Bloodshot | Pelo menos tenta ser diferente


[dropcap]N[/dropcap]em só de Marvel e DC sobrevive o mundo dos super-heróis. Nos quadrinhos as opções são incontáveis e, mais cedo ou mais tarde, a tendência é que isso também aconteça nos cinemas. Bloodshot talvez seja só a ponta desse iceberg.

Mas antes disso, um pouco de história. Bloodshot é um dos “carros-chefe” da Valiant, editoria que surgiu nos anos 90 sob o controle do ex-editor da Marvel que a comandou depois da saída de Stan Lee nos anos 70. Jim Shooter conseguiu emplacar alguns sucessos com a Valiant nesse primeiro momento, mas a editoria chegou perto do fim do poço e voltou em 2012, já sem Shooter e com uma proposta muito mais realista e perto do hype que uma década de X-Men, Homem-Aranha e Blade estavam fazendo no cinema.

Sim, a nova Valiant vem com cara de adaptação para o cinema, é só dar uma passada de olhos nela que qualquer um percebe isso. Bloodshot praticamente saiu nas bancas já com um contrato com a Sony, e desde de 2013 o filme com o herói tropeçava pelos corredores de Hollywood.

Talvez esse atraso todo tenha feito bem para o filme. Bloodshot então estreia nos cinemas em um ano onde a própria Marvel não irá apostar em seus grandes super-heróis, enquanto a Warner/DC não vem colecionando só sucessos. Isso talvez faça com que Bloodshot seja lembrado por mais que seis meses, o que já é ótimo para as óbvias baixas inspirações do filme.

O atraso também, muito provavelmente, fez bem para seu visual. Por mais que Bloodshot, por definição, seja um filme de ação “pé no chão”, quando você acrescenta a ele um monte de CGI tudo fica ainda mais legal. Principalmente, porque a história não é lá essas coisas.

Escrito por Jeff Wadlow (Kick-Ass 2) e Eric Heisserer (indicado ao Oscar por A Chegada, mas também roteirista de Bird Box, portanto…), Bloodshot começa contando uma história tão batida, que é difícil não se irritar com ela antes de ser surpreendido e ganhar um bom filme classudo sobre vingança.

Nele, Vin Diesel é Ray Garrison, um soldado delta daqueles que não obedecem a ordens, invadem o covil dos terroristas sem esperar ninguém, salvam o refém e voltam para casa com uma loira esperando por eles em um carro conversível em uma cidade paradisíaca. Mas um vilão caricato e que dança ao som de “Psycho Killer”, do Talking Heads, acaba matando ele e sua esposa (que na legendagem brasileira, irritantemente, decide ignorar o bom senso e fazer “wife” virar “mulher”).

A segunda chance de Ray acontece quando ele acorda em um laboratório modernão com o cientista vivido por Guy Pearce lhe explicando que ele agora é formado por “nanitas”, pequenos robozinhos que curam ele de praticamente qualquer coisa. Cinco minutos depois, Ray está então em uma jornada suicida para trucidar o tal vilão caricato “psycho killer” enquanto testa todos seus novos poderes.

O bom disso é perceber que tudo está acontecendo cedo demais na trama, com isso, a virada do roteiro funciona bem, engana todos espectadores e permite que aproveitem uma sobrevida que, se não foge muito das mesmas motivações, pelo menos é algo que você não esperava em um primeiro momento (já em um “segundo momento”, você imagina tudo o que irá acontecer).

Mas talvez o que mais salve o filme não seja a ausência de carisma que Vin Diesel vem desenvolvendo ao, simplesmente, interpretar o mesmo personagem em todos filmes, mas sim o trabalho de Dave Wilson. O diretor “estreou” no segmento “Sonnie´s Edge” na série de animação da Netflix, Love, Death & Robots, mas tem uma carreira no mundo dos vídeo-games onde comandou alguns grandes sucessos quando o assunto são aqueles trailers cinematográficos que precedem lançamentos famosos como: Mass Effect 2, Bioshok Infinite, The Division e praticamente todos Star Wars desde The Force Unleashed II. Tudo bem se você não está acostumado com esse mundo dos games, quem está, com certeza ficará satisfeito com o currículo do rapaz.

De qualquer jeito, isso significa que Wilson entende bastante de cenas de ação empolgantes e que conseguem ser enxergadas e admiradas em todo seu CGI e câmera lenta. Portanto, Bloodshot é um espetáculo acima da média do gênero, com lutas bem coreografadas e um visual que chama a atenção. A luta final, no lado de fora do prédio, dura um tempão e em nenhum momento se torna cansativa e muito menos repetitiva.

E falando em “repetição”, note como no momento em que Wilson tem em mãos uma sequência que poderia ser a repetição de uma anterior, ele prefere focar seus esforços narrativos na tensão do vilão tentando acionar uma bomba enquanto o protagonista vai chegando mais perto dele em uma montagem paralela eficiente e divertida.

Talvez seja essa a maior arma de Bloodshot, brigar pela possibilidade de não ser apenas mais um filme de ação enlatado e descartável… por mais que seja. Sem conseguir fugir disso, pelo menos se esforçar para ser diferente é algo que deve ser levado em conta e celebrado antes de você esquecer de Bloodshot daqui a uns seis ou oito meses.


“Bloodshot” (EUA, 2020), escrito por Jeff Wadlow e Eric Heisserer, dirigido por Dave Wilson, com Vin Diesel, Eiza González, Sam Heughan, Tobby Kebbell, Lamorne Morris e Guy Pearce.


Trailer do Filme – Bloodshot

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