Editorial – Masoquismo Crítico Cinematográfico

Se existe alguma coisa difícil de entender é a função do crítico de cinema. Talvez até dos críticos em geral, mas o do cinematográfico é algo para se pesquisar… fazer mestrado, PHD, ganhar o Nobel e ainda assim ter dúvidas.

E o problema nem é nosso (falando como crítico de cinema…), mas sim de uma sociedade que vive uma eterna relação de amor e ódio com essa que é uma das mais antigas profissões do mundo (com certeza muito mais antiga que a de prostituta… ). E isso só piora quando o assunto é cinema.

Das nove artes, o cinema (vulga a sétima) é a única que tem suas raízes, evolução, desenvolvimento e marcos há pouco mais de cem anos, período extremamente jovem haja vista todas as outras. Pior ainda, o cinema não tem como objetivo um público restrito, letrado, treinado ou acostumado, o cinema é a mais popular das artes. E criticar algo que, absolutamente qualquer pessoa do mundo tem contato, opinião e relação, é algo que beira alguma espécie de masoquismo.

Cada pessoa da face da terra tem “um crítico de cinema que odeia”. Duvido que alguma tenha um “cobrador de ônibus que odeia”, ou um “vendedor de pipoca na lista negra”, como se ninguém tivesse o direito de criticar aquele filme sobre um monte de robôs que querem destruir a lua por que “você” acha aquilo tudo legal. Pois é, não é legal e “você” sabe disso, na verdade até concorda com tudo que alguém escreveu (falou no rádio, na TV ou internet), mas se sente incomodado por ter gostado e se divertido com algo tão ruim. Então por que não achincalhar o coitado do mensageiro, se os romanos faziam isso, por que não continuar a tradição, não é?

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E falando em internet tudo fica ainda mais legal, já que o número de pessoas dando suas opiniões sobre esse ou aquele filme aumentou, aumentou, depois aumentou mais um pouco e logo transbordou para fora do copo. O público então ganhou a oportunidade de, ao invés de odiar um crítico de cinema, odiar absolutamente todos, mesmo que quem eles queiram odiar não sejam os masoquistas por profissão, mas sim um monte de dedos despreparados que teclam frases, palavras e opiniões sem o mínimo de responsabilidade e, tampouco, preocupação com o leitor.

Isso mesmo, pior do que adorar ser “lembrado” como incompetente, analfabeto, idiota e mais um monte de outros “carinhos” nos comentários de nossas críticas (e e-mails), nos ainda estamos preocupados com vocês leitores, por mais que eu duvide que isso vá fazer algum de vocês (esses meus leitores queridos que adoram me xingar) sentir qualquer tipo de remorso. Portanto, não acredite em quem só dá sua opinião. Não acredite naquele texto que você acaba de ler e percebe que não “ganhou” nada em termos de visão de cinema nem mudou alguma coisa daquilo que você viu no filme que está sendo discutido.

Você não acreditaria no médico que visse seu Raio-X e te falasse “iiiichi, não gostei desse pontinho preto aqui não” e te mandasse embora. Na verdade você nem o chamaria de médico, então por que chamar aquele rapaz cheio de “boas intenções” que perde um parágrafo para falar que o filme é ruim, três para contar a história (com todos os nomes dos personagens, e até algumas reviravoltas) e mais uma para repetir o primeiro com outras palavras, de crítico de cinema. Esse rapaz é apenas um cara que quer dar sua opinião, carente, que quer demonstrar para você que saiu do cinema e ainda lembra o nome de todos os personagens e prestou atenção o suficiente para contar todo filme para você. Muita gente até, de modo simpático, coloca nosso amigo dentro da casta dos resenhistas, ainda que eu prefira achar que ele é um cara que apenas sabe exercer sua liberdade de expressão.

E não, não é por que ele coloca uma nota/estrela/pontuação/”joinha” ao lado de seu texto que ele vira um crítico.
Mas enfim, tudo isso para lembrar que se é tão difícil entender a função do crítico de cinema na sociedade, é mais difícil ainda entender por que raios um cara que está lá quieto inventa de dar sua opinião sem qualquer tipo de embasamento diante da enorme facilidade de material que a internet dispõe para ser estudado.

Entretanto, bem verdade eu comecei o texto tentando entender a profissão, passei a enxergar alguns problemas da humanidade e acabei esculhambando um monte de “blogueiros de cinema” da internet. Mas paciência, resolvi só entender de cinema, o resto é digressão (ou vice-versa).

*para o texto valer a pena, aqui vai um punhado de tirinhas.

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