Cinema sem Y | A heroína que Precisamos… e Merecemos


[dropcap]M[/dropcap]enos de um mês depois de sua estreia mundial, o mais recente lançamento da Marvel Studios, Guardiões da Galáxia, já arrecadou mais de 418 milhões de dólares ao redor do mundo, se estabelecendo como a maior bilheteria do mês de agosto na história.

Os personagens do longa são desconhecidos do grande público – e não tão famosos mesmo entre os mais ávidos fãs da editora de quadrinhos. O poder da Marvel – que desde o lançamento de Homem de Ferro, em 2008, vem construindo a maior franquia da história do cinema -, garantiu o sucesso do longa nas telonas.

Logo em seguida, foi anunciada a adaptação de Inumanos, grupo igualmente desconhecido formado por pessoas de uma espécie fictícia de seres humanos primitivos que foram cobaias de experimentos de uma raça alienígena. Mais do que nunca, está claro que a Marvel e a Disney podem lançar o filme que quiserem e as pessoas vão fazer fila nos cinemas para assistir.

Isso realça ainda mais o que a Marvel e a Disney não querem fazer: diversificar os personagens que chegam à tela grande. Não só esses estúdios, obviamente – outros responsáveis por adaptar histórias em quadrinhos mostram pouco interesse em protagonistas que não sejam brancos e do sexo masculino.

A Mulher Maravilha é a principal super heroína dos quadrinhos; uma personagem icônica que todos conhecem. A primeira vez que apareceu nos cinemas foi em Uma Aventura LEGO; nenhum dos vários filmes existentes da DC apresentaram a personagem. Em 2016, Gal Gadot trará a amazona à vida em Batman vs. Superman: Dawn of Justice, em que a atriz israelense deve ter um papel coadjuvante. Batman e Super-Homem tiveram suas histórias contadas e recontadas diversas vezes no cinema, mas a Mulher Maravilha não conseguiu sequer um filme-solo.

Viúva Negra

É compreensível que este também seja o caso da Viúva Negra de Scarlett Johansson: tanto ela quanto o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) são agentes da S.H.I.E.L.D., e Natasha Romanoff foi inserida no Universo Marvel no segundo Homem de Ferro e, desde então, é parte importante da equipe. Mas os pedidos para um filme-solo da espiã são numerosos, e vêm crescendo desde o lançamento de Capitão América: O Soldado Invernal – um filme de super-herói focado em espionagem e com uma trama mais política.

O sucesso de público e crítica de Guardiões da Galáxia e O Soldado Invernal mostra que o público está interessado em fugir um pouco dos arquétipos tradicionais das histórias de super-herói: Guardiões, afinal, é uma aventura espacial nos moldes de Star Wars. A Marvel já percebeu isso, e anunciou que o filme do Doutor Estranho já o trará estabelecido como o Mago Supremo, pulando a origem do personagem, que seria bastante semelhante à de Tony Stark. O público quer inovação, criatividade – e incluir mulheres como protagonistas é um passo essencial para isso e algo que já deveria ter acontecido.

A Viúva Negra é a única mulher em um grupo de (no primeiro filme) seis pessoas. Da mesma forma, em Guardiões da Galáxia, Gamora integra o time formado por outros quatro personagens do sexo masculino. Além disso, elas são as únicas a serem excluídas de produtos como camisetas e figuras colecionáveis – a loja norte-americana de roupas infantis The Children’s Place recebeu um e-mail de uma mãe (que, quando divulgado, levou muitas outras pessoas a repetirem a reclamação) mencionando o absurdo de as camisetas do filme trazerem todos os personagens em sua estampa, menos Gamora. A explicação da loja: a personagem feminina não foi incluída, pois a camiseta é para meninos. Obviamente, eles não pensaram em fabricar uma camiseta dos Guardiões ou apenas de Gamora para as meninas, e muito menos que os rapazes poderiam se interessar por uma personagem feminina.

Figuras colecionáveis de Gamora e Nebula foram produzidas em pequena quantidade, difíceis de serem encontradas, levando fãs no Twitter a criarem a hashtag #WheresGamora (literalmente, “onde está Gamora”). As mulheres, mesmo sendo integrantes essenciais de suas equipes e sendo personagens populares entre o público (masculino e feminino), são constantemente relegadas ao segundo plano.

A Marvel sabe criar personagens femininas, e as adaptações para os cinemas trouxeram mulheres como Peggy Carter (Capitão América), Pepper Potts (Homem de Ferro) e Jane Foster (“Thor), personagens com habilidades profissionais, inteligência e independência, que são muito mais do que o interesse romântico do protagonista. Peggy, vivida por Hayley Atwell, protagonizará em 2015 a série da ABC Agent Carter, tornando-se a primeira protagonista mulher da Marvel.

