Bwakaw

Além de ser o título do filme, Bwakaw é o nome de uma cachorrinha simpática (Princess) que estrela esse filme filipino, mas nem por isso Bwakaw é sobre ele. Na verdade Bwakaw é sobre seu dono, Rene (o ótimo Eddie Garcia), e talvez sobre mais Bwakaw Posterum monte de gente que, assim como ele, precisam aprender a viver, mesmo que só lhes reste isso.

E com isso em mente, o filme do diretor Jun Lun (que também escreve o roteiro) tem liberdade então para um delicioso, porém melancólico, estudo de personagem que dá de cara com esse senhor de 60 anos, gay, que ainda mantém a rotina limpando um posto de correio com pouquíssimo movimento, mesmo muito tempo depois de ter se aposentado. Um homem amargurado e rabugento que parece não ter nenhuma paciência com absolutamente ninguém à sua volta, mas que acaba tendo que aprender que, por mais que lhe reste tão pouco na vida, o melhor é seguir em frente.

Lun então, assim como usa a relação de Rene com esse cachorrinho que o acompanha o tempo inteiro, e mais para o fim acaba descobrindo ter uma doença que faz o dono mudar ainda mais de atitude com os outros, entrelaça essa e outras pequenas histórias para tentar entender quem é esse protagonista. De onde saiu toda essa dor de uma vida vivida encoberto pela culpa (católica e moral) de ser homossexual e de apenas há pouco tempo se aceitar sendo quem realmente é.

E enquanto o diretor discute com sensibilidade um assunto tão frágil como esse, encontra espaço para um humor corriqueiro e que balanceia perfeitamente o peso desse lado sério e que, com certeza, irá emocionar qualquer espectador. Bwakaw (o filme, não a cadela), brinca com a morte de uma amiga do protagonista em uma situação completamente inesperada e até se diverte com uma espécie de velório por engano onde Rene acaba se metendo, momentos que parecem fugir do tom melancólico do filme, mas são o combustível ideal para equilibrar a tristeza para onde tudo caminha. Até por que não existiria nenhum outro caminho a ser seguido.

Bwakaw Filme

Essa facilidade de equilibrar o tom do filme ainda vem com um belo e delicado trabalho do diretor, que cria um homem “feminino” em cada detalhe, mas que não deixa isso fugir de sua persona e encontrar sua casa morta e sem cor. Uma opção estética que persegue o protagonista por onde ele anda e cria um arco narrativo poderoso enquanto irrompe por todas as dificuldades que ele acaba tendo diante da única opção que descobre ter: que é ser ele mesmo.

Entretanto, para chegar nesse objetivo, Bwakaw acaba, no final das contas, sendo uma experiência que não prima pela leveza, já que o espectador é obrigado acompanhar Rene nesse caminho, nessa segunda chance que tem diante da luz e das cores que voltam à sua casa, mas graças a um passado (e alguns momentos mais recentes ainda) que não permitirão que ele siga sua vida sem continuar dando de encontro a eles. Um filme que busca esperança para seu protagonista, mas não o isenta de culpa de suas decisões.

Um resultado triste, mas que é impossível de ser ignorado.


“Bwakaw” (PHL, 2012) escrito e dirigido por Jun Lana, com Eddie Garcia, Princess, Rez Cortez, Bibeth Orteza, Joey Paras e Soxy Topacio


Essa crítica é parte da cobertura da Itinerância da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Trailer do filme Bwakaw

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