Lanterna Verde

por Vinicius Carlos Vieira em 24 de Agosto de 2011
Lanterna VerdeDirigido por Martin Campbell (que se tornou uma promessa com a reinvenção de 007 em Cassino Royale, mas passou longe de acertar no confuso O Fim da Escuridão) Lanterna Verde parecia aquele tiro certo da DC Comics para recuperar o terreno conquistado por sua adversária (a Marvel) em Thor, Capitão América e Homem de Ferro: um personagem que não pertence ao panteão da editora (leia-se aqui Batman e Superman), mas é tremendamente popular, simpático e prontamente embalado para essa aventura cósmica cheia de efeitos especiais. Mas nada acaba sendo tão simples assim.

Diante de uma ingenuidade narrativa enorme, que não consegue motivar nenhuma ação do herói, nem do roteiro nem dos vilões, Lanterna Verde acaba se tornando então um passatempo burocrático e que acredita demais nele mesmo sem perceber que, no afã de levar esse herói paras as telas, falta história demais e sobra força de vontade.

Sobra força de vontade, por que todos detalhes que fariam com que o personagem decolasse estão lá, da personalidade do herói (ao ser o primeiro humano a ganhar a oportunidade de empunhar o anel) aos efeitos especiais na medida, passando por um visual coerente e caprichado (que respeita o original, livra os fãs da dor de cabeça e ainda se mostra funcional para quem não conhece o personagem). Mas tudo isso acaba embolando diante de um roteiro que parece escrito a mãos demais (quatro pares, e isso nunca dá certo!) e que não consegue se encaixar no final das contas.

Dentro dessa burocracia, Campbell (que ainda é um dos roteiristas) parece equivocado e perdido no caminho que decide tomar, já que, de modo esclarecedor e “educativo” demais, prefere começar tudo contando a história dessa tropa de Lanternas Verdes, espécie de “policiais” galácticos que contam com a ajuda da maior de todas as armas, esse anel verde que é movida pela força de vontade de seu dono. Mais ainda, o filme decide então, logo de cara, prefere apresentar para todo o cinema essa criatura chamada Parallax, movido pelo medo e aprisionado por um dos Lanternas, mas que consegue escapar e rumar em busca de vingança.

Talvez para aproveitar a voz de Geoffrey Rush (que “interpreta” um dos Lanternas mais para frente, mas que narra esse começo) ou simplesmente por não perceber que acabaria então se repetindo momentos depois, já que tudo isso, logicamente, vai tornar a ser explicado para o herói do filme assim que ele estiver diante de sua nova função, Campbell ainda acaba por diminuir demais seu próprio protagonista, Hal Jordan (um Ryan Reynolds que não prejudica em nada o personagem e acaba sendo uma escolha acertada, mas acaba tendo pouco com o que trabalhar).

Depois de mostrar a enormidade do universo, de suas raças, de uma batalha contra essa criatura cheia de poder, a única salvação para Jordan seria uma profundidade enorme, e isso ele não tem e nenhum dos quatro roteiristas parece ter percebido isso. Mostrado como uma espécie de anti-herói cheio de coragem, piloto de avião, atrasado e mulherengo, Jordan é então obrigado a sobreviver apenas pelo trauma de ter perdido o pai em um acidente, e isso é pequeno demais para mover o personagem diante do que já foi mostrado. Campbell não permite a seu espectador descobrir esse mundo de fantasia na companhia do protagonista, isso não permite que nada decole e um marasmo atinja Lanterna Verde em cheio.

Não que, como um filme de ação ele não funcione, até o faz, principalmente graças os divertidos constructos de energia verde que o herói faz uso quando “materializa” sua imaginação como uma arma (com direito a até um clássico “soco verde”), mesmo que essas sequências pareçam pontuais demais e não se deixem fluir dentro da trama. Lanterna Verde acaba então perdendo um ritmo precioso na hora de se obrigar a passar por essa sequência de treinamento (que serve para vislumbrar um trabalho mais que competente da direção de arte na hora de criar o Planeta Oa e apresentar o “narrador” Tomar-re e o grandalhão Kilowog, na voz de Mark Clark-Duncan, para deleite dos fãs, ambos com quase nenhuma função narrativa), depois por uma pouco empolgante disputa pelo coração da dama em perigo entre o herói e seu inimigo Hector Hammond (Peter Sarsgaard) e só por fim encontrar sua grande batalha contra Parallax.

Diante dessa “necessidade física” de expor essas sequências, Campbell (e seus três companheiros de roteiro, que, surpreendentemente, ainda inclui o experiente Michael Goldenberg de ótimos trabalhos em O Contato, Peter Pan e Harry Potter e a Ordem da Phoenix) acaba esquecendo-se de motivar seu próprio personagem, que ora coloca em prova sua capacidade de se tornar esse herói, ora viaja pelo espaço para salvar o mundo, depois volta a não se achar capaz, entra por uma vidraça de um galpão cheio de coragem e, sem pestanejar, encontrar forças para conseguir fazer o que nenhum Lanterna Verde sequer pensa em conseguir. Pior ainda, em uma caracterização rasteira e sem vontade, alimenta esse Parallax de medo (assim como a tal força amarela) e obriga seu Hal Jordan a jogar com o clichê “meu trabalho é não ter medo”, enfim, muito pouco para um personagem que precisa convencer um cinema inteiro de que é o grande herói da Terra.