Peggy Carter

E não é como se histórias protagonizadas por mulheres não estivessem ganhando adaptações – X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, versão cinematográfica de um dos mais importantes arcos dos quadrinhos dos mutantes, tirou Kitty Pride do centro da narrativa em favor de Wolverine, que, além de protagonizar quatro dos cinco filmes dos X-Men, ainda ganhou dois filmes-solo.

Nicole Perlman, co-roteirista de Guardiões da Galáxia e primeira mulher a ser creditada como tal em um filme da Marvel, já escreveu um roteiro de um filme-solo da Viúva Negra que circulou pelos estúdios. Por que não aproveitar o momentum e produzí-lo? Quase metade da audiência de Guardiões (44%)  é do sexo feminino, porcentagem mais alta do que entre os filmes anteriores da Marvel, que costumam alcançar em torno de 40%. Mulheres estão interessadas em filmes baseados em quadrinhos, mas estes ainda estão pouco interessados nelas.

Em Os Vingadores: A Era de Ultron, dois novos personagens serão incluídos no time, Wanda e Pietro Maximoff, dando a chance de duas personagens femininas trabalharem lado a lado no filme. Outra integrante essencial – e uma das formadoras do grupo – dos Vingadores, porém, apareceria em Homem-Formiga, mas acabou sendo cortada do roteiro final: Janet Van Dyne, a Vespa. Enquanto isso, o presidente da Marvel Studios segue dizendo que é injusto culpar a suposta falta de interesse do público feminino pela ausência de protagonistas femininas, e destaca que o estúdio espera concertar a situação “o mais cedo possível” – o que, claro, não encontra suporte em nenhuma decisão tomada pela Marvel até agora.

Não há desculpas ou justificativa. Se um personagem como o Homem-Formiga pode ganhar um filme-solo, não há porque a Capitã Marvel não chegar às telonas. Se Batman e Super-Homem podem ganhar diversas séries de filmes, não há explicação para a Mulher Maravilha ser coadjuvante.

A insatisfação do público em relação ao assunto é, então, essencial se quisermos que a situação mude o mais breve possível. A série de Peggy Carter é promissora: a personagem está à frente de seu tempo, sendo uma das primeiras mulheres no Exército e também uma das criadoras da S.H.I.E.L.D; além disso, a atriz Hayley Atwell é vocal em relação a seu desapontamento com a falta de protagonistas femininas no mundo dos quadrinhos. O público sabe que está na hora de termos uma super-heroína tendo suas origens contadas em um longa-metragem e no centro da história, e quer ver isso. Os estúdios certamente sabem e, apesar de promessas vazias, nada concreto até agora. Esperemos que os pequenos passos já tomados logo transformem-se em caminhadas mais distantes, e que não tenhamos que continuar discutindo isso até a próxima década.

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4 Comentários. Deixe novo

  • Fernando, muito obrigada por seu comentário. Tomo como elogio o fato de minha coluna ter incomodado tanto um lesbofóbico e misógino como você, por ser complexo demais para sua visão de mundo limitada e pobre. Adeus!

  • Nossa que idiota alguém perder tempo insultando um texto que não é dirigido pra você! Deixa eu te contar uma coisa, caso não tenha percebido, Fernando, mulheres existem e vão ao cinema e querem se sentir representadas sim. Não sei por onde tem andado, mas parece ter saído lá do anos 50. Volte pra lá e seja feliz. Vá choramingar lá! Aqui nesse século não há mais espaço pra dinossauros retrógrados que insistem em agir como crianças mimadas. Este texto não é pra vc!
    Agora, lésbica tb não é ofensa, mas lesbofobia é crime, mané! Lésbicas ou não, adoramos essa coluna. Ela é mais que necessária. Bjos de luz pra vc, seu lesbofóbico mimado.

  • Vinicius Carlos Vieira
    08/09/2016 9:14

    Muito obrigado Fernando! Você vai esquecer a gente, mas nós faremos questão de não te esquecer, já que não é sempre que recebemos comentários tão inteligentes e argumentos tão eloquentes.
    Te convidamos ainda a visitar todas nossas outras colunas lesbico-feminista-escravogina-gayzistas – https://www.cinemaqui.com.br/especial/cinema-sem-y/ – e exalar sua inteligência por lá também.

    Assinado, Irônico, editor e crítico do CinemAqui.

  • Fernando Mendes
    06/09/2016 23:41

    Nossa, que idiota esse Tema: “Cinema sem Y”. Deve ser um site de lésbicas esse. Mulheres que não querem ver heróis masculinos só poder ser lésbicas. Ou homens feministos e escravoginas. Mais um site que eu farei questão de esquecer que existe…

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