Robin Hood Filme

Robin Hood | Um “begins” qualquer

Ridley Scott já foi um dos cineastas mais celebrados de Hollywood, hoje, parece preso em um lugar meio sem vida, cercado por produções milionárias que quase sempre afundam em suas próprias cifras. Seu Robin Hood é exatamente isso: um resultado pobre de duzentos milhões de dólares.

Pobre tanto por uma direção sem emoção, da parte de Scott, que se resume a apenas apontar suas lentes para a ação, quanto por uma história desinteressante e lenta que pouco acrescenta a lenda que precede o personagem. Bem verdade Scott não falha em criar um mundo, em parceria com uma direção de arte sensacional, mas esquece de contar uma história contagiante.

Nela, o herói, agora vivido por Russel Crowe, que não consegue ter o charme do personagem e cria um Robin austero demais e sem emoção, tem que salvar toda Inglaterra de uma suposta invasão francesa antes mesmo de se embrenhar nas florestas de Sherwood. Um Robin Hood “begins” demais para todos aqueles que entram no cinema à procura daquele personagem que já ganhou o consciente coletivo.

E, ao mesmo tempo em que um roteiro extremamente bem escrito costura e abraça toda a trama com propriedade, fazendo com a que a história flua perfeitamente, mesmo cheia de nuances, detalhes e personagens, ele mesmo escorrega ao se preocupar demais em explicar a lenda e trazê-la para o mundo real, contextualizando demais tudo a sua volta. Você dá de cara com uma briga pelo trono britânico, que, indiretamente, provoca a troca de um sobrenome (o Loxley ), que leva a uma traição, a uma invasão e a uma cobrança exorbitante de impostos. Uma impressão de que a história está ali, esperando para ser contada, mas sempre impedida por um distanciamento da lenda em si.

Por um relance de filme, Scott mostra o que seria seu Robin Hood, quando o herói e seus companheiros (leia-se os famoso frei Tuck, João Pequeno e Will Scarlet) roubam dos ricos para devolverem aos pobres na calada da noite, mas somente uma fatia de um bolo muito maior que não parece dar a mínima diante da mítica da história. E não espere a presença vilanesca do mais que famoso Xerife de Nottinham, já que esse se resume a exatas quatro aparições mais que apagadas e sem importância. Sai um dos vilões mais icônicos da cultura ocidental entra um tal de Godfrey, sádico traidor vivido por Mark Strong (que vem se especializando em vilões mais e mais a cada filme).

Mas são justamente esses personagens que mais prejudicam o próprio Crowe, já que perto deles seu Robin Hood tem muito menos espaço para ser explorado. Sem aquela personalidade “arqueira-galanteadora-ousada” o que sobre é alguém pouco dinâmico, meio amargurado até, enquanto todo resto pode se esbaldar em seus estereótipos. Em certo momento Robin conquista um exercito inteiro com um arroubo de palavras, muito mais como um líder sindical do que como aquele anti-herói por excelência.

Robin Hood não nega ser um filme de aventura, com um monte de sequências de batalhas com espadas, cavalos e nuvens de flechas, sempre com uma trilha épica ecoando pela sala de cinema, mas parece perder o sentido ao não beber na própria lenda, coisa que o filme de 1991, estrelado por Kevin Costner, faz inegavelmente melhor, assim como em todos outros sentidos (já que não vai tão mais longe dessa mesma história, mas escolhe melhor o tom que dá a toda trama).

O que Ridley Scott faz, é criar saudade da disputa com João Pequeno sobre o rio, do concurso de tiro ao alvo e até daquele Robin Hood cafajeste vestido de verde, e ainda que acabe seu filme com um “assim começa a lenda” e uma flecha em um cartaz de procura-se, com tudo isso, o diretor só consegue mesmo é deixar a Floresta de Sherwood um pouco mais triste.


Robin Hood (EUA, 2010) escrito por Brian Hegeland a partir de uma história dele em parceria com Ethan Reiff e Cyrus Voris, dirigido por Ridley Scott, com Russel Crowe, Cate Blanchet, Max Von Sydow, Willian Hurt, Oscar Isaac, Danny Huston, Mark Addy, Kevin Durand e Scott Grimes


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