Lanterna Verde acaba então empolgando os fãs, que terão a oportunidade de ver seu herói preferido na tela do cinema com um monte de referências, mas fora isso acaba não tendo um resultado que empolgue e convença (nem o herói, nem seu romance e nem seus conflitos), deixando o espectador comum refém apenas de um visual e da esperança de que uma sequência venha então a funcionar (mesmo que uma pequena reviravolta no meio dos créditos finais não parece fazer o menor sentido, já que o filme esquece de dar qualquer motivação para que o personagem em questão tome tal atitude), já que poderia se basear muito mais baseado na ação, até lá, o melhor é mesmo torcer para que o setor 2814 não precise muito de seu Lanterna Verde.


The Green Lantern (EUA, 2011), escrito por Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenhein e Michal Goldenberg dirigido por Martin Campbell, com Ryan Reynolds, Blake Lively, Peter Sarsgaard, Mark Strong, Tim Robbins e Angela Basset


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15 Comentários. Deixe novo

  • nossa o lanterna verde_e_de mais

  • o fim e muito bom

  • David Oikawa
    02/12/2011 12:28

    Eu gostei do filme, ele é bem divertido e dinâmico, mas concordo que o roteiro deixou um pouco a desejar. Explico, a impressão que se tem é de um grande piloto disposto a tudo e completamente irresponsável. Daí após achar o anel ele simplesmente se torna o cara mais atento, mais sensível, mais responsável da terra. Você acaba não vendo uma mudança gradual da personagem. Dá a impressão de que o anel transformou o caráter do garotão metido. Sem contar o romance que parece não ter muito sentido no filme, já que ele não tá nem aí pra ela no início do filme e de repente, não mais que de repente, lá estão os dois pombinhos apaixonados. Fora esses por menores que tornam a estória um pouco desconexa, dá pra levar na boa, como disse é divertido, os efeito são muito bons também. (particularmente, achei melhor que THOR)

  • Vinicius Carlos Vieira
    29/11/2011 16:21

    caro, TsK Tsk, quem deve ficar de fora é quem “chuta lata” sem nem saber do que está falando… se você tivesse perguntado “Caro crítico, por um acaso você lê quadrinhos?” eu teria respondido, mas não você preferiu achar que a sua suposição estava correta, então, parabéns…

  • Que? Computação ruim? Efeito de Playstation 2? KKK, É um filme de qualidade técnica impecável. Efeitos e tudo! Muitos nem sabem que o poder dele é feito desta energia verde, por isto parece meio simples. Até nos quadrinhos estes efeitos são assim. Francamente… Agora, tudo é muito bem feito. Dá pra se imaginar nestes mundos mesmo. Muito bom. O ator é carismático, o personagem está semelhante ao quadrinho. Tudo funciona. O roteiro é bom e condizente com a história. Acho que crítico que não lê os quadrinhos deve ficar de fora, afinal estes profissionais do filme estão envolvidos com muita responsabilidade e milhões em jogo. Vem um FDP qualquer e mete o pau nos caras. A isto se chama irresponsabilidade. Foi um dos melhores filmes de “heróis” que já vi. Antes de falarem deste espero que enxerguem Thor, Batmans e outros lastimáveis e de envergonhar que já foram feitos.

  • karlos Fiktress
    08/10/2011 18:50

    Aff esse filme foi um desgosto e os efeitos especias na verdade (DEFEITOS ESPECIAIS) foram a ultima gota d’agua parecia de jogo de playstation 2 AFF. Se fosse a marvel que tivesse produzido teria sido mil vezes melhor

  • Igor Ribeiro
    30/09/2011 1:07

    De todos os heróis, Lanterna Verde é o que mais me chama atenção, mas esse filme foi pior que ”Borat”, muitas expectativas para pouca ”cousa”. Assistam e não surpreendam-se. =/

  • Ninfetinha
    27/09/2011 15:08

    .Filme legal para assistir,prende a nossa atenção.Mais não foi o meu predileto.

  • lanterna verde ja e uma otima historia ainda mais na beleza des te ator liiiindo s2

  • guilherme
    10/09/2011 15:52

    filme do lanterna verde

  • guilherme
    10/09/2011 15:51

    eu quero um play station do lanterna verde

  • Ronei de souza
    08/09/2011 22:09

    pessoal me diseram q é um dos melhores filme em 3d. Verdade ?

  • ramondos santos ribeiro
    30/08/2011 15:01

    é um filme bom não é tudo isso que os criticos dizem gostei no final o sinestro pega o anel amarelo toço para que tenha uma continuação

  • Cara tem efeitos bacanas e tal, adorei os Lanternas de outros mundos.. mas não gostei da atuação do Ryan Reynolds como Jordan… É o meu personagem da DC q mais aprecio junto com Batman (aliás únicos que gosto da DC comics).
    Mas, é uma boa pedida…

  • CLÁUDIO LÚCIO
    25/08/2011 23:39

    Ótima diversão! Mas o filme não foi lá estas coisas, como deveria ser! A falta de de um roteiro comparável com o próprio super heroi deixou muito a desejar. O ator Ryan Reynolds estava mais para um comediante da sátira do próprio filme. Como todos os filmes dos uniformizados, não existe um valor simbólico da fantasia do super heroi que no caso dos filmes atuais que só se preocupam em criar uma “coisa” mais ou menos extravagante com modelitos de garotos de academias. Nesta modalidade a originalidade do heroi nem de longe se compara aos originais das histórias que fizeram em nossa época de ouro das revistas em quadrinhos. Eram verdadeiras obras de artes.

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