O Espião que Sabia Demais

Adaptação de um dos livros mais famosos do escrito John Le Carré, O Espião que Sabia Demais não esconde o que é, um belíssimo suspense de espionagem, nem que isso custe um punhado de espectadores desacostumados ao ritmo de tal gênero que a cada ano o espião que sabia demaisparece mais perdido nos tempo.

Dirigido de forma sensacional pelo mesmo Thomas Alfredson que foi um suspiro de genialidade para o gênero “vampiro” com o sueco Deixe Ela Entrar, O Espião que Sabia Demais conta a história desse recém aposentado agente da Inteligência britânica, George Smiley (Gary Oldman) que acaba sendo chamado de volta para uma missão secreta onde ele precisa descobrir um traidor dentro da própria cúpula da tal agência (chamada de “o circo”).

Alfredson então, junto com um roteiro primoroso de Bridget O´Connor e Peter Straughan segue essa investigação de perto, onde o protagonista precisa atuar por trás da própria cortina na qual viveu sua vida inteira e ainda agir contra aquelas mesmas pessoas na qual tanto confiou.

Talvez em uma história normal isso fosse razão de conflito, mas aqui, tudo se entrelaça em um mosaico de peças que custam a se encaixar, já que nem sempre a verdade está boiando nesse rio de aparências e Smiley está lá para descer até o fundo disso. O Espião que Sabia Demais é então estruturado entre esses flashbacks contando como tudo chegou àquele ponto enquanto o protagonista tenta entender todo cenário no qual está envolvido, portanto, nada de ação, perseguições e reviravoltas, apenas fatos.

Por isso mesmo, O Espião que Sabia Demais é feito para ser apreciado com parcimônia, como um bom livro onde cada página trás uma pequena surpresa, uma pequena peça a mais nesse quebra-cabeça. E, justamente, saber se manter nesse ritmo é, talvez, um de seus maiores predicados. A mesma paciência que faz com que, logo no começo do filme, a sequência em que o espião vivido por Mark Strong se encontra com um contato em Budapeste seja tão memorável, com tempo para o espectador prestar atenção em cada detalhe, cada olhar e gota de suor que preenche essa tensão e que praticamente deixa o ar pesado o suficiente para ser cortado com uma faca.

Silencioso, tenso, gelado e fino, com esses planos fixos e pesados que fazem com que “O Espião que Sabia Demais” seja um exemplo poderoso desse gênero de espionagem inglesa, que se posiciona como um jogo e move cada peça com precisão cirúrgica, que desvenda cada mistério como se fosse o clímax e, ainda no final das contas, eleva à sua maior potência o momento em que o espectador dá de cara com o alvo de toda investigação ao acompanhar o ótimo Benedict Cumberbatch (quem vem fazendo sucesso na TV inglês com Sherlock) em todo seu caminho até dar de cara com o traidor.

E se Cumberbatch já faz esse trabalho limpo e preciso, o que Oldman, no papel principal, faz é extraordinário, como se lapidasse em pedra a personalidade desse agente sem sentimentos, frio e calculista que parece sempre estar olhando além daquelas aparências e que se perde em um monólogo poderosíssimo com olhos vidrados e apontando para muito além do foco da lente de Alfredson.

(E aqui vai um Spoiller!) Mas infelizmente, O Espião que Sabia Demais acaba cometendo um erro enorme na escolha do elenco, o que acaba prejudicando demais diante daqueles espectadores que, sem a devida paciência, não estão ali em busca de uma história, mas sim de uma surpresa. Esses então percebem, logo de cara, que um recente ganhador do Oscar não se prestaria a um papel coadjuvante, o que dita logo de cara a identidade do tal traidor. (E eis que termina o Spoiller!)

E esses mesmo espectadores sem paciência também sofrerão com o andamento de O Espião que Sabia Demais, já que ele parece pouco preocupado em, pelo menos, tentar conquistar quem vai ao cinema atrás de um pouco de ação que seja. Talvez sinal de personalidade, talvez sinal de petulância, mas ainda sim um convite a dar um tempo dessas tramas apressadas e que deixam pouco tempo para espectador aproveitar cada segundo de uma trama intrincada e que, se não surpreende, pelo menos dá um show na hora de juntar todas essas peças.


Tinker Taylor Soldier Spy (RU/Fra/Ale, 2011) escrito por Brideget O´Connor e Peter Straughan, a partir de uma obra de John Le Carré, dirigido por Thomas Alfredson, com Gary Oldman, Benedict Cumberbatch, Mark Strong, John Hurt, Toby Jones, Colin Firth e Tom Hardy.


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