos três têm chance alguma de acorda na segunda-feira com a estatueta de Melhor Filme.

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