Deadpool 2 Filme

Deadpool 2 | Mais divertido, mais dinâmico e mais ambicioso, mas…

Em 2016, o primeiro longa-metragem solo de Deadpool tornou-se um enorme sucesso de público e de crítica, um tanto inesperadamente. Assim, é claro, Deadpool 2 surge com um orçamento claramente mais recheado. A boa notícia para os fãs é que o senso de humor e a personalidade do filme e de seu protagonista permanecem as mesmas; a boa notícia para quem não curtiu tanto assim o original (como eu) é que este é mais divertido, mais dinâmico e um pouco mais ambicioso em termos de estrutura. O problema é que, em meio a todas as piadinhas sobre o subgênero dos filmes de super-heróis, Deadpool & Cia. insistem em soluções ridiculamente pouco imaginativas para diversos de seus problemas.

Depois que Deadpool estabeleceu-se como o primeiro filme da Marvel a exibir a classificação de “proibido para menores” nos Estados Unidos, Logan foi ainda mais longe ao mostrar o personagem-título (spoiler alert?) sacrificando-se no final do filme. Agora, depois de uma tragédia pessoal, Wade Wilson (Ryan Reynolds) acredita que essa é a solução perfeita para ele também. Mas é claro que a explosão na cena de abertura do longa não vai mesmo matar o protagonista, não é? Entretanto, antes de descobrir como Wade vai sair dessa, a trama reconta as últimas seis semanas para mostrar como ele chegou até aquele ponto.

Após uma dinâmica sequência ilustrando a carreira internacional do mercenário “herói”, nos deparamos com o primeiro (e gigantesco) clichê de Deadpool 2. Enquanto comemoram seu aniversário de namoro, Vanessa (Morena Baccarin) declara ao amado que está pronta para começar uma família com ele. Os dois falam sobre a importância da família, ela proclama que crianças são uma chance de sermos pessoas melhores do que somos, eles brincam sobre possíveis nomes para o futuro bebê e… Se você já viu qualquer filme na vida, já adivinhou o que vem a seguir.

Sério, Deadpool 2? A dupla de roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick, que assinaram o primeiro filme e que aqui ganham a companhia do próprio Reynolds, não conseguiram aproveitar a irreverência que a produção permite e ter uma ideia mais criativa? Os créditos iniciais, com direito a uma canção original de Céline Dion e a referências às aberturas dos filmes de James Bond, são divertidíssimos, mas cometem o erro absurdo de achar que o que acabamos de ver foi algo totalmente inesperado e ousado.

A partir daí, as circunstâncias levam Wade a deparar-se com Russell (Julian Dennison), um garoto de 13 anos que acaba de causar um incêndio no orfanato para mutantes em que mora. Quando Wade e Russell são levados para uma prisão especialmente desenvolvida para deter criminosos com poderes, o protagonista descobre que o ameaçador Cable (Josh Brolin) veio do futuro para matar Russell.

Disposto a proteger o garoto, Deadpool inspira-se nos X-Men e cria o seu próprio time de mutantes de terceira categoria, a X-Force, à qual juntam-se Domino (Zazie Beetz), que é muito sortuda, Zeitgeist (Bill Skarsgård), que cospe ácido, Shatterstar (Lewis Tan), um alienígena capaz de “fazer qualquer coisa melhor do que os humanos”), Bedlam (Terry Crews), que consegue manipular ondas elétricas, e Peter (Rob Delaney), um cara comum que achou que seria divertido participar da seleção (Além, é claro, de Vanisher… mas esse, você praticamente não irá ver).

O grupo parte para sua missão em um helicóptero, e a aventura termina de uma forma verdadeiramente hilária naquele que é um dos poucos momentos verdadeiramente únicos em Deadpool 2 ou no longa original. Afinal, tratando-se de um filme que pode basicamente fazer o que quiser, já que orgulha-se por (supostamente) não seguir as mesmas convenções de seus “primos”, Deadpool adora abraçá-las.

Muitas vezes, é claro, isso é feito com altíssimas doses de ironia, o que nem sempre serve como desculpa (o fato de Wade saber que são convenções rende uma piada, mas não apaga o fato de que convenções foram seguidas). Cable é o personagem que mais sofre nesse sentido — inicialmente visto como uma cópia barata de um Exterminador do Futuro, ele vai mostrando suas verdadeiras intenções com o passar do tempo, fazendo com que torne-se um personagem mais complexo do que parecia.

