O Pior Trabalho do Mundo

Principalmente em Hollywood, o cinema é feito de experiências que deram certo. Surgir do nada, apenas por seu talento, sem um nome forte pelas costas comprando suas idéias é praticamente impossível, e Judd Apatow é um desses nomes. E é provavelmente só por isso que O Pior Trabalho do Mundo conseguiu ser feito.

Para quem não ligou o nome à pessoa, Apatow é o cara que escreveu e dirigiu sucessos como Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos, entre esses dois viu justamente seu roteiro de As Aventuras de Dick & Jane ser filmado, texto esse que foi escrito em parceria com Nichollas Stoller, diretor de O Pior Trabalho do Mundo. Mas isso faz dele apenas um cara no momento e lugar certos? Não, isso faz dele um cara com cacife para entrar em uma mesa de jogo onde as apostas são bem grandes.

É lógico que Apatow não está onde está por não saber fazer suas apostas, e Stoller foi umas dessas que deu certo. Seu primeiro filme, Ressaca de Amor é engraçado, fez um certo sucesso nas bilheterias (por aqui foi direto para as locadoras) e o possibilitou dar esse segundo passo. Na verdade uma “quase continuação” de seu outro filme.

Aqui, a história gira em torno de um funcionário de uma gravadora (Jonah Hill) que tem que ir até a Inglaterra buscar o roqueiro decadente, Aldus Snow (Russel Brand repetindo o papel de Ressaca de Amor, está ai a ligação), para um show de retorno em Los Angeles. É lógico que essas 72h entre Londres e Los Angeles vão se tornar um tormento para o personagem de Hill, que tem que fazer de tudo para que o astro chegue ao show.

O problema de Stoller talvez nem seja incompetência em criar uma comédia, já que durante a primeira metade do filme não faltarão risos, é o que vem depois disso que fará muito gente acabar o filme chateado por ficar tempo demais vendo uma segunda metade desesperada por aprofundar seus personagens, dar desculpas para seus conflitos e perder bastante do tom caótico de seu início. Pode parecer clichê, mas O Pior Trabalho do Mundo, só funciona a base de sexo, droga e rock´n roll.

Enquanto Snow parece despreocupado com qualquer coisa, fazendo de sua vida uma festa sem hora para parar e dando ao seu novo amigo passe livre para esse mundo, mesmo que ele faça de tudo para controlar o músico, o filme funciona sem problemas, e até aponta para uma dinâmica entre personagens em uma comédia de viagem, caótica, cheia de loucura, onde um deles tentar controlar a situação e outro se levar por ela. O tropeço acontece exatamente por uma aparente obrigação de olhar para tudo aquilo e dar uma explicação, que se perde em personagens depressivos, um ménage a trois narrativamente desconfortável e um lado sujo do showbizz que não combinam com a idéia inicial do filme.

Com se Stoller começasse o filme lhe prometendo uma comédia sobre dois caras que precisam conviver e no final acabam descobrindo que podem crescer cada um olhando seus problemas diante do outro e, de uma hora para outra, tirasse a comédia da equação.

A dupla de protagonistas até acerta no tom e o roteiro tem algumas boas tiradas, principalmente com as letras das canções que brincam com a possibilidade de se poder fazer música com qualquer assunto que seja (por mais nojento ou idiota), e enquanto deixa uma veia cínica e verborrágica darem as caras, acerta em cheio. Infelizmente só não percebe isso e cai de tal maneira em seu ritmo que em certos momentos apela até para uma trilha de piano ao fundo de cenas de reconciliação.

No final das contas, “O Pior Trabalho do Mundo” até deve agradar algumas pessoas, com um ou outro riso pontua, mas com certeza até elas vão acabar o filme procurando onde foi parar aquele começo divertido.


Get Him to the Greek (EUA, 2010), escrito e dirigido por Nicholas Stoller, com Russel Brand, Jonah Hill, Elisabeth Moss e Sean Combs.


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