Missão: Impossível – Protocolo Fantasma | Continua acreditando que pode ser uma franquia relevante e acerta nisso

Tirando John Woo, suas motos voadoras e aquelas pombas passeado em câmera lenta, não há como negar que Tom Cruise tem cuidado muito bem da franquia de filmes adaptados da famosa série de TV, e Missão: Impossível – Protocolo Fantasma só confirma mais ainda isso. Mas outra coisa vem logo à mente, a vontade do astro/produtor de (depois de Woo, quase como se tentasse recolocar tudo de volta nos eixos) tentar algo novo, e nada mais novo que Brad Bird para deixar isso mais claro ainda.

Assim como no anterior acreditou em J.J. Abrams, na época ainda recém-saído da TV (mas que continua na produção desse), Cruise agora dá “seu filme” para Bird, famoso por suas animações (Gigante de Aço, Ratattouile e Os Incríveis) e que agora tem a oportunidade de mostrar que cinema é cinema, com ou sem personagens gerados por computador. E se Bird já fazia bonito quando o assunto era aventura, agora tem a oportunidade de dar um salto maior ainda.

Missão: Impossível – Protocolo Fantasma começa com essa espécie de prólogo onde um dos agentes da IMF (Josh Holloway, de Lost) é pego em uma emboscada, logo as atenções se voltam para o protagonista Ethan Hunt (Cruise) sendo ajudado por um outro grupo de agentes a fugir de uma cadeia em Budapeste, tudo para descobrir que um terrorista de codinome “Cobalto” (Michael Myqvist) está tramando um atentado nuclear e só ele pode impedi-lo de conseguir isso.

Mas é ai que entra o simples e firme roteiro de John Appelbaum e André Nemec, assim como a vontade de Brad Bird de estar dentro da série de TV, e não só em uma simples adaptação. Durante todo primeiro ato do filme (extremamente bem construído para suportar todo resto da trama) Missão: Impossível – Protocolo Fantasma gira em torno dessa tentativa, essa primeira “missão impossível” de não deixar que o terrorista consiga fugir do Kremlin (sede do governo Russo) com um mecanismo de ativação de um míssil nuclear.

Bird não perde tempo com explanações e papo furado, e logo recorre, uma segunda vez, àquele prólogo, agora como uma sequência de ação, para ligar tudo. Momentos depois Hunt e Benji (Simon Pegg, como um alívio cômico na medida e muito bem explorado) já estão dentro da operação, sem deixar o espectador nem perceber que tudo só está no começo, tamanho ritmo que impõe.

Protocolo Fantasma então é sobre a emboscada que a dupla cai, fazendo com que eles sejam acusados de terrorismo enquanto a IMF é fechada e a única opção deles então é seguir de modo independente atrás desse perigoso terrorista, sem ajuda do governo, sem equipamentos e com a equipe que tem em mãos (formada ainda por Paula Patton e Jeremy Renner).

Mas para Bird a “missão, caso ele a aceite” é divertir, criar esse enorme filme de ação (enorme mesmo), buscando os maiores e melhores lugares a serem invadidos pelo grupo, compensando a linearidade obvia com um suspense coerente e embalando tudo em um visual extraordinário. Além, é claro, de uma estrutura narrativa poderosa e que resulta em um filme que passa correndo pela tela e deixa aquele gostinho de “quero mais”.

De maneira hábil, Bird não se deixa levar por nada que não seja a ação, já que sabe que o chamariz principal do filme é isso e, de modo cirúrgico, monta essa trama entre toda correria e tensão. E a grande coqueluche da vez é a sequência de Dubai, onde o grupo tem que ¿enganar¿ as duas partes da negociação dos números de ativação dos tais mísseis, e Bird constrói toda ela em torno de, simplesmente, três sequencias de ação de tirar o fôlego, e é isso que mais dá ritmo a Missão: Impossível – Protocolo Fantasma: sua estrutura.

Em nenhum momento, cena alguma de explanação acontece sozinha, sem estar dentro de uma cena de ação (ou até a espera de uma divertida capotagem), e até quando tudo é apenas uma conversa dentro de um carro, Hunt, que está no volante, parece mais um completo enlouquecido desviando de camelos em alta velocidade, como se para Bird não houvesse desculpa, no final das contas tudo deve mesmo é virar adrenalina. É impressionante ainda como, diante do hotel mais alto do mundo, Bird não perde a oportunidade de deixar de lado nenhum fator que possa resultar em ação e faz o espectador se sentir pendurado com o protagonista do lado de fora do prédio, balançado, escorregando e tudo mais, já que sempre faz questão de mostrar com sua câmera quanto aquilo é alto, escorregadio e…. bom, mentiroso.

Essa vontade de ser maior que a realidade, talvez venha de seu passado nas animações, mas nem por isso atrapalha, já que tudo acaba sendo tremendamente delicioso e divertido, ainda mais quando é contrabalanceado com momentos de tensão, como o da troca dos números, para trazer tudo de volta ao real. A grande sacada de Bird é então grudar tudo em blocos no mesmo ritmo, como nesse caso ainda em uma perseguição no meio de uma tempestade de areia para fechar com chave de ouro todo segundo ato do filme e já fazer valer o ingresso de quem entrou no cinema à procura da mais pura aventura.

Logicamente, talvez temendo que o público pudesse até se distanciar da trama, Protocolo Fantasma repete um punhado de motivações anteriores, tanto pessoais como da “velha IMF sendo fechada”, mas ainda assim encontra novos e surpreendentes modos de dar vida a essa experiência (para os fãs da série, é delicioso ver o quanto Bird se esforça para “dar missões” de modos diferentes).

E ainda por cima, mais uma vez recorrendo a seu passado “animado”, Bird parece ter um cuidado enorme para que qualquer sequência de luta ou ação (até no meio de uma tempestade de areia) seja o mais limpa e clara possível, já que sabe que seu espectador não entrou no cinema à procura de borrões de movimento, o que dá a Protocolo Fantasma uma dinâmica visual impressionante e que não deixa que nada seja perdido no meio de toda correria.

Frenético e coerente (duas coisas que não convivem muito bem em Hollywood) Missão: Impossível – Protocolo Fantasma satisfaz seu público, seja fã ou espectador de primeira viagem (esse segundo, muito provavelmente, logo se tornando o primeiro) e mostra que sua simplicidade narrativa e objetividade faz um bem enorme para série e demonstra que ela ainda pode render bons frutos se continuar nessa procura por diretores afim de novidade e diversão.


Mission: Impossible – Ghost Protocol (EUA, 2011), escrito por Josh Appekbaum e André Nemec, dirigido por Brad Bird, com Tom Cruise, Jeremy Renner, Simon Pegg, Paula Patton e Michael Myqvist


Trailer – Missão: Impossível – Protocolo Fantasma

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1 Comentário. Deixe novo

  • João Vitor da Cruz Saldanha Pires
    07/10/2014 9:13

    Esse é um ótimo filme, gostei muito dele. O melhor de todos!

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