Há uma piadinha rápida (e, por isso, eficiente!) com o fato de que Brolin também encarnar Thanos em Vingadores: Guerra Infinita, como não poderia deixar de haver, mas também um comentário mais do que óbvio sobre ele ser um personagem “sombrio” e que, por isso, parece “pertencer ao Universo da DC”. Além disso, Deadpool 2 insiste em repetir um de seus maiores problemas na hora de estabelecer o catalisador dos planos de Cable. Mais divertida é a explicação quanto às regras de seu aparelho para voltar no tempo, que convenientemente movem a trama na direção que os roteiristas querem seguir — “roteiristas preguiçosos”, declara Wade — ou quando Deadpool diz para seu time que, se o plano dele der certo, todo mundo pode ir para casa mais cedo, pois o filme não precisará de um terceiro ato.

Deadpool 2 Crítica

A insistência, porém, é um dos fatores que mais atrapalha o humor de Deadpool 2. A jovem mutante Yoiki (Shioli Kutsuna), namorada de Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand) é reduzida ao estereótipo da “asiática fofinha e infantilizada”, com suas roupas megafemininas, seu cabelo colorido, os gestos delicados e a forma com que Wade reage a ele toda vez. Enquanto isso, as piadinhas que referenciam os funcionários do orfanato como pedófilos perdem qualquer impacto depois de repetidas inúmeras vezes, enquanto as menções diretas ao que Russell deve sofrer na prisão atingem um nível de mau gosto que o longa não possui na maior parte do tempo.

De qualquer forma, o garotinho (que já havia se destacado como protagonista do excelente Hunt for the Wilderpeople) retrata com talento os enormes conflitos de Russell, que percorre um arco dramático complexo e tocante. Um dos pontos altos do filme, aliás, é quando Deadpool percebe o quanto Russell sofreu no orfanato e, por isso, decide protegê-lo.

Assim como seu antecessor, Deadpool 2 é capaz de momentos de alta carga emocional, que possuem um peso verdadeiro para a trama e para os personagens. Reynolds sai-se bem neles, ainda que mostre-se mais confortável ao disparar diálogos rápidos e ao demonstrar tanto as habilidades quanto a personalidade de Deadpool por meio de sua fisicalidade.

As dinâmicas entre Deadpool e a maior parte dos demais funciona muito bem, especialmente aquelas centrais para a trama: ele e Cable desenvolvem uma relação de amor e ódio, enquanto Wade precisa esforçar-se cada vez mais para que Russell confie nele. Domino forma uma dupla interessante com Deadpool por ter um humor mais seco e cínico do que o dele — a insistência dele de que boa sorte não é um superpoder e que, mesmo se fosse, não seria nada cinemático é divertida, especialmente quando Domino tem um verdadeiro momento “Cool Guys Don’t Look at Explosions”.

E ainda falando nisso, Beetz e o diretor David Leitch exploram muito bem o curioso poder de Domino, mas é uma pena que ela seja a única personagem feminina no longa a ser tratada de uma maneira digna de sua complexidade. E por falar em David Leitch, depois de co-dirigir De Volta ao Jogo e Atômica, ele já se estabeleceu como um nome no qual podemos confiar para entregar excelentes sequências de ação. Aqui, as lutas ganham uma energia e um dinamismo que faltavam no primeiro filme, e Leitch, em alguns momentos, também traz as luzes neon que já se tornaram sua marca registrada.

Com direito a uma cena pós-créditos ineficaz em termos narrativos e que alfineta Guerra Infinita, Deadpool 2 estabelece-se como uma sequência bastante superior à original, ainda que isso não queira dizer grande coisa. Aqui, ao menos, há momentos verdadeiramente divertidos e até mesmo um ou outro acontecimento dotado da originalidade e da irreverência que, no restante do tempo, Deadpool apenas acredita possuir.

Entretanto, apesar de tudo o que funciona bem (ou até mesmo muito bem), o fato é que o longa possui um senso de humor repetitivo e deslumbrado com a possibilidade de falar de sexo ou de disparar palavrões, além de recusar-se a abandonar algumas convenções mais do que batidas. Para um filme que sabe tão bem o que quer fazer, falta entender que o como fazer não é tão simples.


“Deadpool 2” (EUA, 2018), escrito por Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds, dirigido por David Leitch, com Ryan Reynolds, Julian Dennison, Zazie Beetz, Josh Brolin, Morena Baccarin, Stefan Kapicic (voz), Brianna Hildebrand, Karan Soni, Bill Skarsgård, Terry Crews, Lewis Tan, Rob Delaney, Leslie Uggams e T.J. Miller.


Trailer – Deadpool 2

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