Bronx | “FUBAR”


Mesmo depois de quase duas horas de policiais durões se metendo em tiroteios sem sentido nas ruas de Marselha, na França, você não entenderá a razão do filme se chamar Bronx. Também não entenderá de onde metade da trama saiu, mas tudo bem.

O filme é escrito e dirigido pelo francês Olivier Marchal e é uma daquelas apostas da Netflix de emplacar uma grande produção não falada em inglês, mas que tem todos detalhes, clichês e estereótipos de gênero. Aqueles mesmos que Hollywood adora. E isso nem chega a ser um problema, já que o começo do filme cumpre absolutamente tudo aquilo a que se propõe.

O começo tem seu poder, primeiro mostrando um dos personagens cometendo uma espécie de “suicídio serial”, sobrando até para o cachorro. Na sequência você descobre que o mesmo é um policial de uma equipe de elite que é tremendamente humanizada enquanto ajudam um chefão do crimo local a se despedir da esposa com câncer terminal. Em cinco minutos de Bronx o espectador já foi colado de cabeça para baixo tendo que torcer para o matador de cãozinhos e aceitando a dor do bandido.

Mas Bronx está só no começo, o que vem em seguida é uma trama envolvendo não só a chegada de um novo chefe na polícia (Jean Reno), como um tiroteio entre duas gangues rivais, um policial corrupto e uma encruzilhada onde a tal equipe de elite precisa escolher que caminho tomar. O resultado de tudo isso é tragédia regada a muitas saraivadas de metralhadoras, escopetas, um cara pelado sendo perseguido e um monte de outros detalhes que se juntam em uma bagunça gigante.

Do meio do filme para frente você realmente não irá entender direito as motivações de ninguém, nem de onde eles tiram as ideias para as ações que se seguem, mas como a trama não para muito, isso acaba não incomodando muito. Ainda mais com o espectador soterrado por uma montanha de clichês que vão desde policial alcoólatra até um outro que mora em um barco porque acha que está no Miami Vice.

E quanto mais a trama anda, mais surgem novos personagens e situações que embolam qualquer possibilidade de o filme chegar em um final minimamente otimista. Por mais que você não esqueça do cachorro sendo assassinado à sangue frio no começo, sempre há aquela esperança de redenção depois que os personagens pagam seus pecados.  Mas não se empolgue, não é isso que irá acontecer, principalmente, pois Marchal parece não saber a hora de parar. E isso deixa o filme insuportável em seus momentos finais.

Com intuito de surpreender, a trama de Bronx simplesmente saca um epílogo que, por mais que faça sentido e tenha sua mensagem, parece mais um “Deus Ex-Machina” do que algo planejado desde o começo, principalmente, pois a motivação para isso só surge lá para o final do 2° ato.

Entretanto, quem está acostumado com os policiais enlatados de Hollywood e ignora o pessimismo de gente como David Ayer (no começo de carreira) e James Gray (quando se mete no gênero), vai se surpreender com a ideia de que nem tudo acaba “feliz para sempre” para os heróis e que seus pecados sempre voltam para cobrar em dobro. Isso pode dar uma sobrevida para Bronx no meio das incontáveis fileiras de filmes esquecíveis da Netflix. Mas isso não quer dizer que você entenderá o nome do filme.

A explicação mais perto disso parece ser que os franceses usam a expressão “Bronx” como uma espécie de expressão xenófoba ligada ao bairro americano que aponta aquele momento onde todo mundo está sem esperança, os yankees usam a expressão FUBAR (“fucked” além de qualquer tipo de recuperação/reconhecimento/reparo). Mas parece também que o filme vem com esse título para facilitar algum remake que se passa no Bronx e estará cheio de atores de Hollywood  no papel de policiais durões que andam por ai com a arma presa à cintura e sem o conhecimento da invenção dos coldres.


“Bronx” (Fra/2020); escrito e dirigido por Olivier Marchal; com Lannick Gautry, Stanislas Merhar, Kaaris, David Belle, Jean Reno, Moussa Maaskri, Catherine Marchal, Francis Renaud, Erika Sainte e Jeanne Bournaud


Trailer do filme – Bronx

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