Depois da Terra | Deve ser duro ser o M. Night Shyamalan

O indiano M. Night Shyamalan estreou no cinema dirigindo Rosie O´Donnel na comédia Olhos Abertos, mas um ano depois colocou seu nome na história da sétima arte com O Sexto Sentido, elevando o nível tão ao alto que de lá para cá foi uma derrocada só, até ser contratado por Will Smith para fazer Depois da Terra e, muito provavelmente, encontrar o fundo do poço. Deve ser duro ser o M. Night Shyamalan.

E não que Depois da Terra seja pior que Fim dos Tempos, ainda que os dois tenham em comum uma monotonia enorme, mas sim por ser, provavelmente, o momento em que o indiano simplesmente dá adeus a qualquer pretensão de voltar àquela carreira celebrada de mais ou menos uma década atrás. Pela primeira vez Shyamalan tanto não aparece sozinho nos créditos de roteiro quanto tem seu nome escondido no cartaz oficial.

Resumindo, o diretor estreia como um diretor medíocre qualquer, coisa que estava ensaiando há alguns anos.

E isso se reflete no entediante ritmo do filme que, mais do que qualquer coisa, soa como uma ferramenta para forçar mais ainda a presença de Jaden, filho de Will Smith, como jovem herói de ação de Hollywood, o que torna toda experiência mais artificial ainda. Mais artificial ainda que o filme, e olha que isso poderia ser bem difícil.

Nele, em um futuro distante a humanidade acaba “fugindo” da Terra quando ela se tornou impossível de viver. Entre trancos e Barrancos todos então foram viver em um planeta avermelhado qualquer enquanto substituíam as paredes das casas por panos de lycra bem esticados (o que deve ter sido um alívio para os custos da Direção de Arte). Mas lógico que tudo isso tem um inimigo, e nesse caso é uma espécie de alienígena que não deve ter muito importância, mas que criaram um monstro cego que parece ser a única coisa que dá medo em humanos, e, justamente fareja o medo para conseguir atacar suas presas.

E é, justamente, esse medo um dos pontos principais do filme, não o medo de quem entrou no cinema lembrando ainda das últimas tentativa de Shyamalan de fazer um filme, mas sim o próprio sentimento, já que Smith (pai) é um soldado imbatível, o primeiro de uma série de “fantasmas”, pessoal que, simplesmente, não tem medo (e consequentemente não libera os feromônios etc.).

Mas a linha narrativa que faz jus ao título passa por uma viagem em que pai e filho acabam caindo em um planeta inóspito e o jovem acaba tendo que percorrer um caminho cheio de perigos para encontrar um sinalizador que ficou na parte de trás da nave destruída. Sim, e dentro dessa nave também tinha um desses monstros que capta o medo. O tal planeta é a própria Terra, mas podia ser qualquer um, o que talvez seja o ponto mais decepcionante do filme.

Depois da Terra

Durante todo tempo em que se embrenha por essas florestas genéricas o jovem personagem não vê quase sinal de que aquilo possa ser o “planeta água” da canção do Guilherme Arantes, e quando o faz é com algumas versões genéricas de um punhado de bichos (um macaco qualquer, uma águia anabolizada, um tigre cheio de pelos, um simples porco e uma espécie de búfalo verde). E por mais que de um lado Depois da Terra capriche em um monte de bugigangas futurísticas que ajudam a passar o tempo, cheio de luzinhas e surpresas (assim como efeitos especiais excepcionais), falha ao explorar, justamente, o lugar que poderia ser a principal estrela do filme.

E falando em estrela, a outra falha irritante do filme não diz respeito à incapacidade de Jaden de empregar qualquer sentimento crível ao personagem, mas a um roteiro que traça um plano que precisa ser tão implacável que é impossível se identificar com o protagonista, já que fica difícil acreditar que qualquer coisa possa dar errado e ainda assim chegar ao final (coisa que finge acontecer, mas é contornada de modo simplista e corrido). Pior ainda, tenta fazer isso servir de desculpa para um pequeno conflito existencial entre pai e filho, o que, como todo resto soa artificial, nesse caso graças a uma série de diálogos ruins e pouquíssimos inspirados.

O ruim disso tudo acaba sendo que tanto um punhado de sequências de ação divertidas quanto uma atuação interessante de Will Smith acabam eclipsadas por tamanho desastre, principalmente de um mais irreconhecível ainda M. Night Shyamalan, com um trabalho sem o mínimo significado estético e menos vontade ainda de se sobressair sobre nada que esteja além de um monte de planos genéricos.

Como se o diretor tivesse cansado de tentar ser aquele mesmo cara cheio de estilo que até lhe permitiu fazer seu nome ser reconhecido como uma grife por um tempo. Como se ele não se importasse mais em ser apenas sincero naquilo que se propões, ainda que se proponha a algo tão frágil e descartável. Deve mesmo ser duro ser M. Night Shyamalan.


After Earth, escrito por Will Smith, Gary Whitta e M. Night Shyamalan, dirigido por M. Night Shyamala, com Jaden Smith, Will Smith e Sophie Okonedo


Trailer do filme – Depois da Terra

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