Caso 39

Não é mentira, nem novidade, que o terror seja talvez o gênero que mais sobrevive graças a uma antropofagia narrativa. Se desde seus primórdios a grande maioria de suas produções seguem uma estrutura semelhante e necessária para tudo funcionar (diante de pouquíssimas exceções de tempos em tempos), uma certa movimentação por meio de “modinhas”, mesmo resultando em uma ou outra pérola, é sempre marcado por um número muito maior de desastres, Caso 39 é um desses.

Na trama, Renée Zellweguer é uma assistente social que acaba ficando com a guarda de uma garotinha que por pouco não é assassinada pelos pais. Como o gênero obriga, a tal menininha acaba não sendo flor que se cheire e a mãe adotiva só acaba descobrindo isso um pouco tarde demais.

Dirigido pelo mesmo Christian Alvart, que, logo depois, cometeu o erro Pandorum (mas que chegou antes ao Brasil), Caso 39 consegue até segurar a atenção do espectador em um começo misterioso, que não diz muito à que veio, porém estende essa idéia além da conta e faz com que se chegue quase a metade do filme à espera do terror prometido pela sinopse e pelo trailer. E se em muitas produções isso acaba funcionando como uma sutil preparação para o que tem por vir, aqui acaba sendo apenas uma tentativa equivocada de criar uma calmaria para ser chacoalhada a diante. Em vão, já que isso não acontece.

É verdade que a menininha Jordelle Ferland é uma boa escolha, já que carrega consigo um certo ar fantasmagórico de seus trabalhos anteriores, mas o roteiro de Ray Right trapaceia com o espectador a não demonstra em nenhum momento sequer qualquer coisa que pudesse fazê-la se tornar algo demoníaco e mal tempos depois. Em um momento ela é uma criança maltratada pelos pais, logo depois está ameaçando intelectualmente seu psicólogo, e, muito mais rápido ainda a personagem de Zellwegguer está perambulando pela casa com uma faca com medo da menina. Como se todo tempo perdido até o filme despertar dentro do gênero precisasse ser recuperado na metade seguinte do filme.

Para piorar tudo, a direção de Alvart é tão desinteressante que não consegue criar sequer um plano interessante, se movimentando sem força por um monte de clichês visuais e exatos três sustos (um com um relógio, um com uma batida e um último com um cachorro), não guardando nem ao menos um espaço para (aqui vai um Spoiler) o demônio meio CGI, mas cheio de vergonha, que a garotinha se transforma em alguns relances. (fim do Spoiler)

Caso 39 aposta em uma menininha um tanto quanto macabra para se sustentar como filme e esquece-se de, tanto contar uma história interessante com um mínimo de lógica, quanto de explorar qualquer tipo de terror, ficando muito no “quase” e pouco até na sugestão de qualquer coisa, já que não guarda surpresa nenhuma, nem para sua história e muito menos para o gênero. Apenas chateando quem vai à procura de um pouco de diversão.


Case 39 (EUA/CAN, 2009) escrito por Ray Wright, dirigido por Christian Alvart, com Renée Zellweger, Jodell Ferland, Ian McShane e Bradley Cooper


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