Contatos de 4° Grau Filme

Contatos de 4º Grau | Tentativa frustrada de fazer um filme bacana

Em toda cultura “pop”, um elemento que se torna “moda” praticamente é chafurdado até seu limite antes de se tornar obsoleto e logo esquecido em algum canto do passado, enfim dando lugar uma “nova moda”. Mesmo que com ciclos muito maiores (até por que uma produção não demora menos que um ano para ser feita), no cinema a situação é bem pior.

Ainda que há uma década A bruxa de Blair ainda persiste nessa “moda” e vê sua semente germinar a cada temporada de filmes, seja pelo teor “fitas achadas em algum lugar” ou pela famosa, e engenhosa, campanha de marketing viral que precedeu o filme. Contatos de 4° Grau é um verdadeiro exemplo de como falhar nesse dois quesitos.

Na verdade não só falhar, mas se tornar o pior exemplo a ser seguido dentro desse estilo (haja visto acertos mais recentes como Atividade Paranormal e [Rec] ou o um pouco meno novo Cloverfield), a começar pela apresentação do filme sendo feita pela própria atriz principal, Milla Jovovich, usando expressões como “dramatização fiel”, “imagens de Arquivo” e “extremamente perturbador”, pouco antes de desafiar o público a acreditar no que vai ver, o que logo de cara mostra uma falta de lição de casa do diretor Olatunde Osunsanmi, já que é impossível vender uma ideia de realidade quando você já viu aquela mesma mulher matando zumbis a torto e a direito em outro filme.

E é aparentemente pensando exatamente nesse problema, mas sem solucioná-lo por completo, que todos atores são apresentados como representações dos personagens reais, como em uma daquelas “simulações” do History Channel, já que durante todo tempo as tais imagens de arquivo pipocam na tela com as supostas pessoas “de verdade”, criando mosaicos de cenas repetidas sem a menor necessidade narrativa e tirando toda identificação dos personagens com os atores, já que a plateia passa a simplesmente não acreditar mais neles.

Tudo isso fica pior ainda, pois o ponto de partido do filme é uma entrevista da suposta Dra. Abbey Tyler onde ela relata certos acontecimentos estranhos ocorridos na cidade de Name, no estado do Alasca, em que vários de seus pacientes passam a experimentar um tipo de abdução extraterrestre (as tais “imagens de arquivo” e o “extremamente perturbador” vem das fitas de suas consultas), uma premissa que poderia se tornar até interessante se acabasse por ser menos refém desse “real”, já que é só a belíssima atriz ucraniana e seus olhos verdes voltarem a dar a cara que se torna impossível levar a sério tal péssima escolha de elenco, caso aquela fosse uma pessoal “de verdade”.

Osunsanmi tenta se escorar tanto em uma suposta realidade que acaba apostando somente nisso, não deixando espaço para nenhum tipo de desenvolvimento da trama minimamente interessante fora dessas “imagens de arquivo”, como se alguns atores de Hollywood tivessem sido contratados para ligar as pontas de sequencias feitas por um monte de amadores desconhecidos. Sem deixar o espectador escolher entre a realidade e a ficção (na verdade a ficção e a ficção) e fazendo de tudo para que todos engulam ambas.

Além de pouco hábil e repetitivo com a câmera, Osunsanmi a partir de certo momento passa a quase ofender o espectador ao tentar convencê-lo com imagens desfocadas que não mostram absolutamente nada e gravações em audio vexatórias de extraterrestres falando sumério (!?). Mas o pior de tudo isso é que é fácil ver o quanto esses erros arruinam um filme que seria interessante, já que é fácil perceber um clima que vai se criando antes de tudo ir por água abaixo, uma certa competência que faria de Contatos de 4° Grau um filme de terror que alcançaria um resultado expressivo no momento que se decidisse entre que linha seguir, coisa que talvez seja seu maior defeito: fingir ser real mas com uma superprodução por trás (além de criar uma campanha de marketing mais precisa e que não fosse processada pelo estado do Alasca, alegando que o filme inventou todos os fatos, numeros, personagens e situações, processo que foi pago pela Universal e resolvido o imbrólio, além de afundar toda campanha viral).

Contatos de 4° Grau teria todos os quesitos para ser lembrado como o irmão extraterrestre da Bruxa de Blair (assim como já tivemos o “irmão zumbi”, “o irmão fantasma” e “o irmão monstro destruidor de cidades”), mas acaba se tornando uma tentativa frustrada de fazer um filme bacana.


The Fourth Kind (EUA, 2009) direção: Olatunde Osunsanmi com: Milla Jovovich, Will Patton, Hakeem Kae-Kazin, Elias Koteas


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