Editorial de segunda #06

Também conhecido como: Meu Dia de Fúria com o Sr. Jabor

por Vinicius Carlos Vieira em 09 de Novembro de 2010

*aqui minha crítica do “A Suprema Felicidade” e a coluna do Sr. Jabor deve ser facilmente achada pela internet, pode perguntar para o google.

Talvez uma das coisas que eu mais respeite na vida sejam as opiniões alheias, não que eu concorde com elas e muito menos não seja teimoso o suficiente para tentar mostrar que elas estão erradas, mas ainda assim, só entro em uma “briga” se for com material suficiente para fazer a diferença, senão abaixo a cabeça e escuto o outro lado, pois, provavelmente eu aprenda um pouco com ele. É justamente por isso que eu procuro ter cuidado com tudo que eu digito, corrijo e coloco no ar, do mesmo jeito que cobro, mesmo sozinho, que todos façam o mesmo. Principalmente aqueles que têm muito mais visibilidade que eu.

Diante disso, permito-me sentir totalmente decepcionado com as palavras do ex-cineasta Arnaldo Jabor em sua coluna dessa terça-feira no jornal Estado de São Paulo. Ex, por que seria inimaginável que alguém que ainda se considere cineasta perca tanto a linha diante de um fracasso descabido como esse seu retorno às telas.

Durante quase vinte anos, o Sr. Jabor foi um dos cineastas que participaram de uma época áurea do cinema nacional, um tempo inquieto que sobrevivia mesmo tentando sempre ser acachapado por uma ditadura militar. De lá para cá o diretor se tornou, mais que qualquer coisa, um defensor da liberdade de expressão e um interlocutor polêmico das agruras da sociedade. Resumidamente, um formador de opinião, uma pessoa que sabe o quanto é importante um olhar abalizada sobre um assunto, muito mais que apenas para criticar, mas sim para dar a esse público uma nova visão para encarar esse ou aquele assunto. Pelo menos era o que eu pensava.

Sua coluna totalmente revoltada, entre outras palavras, ofende seu próprio público, já que entende que as palmas de seus espectadores são mais importantes do que a aceitação da crítica especializada, a aceitação daqueles que analisam e olham para o cinema com conhecimento de causa e que conseguiram enxergar os defeitos de sua frágil volta aos cinemas. Não que o público não importe, mas para um cineasta tão pouco preocupado com cifras, e tão crítico de blockbusters, apoiar o seu filme como acerto por números de bilheteria é tão furado quanto a linha narrativa de seu filme.

Seu incômodo por ser “criticado” embaçou sua visão de jeito tão pedante, que não o deixou perceber que, como ele mesmo citou, somente as análises do próprio Estado de São Paulo e de O Globo olhavam a situação a seu favor. Coincidentemente duas empresas que o tem como empregado.

Essa cegueira ficou pior ainda ao permiti-lo agredir, de modo até pessoal, companheiros de profissão, diminuindo suas importâncias como críticos e, praticamente, como qualquer outra coisa que resolvam ser ou foram. Uma atitude extremamente baixa e sem razão de ser que, penso eu, tenha sido levada única e exclusivamente pelo amargo gosto do próprio veneno, destilado sempre por suas palavras. Um cara conhecido por suas opiniões fortes e sem papas na língua, que há anos vem fazendo disso sua marca registrada, mas que não consegue conviver quando a alvo é ele mesmo.

Mas voltando ao assunto que me concerne, cinema, o problema de uma acusação irresponsável como a do Sr. Jabor é o de prejudicar mais ainda uma profissão que a cada dia sofre mais. Se já não bastasse o mundo inteiro olhando para os críticos de cinema como simples chatos preocupados apenas em contrariar o público, um formador de opinião, com um alcance tão grande quando o Sr. Jabor, só coloca mais lenha em uma fogueira que na precisa queimar. Do mesmo jeito que, falando por mim, nunca fui a público gritar contras os absurdos de seus quadros de TV reacionários, por mais que eu os veja como verborragias idiotas. Sempre admirei o conteúdo de suas palavras e a força com que defende suas idéias, mas talvez nunca tenha percebido o limite dessas mesmas.

O pior disso é colocar em pauta os números de bilheteria a favor da qualidade de seu filme em contrapartida a opinião dos críticos, o que então corroboraria com enormes sucessos de público como “Transformers”, um estouro de bilheteria mais um desastre de crítica, embora pensando assim, sua opinião acabe se tornando válida, já que compartilharia então da mesma situação, por mais que seus números não cheguem nem perto dos robôs gigantes. Pior ainda, para um mercado brasileiro, seu lucro fica mais aquém ainda do sucesso de “Tropa de Elite”, que, pela sua relação deturpada entre público e crítica, faria do filme de José Padilha um desastre, já que a opinião especializada faz questão de chamar a atenção para suas qualidades. Ficou complicado? É simples: de acordo com o Sr. Jabor, se a crítica falar mal, o filme só é bom ou ruim se o público comparecer, porém, quem falar (criticar) bem, provavelmente deve estar cego, vendido ou equivocado caso o filme não estoure a boca do balão.

Entre suas armas, o Sr. Jabor fala a favor do boca-a-boca que aumentou seu público, o que demonstra apenas que o público vem comparecendo às sessões, mas não que a crítica esteja errada por não ter gostado do que viu. É preciso lembrá-lo que esse mesmo público de seu “boca-a-boca” encheu os cofres de dinheiro do prepotente “Nosso Lar” e do desastroso “Se Eu Fosse Você 2”, isso se levado em conta apenas filmes nacionais, já que esse “telefone sem fio” faz mais estrago ainda quando Hollywood entre em cena.

Isso não diminui esse público, nem nenhum, só mostra que a coisa mais fácil do mundo para um cineasta habilidoso é fazer seu filme passar despercebido mesmo cheio de equívocos, “A Suprema Felicidade” é um exercício de melancolia e amor por uma época, mas não faz isso por meio de uma trama interessante, é cansativo, repetitivo e sem alma, e Jabor percebeu tanto isso que usou e abusou da presença carismática de Marco Naninni, ou de (por mais batido que possa parecer) um bom punhado de nudez, “que não deve ser castigada” (não podia perder o trocadilho), e se afundou por trás de uma direção de arte competente, tudo isso para impedir que o público perceba o quanto essa “suprema felicidade” não existe, é apenas uma sombra, um sopro que acompanha essa manipulação toda. O Sr. Jabor sabia o que tinha em mãos e resolveu tomar o caminho mais curto em direção às cifras, ao invés de fazer um filme competente e emocionante. Um fator que eu não tinha percebido até ler hoje, em sua coluna, que os números de seu público são suficientes para ele enxergar seu filme como um sucesso.

O que o Sr. Jabor pode não perceber, ou não saber até, é que é essa crítica de cinema, que tanto maltrata os sucessos de bilheteria, tem apenas a vontade de elevar o nível do público e fazê-los correr atrás de um cinema melhor, mas instigante, que não os enganem com subterfúgios rasos, criando ainda uma onda que tenha força suficiente para, pelo menos, molhar o pé dos diretores com o Sr. Jabor, sentados em suas cadeiras apontando para onde seus diretores de fotografia devem posicionar suas câmeras ou onde seus atores devem se posicionar, no alto de seus sets, em suas “cadeiras de diretores com seu nome no encosto”, intocáveis, onde nenhuma crítica às suas “obras de artes” possam os atingir.

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