Borat: Fita de Cinema Seguinte | Uma carta de carinho para os idiotas e imbecis

Não existe muito a se dizer de Borat: Fita de Cinema Seguinte.  Há uma desculpa para Sacha Baron Cohen voltar aos Estados Unidos com seu jornalista do Cazaquistão para cutucar mais ainda as idiotices estruturais do país, mas só isso. O que não chega a ser um problema, já que o filme é bem eficiente em suas pretensões.

O filme é uma continuação direta do primeiro Borat, de 2016, mas agora o “segundo maior repórter do Cazaquistão” voltou dos Estados Unidos com o fracasso de sua missão, afinal, Barack Obama foi eleito. O resultado é uma década em um gulag, até que a eleição de Donald Trump abre uma nova oportunidade de tentar colocar o seu país no clube de potências com premiês que conversam com um certo fascismo ideológico. No clube consta uma referência ao nosso presidente, mas essa vergonha a gente passa rápido, o foco dele é outro.

A desculpa agora para Borat voltar aos Estados Unidos é levar um presente para o vice-presidente Mike Pence, um macaco que é um astro da indústria pornô do Cazaquistão. Acontece que o macaco acaba morrendo e no lugar dele Borat decide entregar para Pence a própria filha de 15 anos, Tutar (Maria Bakalova).

O que se segue é Borat e Tutar vagando pelos Estados Unidos tentando criar o maior número de constrangimentos possíveis através de um fiapo de roteiro. Ninguém realmente se importa com a trama, tudo parece ir surgindo como possibilidade para os dois esfregarem na cara dos americanos, mais uma vez, o quanto eles podem ser completos idiotas em diversas gamas de imbecilidades e preconceitos.

As críticas não são novidade para ninguém, e nem o roteiro escrito por Sacha Baron Cohen e mais uma multidão de nomes parecem se importar com isso. A diferença agora é o foco nesse lado político dos Estados Unidos. Borat volta à terra do Tio Sam para bagunçar a maior quantidade possível de republicanos, conservadores e ricos tradicionais de uma cidadezinha do interior. Resumindo, eleitores do Trump, e o que não falta é vergonha para esse pessoal passar.

Borat vai até esse limite, talvez tenha menos sketchs que o primeiro, mas trabalha muito bem cada uma delas. A dança no baile de debutantes talvez seja uma das coisas mais constrangedoras que você vá ver em 2020. De outro lado, entrar em uma convecção do Partido Conservador vestindo uma túnica da KKK é agressivo o suficiente para você morrer de dar risada. Mas a cena é curta e logo Borat está fantasiado de Trump e sendo expulso da reunião.

Portanto, mais do que os risos constrangedores, esse segundo Borat é ainda um exercício de produção impressionante. Sacha Baron Cohen se mete em lugares incrivelmente impressionantes com suas câmeras e é difícil imaginar como aquilo aconteceu, legalmente falando. Sem esquecer, é claro, o perigo.

A relação de Borat com dois caipiras trumpistas clássicos durante a pandemia de Covid-19 beira o bizarro e isso o leva a uma feira onde mais da metade de seus espectadores está armado enquanto ele grita absurdos em um palco. Tudo parece tão malucamente exagerado que é difícil acreditar que você está vendo aquilo.

E isso porque nem chegamos a discutir a infame participação do ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani (atual advogado preferido de Donald Trump).

No final das contas, o exagero, a maluquice e essa complexidade jurídica e de produção fazem de Borat: Fita de Cinema Seguinte um filme que se tem pouco a dizer, o melhor mesmo é vê-lo e aproveitar um pouco desse esforço de Sacha Baron Cohen para esfregar na cara dos Estados Unidos tudo aquilo de mais horrível, preconceituoso, retrógrado, misógino, imbecil, racista, reacionário, negacionista e idiota. Resumindo, tudo aquilo que elegeu Donald Trump.


“Borat: Subsequent Moviefilm” (EUA, 2020); escrito por Sacha Baron Cohen, Anthony Hines, Dan Swimer, Peter Baynham, Erica Rivinoja, Dan Mazer, Jena Friedman, Lee Kern e Nica Pedrad; dirigido por Jason Woliner; com Sacha Baron Cohen, Maria Bakalova, Tom Hanks, Rudy Giuliani e Mike Pence


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