O Legado Bourne

O cartaz do novo O Legado Bourne lembra que nunca houve apenas um, e por mais que isso fosse óbvio, já que o próprio Bourne dá conta de uma meia dúzia de outros agentes, a ideia de continuar a franquia sem o próprio personagem não deixa de ser inusitada. O problema é que, provavelmente, ninguém está interessado em saber a história, justamente, desse “novo Bourne”.

Esse legado agora é de Aaron Cross (um Jeremy Renner presunçoso o suficiente de achar que iria emplacar três franquias milionárias, Missão Impossível, Os Vingadores e agora a Bourne, sem escorregar em nenhuma delas) um agente de uma outra divisão secreta da CIA. Cross então acaba sendo pego no turbilhão que a agência se torna depois dos acontecimentos dos três filmes anteriores e precisa correr contra o tempo para arrumar um medicamento (que o faz ser um “tipo Bourne”) enquanto tenta sobreviver a essa queima de arquivo orquestrada por um coronel contratado para limpar a barra toda (vivido por um apagado Edward Norton).

Em outras palavras: sim, O Legado Bourne é sobre um viciado que atravessa o mundo em busca de um “remedinho” (nesse caso, uma injeção… ). E se isso parece diminuir a importância do personagem, é por que diminui, e não só dele, mas de toda operação que deu vida ao famoso Bourne, pois acaba resumida a algumas pílulas que dão poderes a seus agentes.

Mas a estranheza disso tudo passa ainda pela presença do próprio Tony Gilroy no comando da produção, tanto em termos de roteiro quanto de direção. Gilroy, que esteve envolvido no texto dos outros três filmes, deixa a impressão de não saber o que fazer com a história, muito menos em como alinhavar esse novo rumo com os acontecidos prévios. Em um esforço completamente desperdiçado e cansativo de colocar O Legado Bourne em seu contexto, acaba criando um filme chato e previsível, se contentando com motivações baratas e rasteiras para mover toda a trama.

Em um começo absurdamente equivocado, permite que toda história aconteça de modo simultâneo entre o esforço da CIA para conter Bourne (nos outros filmes) e esse outro agente perambulando pelas montanhas geladas de algum lugar do Canadá. O problema é que, enquanto de um lado todos já sabem o que aconteceu, do outro, nada acontece. Pior ainda para àqueles que ficarem a espera de uma surpresa envolvendo esses primeiros momentos de Aaron Cross que, infelizmente para o público, está só fazendo isso mesmo: perambulando.

A primeira impressão que fica é que enquanto Jason Bourne está se divertindo em três filmes sensacionais o espectador precisa fugir do sono diante desse protagonista praticando escaladas.

É lógico que ver esse novo personagem de vez em quando é interessante para se acostumar com sua imagem, mas dessa vez, quem fica sem saber nada sobre ele é o público e não o protagonista (motivação que movia Bourne, mas aqui só deve mover o espectador para uma enorme decepção).

O Legado Bourne Filme

Um outro Gilroy ainda derrapa na hora de montar O Legado Bourne, John (irmão mais novo do diretor) acaba perdido sem saber o que fazer com o material, tornando o filme longo e morno demais, esperando demais que uma coisa aconteça antes de pular para a outra. Lição que devia ter aprendido com os montadores dos filmes anteriores, muito mais dinâmicos, onde tudo parecia acontecer ao mesmo tempo e meio sobreposto, o que tornava o ritmo acelerado e, melhor ainda, desafiava a atenção do espectador com várias camadas de acontecimentos simultâneos.

Talvez esse medo de ter um resultado complicado ainda venha do roteiro que o próprio diretor escreveu com o outro irmão, Dan Gilroy (um verdadeiro filme em família). Um tanto quando prolixo e amarrado, sem conseguir ir de um ponto “A” a um ponto “B” sem digregir por vários assuntos, resulta em uma certa obrigação de amarrá-lo diante da mítica que foi criado nos filme anteriores, batendo demais na tecla de sua ligação (e tornando algumas participações de personagens já conhecidos do público completamente ocas e descartáveis, como a presença de Joan Allen) e esquecendo-se de contar uma história própria e que servisse (até) de começo para uma nova empreitada, coisa que não deve acontecer tão cedo (pelo menos não com esse Aaron Cross).

E talvez seja esse o maior erro de O Legado Bourne tentar se estender além da conta ao invés de procurar um novo começo um pouco mais independente. Ou pelo menos, procurar contar um pedacinho da história que rodeou Jason Bourne, mas um pedacinho um pouco mais interessante e não esse, que poderia ficar escondido.


The Bourne Legacy(EUA, 2012) escrito por Tony Gilroy e Dan Gilroy, inspirado nos livros de Robert Lundlum,, dirigido por Tony Gilroy, comJeremy Renner, Stacy Keach, Edward Norton, Rachel Weisz e Corey Stoll.


Trailer

Continue navegando no CinemAqui:

1 Comentário. Deixe novo

  • Olá Vinicius, estou de total acordo com você e foi uma decepção pra mim que curto muito a série. Demorou mas eles conseguiram estragar a TRILOGIA BOURNE de Matt Damon. Achei a mesma coisa em relação ao filme. Faltou as cenas de lutas bem coreografadas de tirar o fôlego, faltou a trilha sonora empolgante, faltou o dinamismo da câmera “balançando” que dava a sensação de estar dentro do filme, faltou a ação inteligente e a dinâmica rápida do filme e o mais chato de tudo: A INCRÍVEL NECESSIDADE DE SE FALAR EM JASON BOURNE durante quase todo o filme com flashback e como se não bastasse ainda ouvir no final do filme o tema da música de Jason Bourne. Os ingredientes que vimos na trilogia original e que agora, infelizmente, não vemos na tão esperada sequência sobre a trama de Jason Bourne , fazem de “O LEGADO BOURNE” mais um filme de ação chato e comum como qualquer outro e, como vc mesmo disse, dá até vontade de dormir às vezes, coisa que na TRILOGIA BOURNE não acontece, pois o filme é uma sequência de novidades a cada minuto. Que mudassem de protagonista, diretor e tudo mais, mas não deveriam ter mexido na essência dos três filmes anteriores que pra mim são:a câmera interagindo com a cena, a dinâmica rápida indo direto ao ponto, a ação inteligente com suspense e cenas de lutas perseguição e veículos muito bem coreografadas. Tony Gilroy quis dar seu “tempero”, nada mais do que natural pois cada um tem sua forma de trabalho, mas eu acho que em certos ingredientes não se deve mexer, pois foi com os mesmos que a saga virou sucesso no mundo todo. É uma pena, mas a verdade é que em time que está ganhando não se mexe e o time era Matt Damon e o diretor Paul Grengrass. Infelizmente “O LEGADO BOURNE” não tem a mesma convicção e muito menos o ritmo empolgante da TRILOGIA BOURNE e que pra mim não consigo identificá-lo como uma boa continuidade pra TRILOGIA BOURNE de Matt Damon.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Menu