Madagascar 3 – Os Procurados

É lógico que seria muito mais simples para a DreamWorks se apegar a um esquema já acertado, repetir essa forma e esperar sentado o resultado das bilheterias garantidas, a Fox (e a Blue Sky) fez isso com A Era do Gelo 2 e já vai chegar em seu terceiro filme. Mudar, tentar criar uma nova situação e contar uma história que ainda não foi contada, é para poucos, principalmente em termos de animações infantis, e Madagascar 3 – Os Procurados faz isso.

Como uma certa inquietação em que lhe obrigasse a fugir daquilo que quase atingiu a série em seu segundo filme, e que só não prejudicava, pois tinha a possibilidade de explorar o lado selvagem dos personagens (contrastando com o primeiro). Agora então, a ideia principal é fazer o espectador lembrar do que mais os movia: essa vontade de voltar para a casa. E que, pela primeira vez na série, lhes permite interagir com aquele meio urbano do comecinho do primeiro filme.

O interessante é perceber quanto o roteiro de Eric Darnell e Noah Baumbach se mostram interessados em tirar esses personagens da vida selvagem e colocá-los em um lugar igualmente perigoso e inesperado, ao mesmo tempo em que constroem uma trama que se sustenta e se diverte dentro até de certas lições de moral importantes e completamente relevantes.

Nela, os quatro amigos decidem ir em busca do grupo de pinguins que resolveu ir para Monte Carlo conseguir dinheiro suficiente para construir um avião que tirasse todos da África e levasse de volta para a América, só que, obviamente, tudo acaba dando errado e, para fugir de uma policial francesa completamente maluca, o quarteto (e mais os pinguins, os lêmures comandados por King Julien e alguns macacos) tem então que se esconder em um Circo que excursiona pela Europa.

De modo sutil e tremendamente objetivo, o roteiro costura essa volta para casa e ainda lhes dá motivação suficiente para que sua verdadeira trama se sustente, uma em que eles precisam ajudar o circo a dar a volta por cima. Isso ainda dá a possibilidade de criar um novo mundo até agora ignorado, onde os animais se permitem viver dentro desse lado urbano e que acaba sendo mais divertido ainda.

E essa possibilidade de dar ao espectador novos personagens dá uma sobrevida maior ainda às possibilidades do filme, principalmente pois o faz de modo cirúrgico, sem poluir demais o elenco nem tirar a atenção dos originais. Um cuidado que acaba então se refletindo nas motivações particulares de cada novo personagem que aparece. No circo, tudo paira ao redor desse tigre russo, Vitaly (na voz original do ótimo Brian Cranston) e o trauma de um de seus números que deu errado e acabou fazendo com que todo circo fracassasse depois disso.

Hábil e compacto, em pouco tempo esse “problema” é resolvido e ai o roteiro pode voltar a seu caminho natural, ainda mais enquanto deixava à espera disso o maior conflito do filme, que, mesmo passando pelo óbvio desentendimento entre os protagonistas e seus novos amigos, ainda assim é movido por questões pertinentes e ainda usa perfeitamente a presença da policial como estopim, o que forma um sentimento de unidade que não permite que o espectador sai daquela linha narrativa.

E essa personagem, a capitã Chantel DuBois, vivida (na voz) por Frances McDormand, é uma espécie de “exterminadora do futuro” baixinha, marrenta e com o único objetivo de colocar em sua coleção a única cabeça que faltava: a de um leão, nesse caso Alex (Ben Stiller). É ela a responsável por uma perseguição implacável pelas ruas de Monte Carlo (vulgo o mesmo lugar do famoso GP de Mônaco), que, com a ajuda de um 3D consistente faz tão bonito quanto a sequencia sem cortes pelas ruas dos Marrocos em TinTim e empresta uma espécie de histeria cômica a clássicos do gênero de ação, com carros voando, manobras precisas, cascas de banana e até um furgão tão perigoso (e fortemente armado) quantos os (também perigosos) pinguins poderiam criar.

Esse tom meio anárquico dos pinguins ainda acaba “vazando” para o resto do filme, talvez muito pela presença de Noa Baumbach no roteiro, diretor de comédias sutis e interessantes como O solteirão e Lula e a Baleia assim como participado do texto de A Vida Marinha com Steve Zissou e O Fantástico Sr. Raposa, de Wes Anderson e que, talvez reflitam essa vontade de sair do normal que atinge Madagascar 3 e lhe permite ser mais engraçado que apenas algumas gags visuais daqueles tipos que, quase sempre, dominam os produtos do gênero (como o próprio humor raso de A Era do Gelo).

Toda essa preocupação com esse humor ainda permite que a ótima escalação de vozes seja um presente a mais para quem conseguir ver a versão original. Não só as já ótimas atuações do quarteto principal (sem contar o lêmure de Sacha Baron Cohen), mas também o impressionante trabalho vocal de McDormand como a capitã, criando uma personalidade deliciosa para a personagem, que fica entre a maldade e uma loucura que conquista qualquer espectador, assim como na força de Cranston (cada vez mais e mais ganhando a devida importância em Hollywood graças a seu trabalho magistral na série Breaking Bad), que imprime um sotaque clássico, mas que nunca se torna caricato.

O ótimo resultado de “Madagascar 3” ainda se completa com o trabalho acertado do trio de experientes diretores Eric Darnell, Tom McGrath (vindos dos outros dois, e o segundo ainda do sucesso Megamente) e Conrad Vernon (de Montros Vs Aliens e Shrek 2), todos com a missão conjunta de criar um filme divertido e recompensador, principalmente para quem entrar em uma sala 3D, já que, além da “perseguição em Mônaco”, a todo momento eles estão ali para colocar e movimentar sua câmera por aquele lugar em que só a animação permite, e que se torna mais rico ainda com as três dimensões.

Por tudo isso Madagascar 3 talvez possa até se orgulhar de fazer bem melhor do que os outros dois filmes, já que consegue ser novo dentro de algo tão difícil de conseguir ser diferente, que conta então uma outra história, mesmo com a possibilidade de se acomodar por trás dos personagens e apenas mudar o “pano de fundo” de sua trama enquanto vê as cifras subirem. Melhor ainda, tem a coragem de dar um novo futuro cheio de possibilidades para a franquia, já que (e aqui um pequeno spoiller) no final das contas acaba sendo sobre o quanto uma viagem não muda o lugar de onde se saiu, mas sim as pessoas que o deixaram e que acabam, então, almejando mais que aquele status quo mastigado que os moveu durante dois filmes, já que casa talvez não seja mais o lugar para onde eles querem voltar.


Madagascar 3: Europeans Most Wanted(EUA, 2012) escrito por Eric Darnell e Noah Baumbach , dirigido porEric Darnell, Tom McGrath e Conrad Vermon, com as vozes (na versão original) de Ben Stiller, Chris Rock, David Schwimmer, Jada Pinkett Smith, Sacha Baron Cohen, Jessica Chastain, Frances MsDormand, Bryan Cranston e Martin Short.


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