Cemitério Maldito | Todo mundo queria um melhor “cematério de bichinhos”


[dropcap]S[/dropcap]eria muito empolgante se o novo Cemitério Maldito fosse simplesmente um “novo Cemitério Maldito”, trazendo a história para uma nova geração e mais uma vez carregasse para o cinema esse que é um dos melhores livros de Stephen King. Mas isso não acontece.

O filme é dirigido por Kevin Kolsch e Dennis Widmyer, ambos vindos de alguns filmes de terror desconhecidos (como “Starry Eyes”), mas que só estão aqui pelo sucesso da adaptação para os cinemas de It: A Coisa, que criou uma corrida em Hollywood pelo “próximo livro de King a vira dar muito dinheiro nos cinemas”. Talvez essa pressão do sucesso surja também com a obrigação de tentar ser novo e surpreender mesmo quem já estava acostumado à história original. Mesmo que isso sacrificasse alguns dos detalhes mais interessantes e importantes dela.

“Ah… mas você só está comparando os dois filmes ao invés de analisar o novo!”. Sim, principalmente, pois o filme faz questão de citar o original enquanto finge estar em um número de mágica te pedindo para olhar para o lado contrário. Portanto, é o novo Cemitério Maldito quem grita desesperado para ser comparado.

Na história, que é praticamente a mesma do original, uma família se muda para um casa nova onde descobre que, de um lado da propriedade está uma rodovia sem placa de “PARE” e do outro, um “cematério de bichinhos” que pode esconder alguns mistérios.

O interessante disso é que, durante grande parte do filme, a dupla de diretores entrega tudo que é necessário para o filme funcionar. Um visual interessante, tensão, mistério, bons personagens e uma relação interessante entre eles.

Aos poucos, isso vai sendo deixado de lado e a intenção de simplesmente surpreender a todos começa a ser mais importante do que contar essa ótima história do jeitinho que ela deveria ser contada. E seria impossível passar por esse problema sem se permitir discutir alguns spoilers.

Enquanto no original a vítima do acidente na estrada é o pequeno Gage, aqui quem morre é a sua irmã Ellie, muito mais velha. Isso quer dizer que, ao invés da aterradora imagem de uma criancinha de dois (ou três anos) se tornando um maníaco homicida, o roteiro escrito por Matt Greenberg e Jeff Buhler decide não desenvolver o menino enquanto só olha para a menina, até que “finge” manter a história original para, no final das contas, apelar para um acidente visualmente extravagante e sem o menor interesse.

O resultado disso é um desenvolvimento apressado do pai, Louis (Jason Clarke), que simplesmente reage a uma situação com violência e desespero ao invés de lidar com a situação e isso ir quebrando sua sanidade, para no final, simplesmente abraçar essa loucura e não simplesmente se tornar uma vítima qualquer.

Um novo Cemitério Maldito onde tudo isso é substituído pela simples presença de uma família meio zumbi e uma solução preguiçosa e sem graça.

Resumindo, por mais que na primeira metade de Cemitério Maldito, Kolsch e Widmyer consigam rumar para tudo aquilo que o filme precisaria ter, de uma hora para outra, escorregam no desespero de quebrar a expectativa do seu público ao invés de, simplesmente, entregar a melhor história para eles.

Pior ainda, talvez não seja isso, e sobraria para gente o desafio de entender de onde saiu a necessidade dessas mudanças. Talvez o medo de criar um filme perturbador demais para uma geração mais sensível. Curiosamente, como eu disse, Cemitério Maldito só existe, justamente, pois It: A Coisa se debruça sobre a história original da maneira mais precisa possível e apostando no terror propriamente dito, mesmo que se distanciando de um público “mais sensível”.

O resultado de It: A Coisa foi mais de US$ 700 milhões de bilheteria pelo mundo, o que demonstra que, talvez, se manter fiel ao material que tinha em mãos fosse uma solução que agrade mais o público do que tentar quebrar essa expectativa enquanto se permite ser um filme covarde mais leve. Algo que Cemitério Maldito, umas das histórias mais interessantes do “Mestre do Terror”, não merecia.


“Pet Sematary” (EUA, 2019), escrito por Matt Greenberg e Jeff Buhler, dirigido Kevin Kolsch e Dennis Widmyer, com Jason Clarke, Amy Seimetz, John Lithgow, Jeté Laurence, Hugo Lavoie e Lucas Lavoie.


Trailer do Filme – Cemitério Maldito

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