Bling Ring – A Gangue de Hollywood

Ainda que o ponto alto da carreira artística de Sofia Copolla seja morrer nas escadarias da estreia da ópera do irmão em O Poderoso Chefão III (e se isso foi um spoiler, você que acha isso devia é se envergonhar de não ter visto o mesmo), ela completa agora, em Bling Ring PosterBling Ring – A Gangue de Hollywood, seu quinto filme na direção (e roteiro) e mostra, definitivamente, que aquela garotinha morreu e reviveu como uma das diretoras mais interessantes do cinema atual.

Porém, isso não garante que a adaptação (por ela mesma) do artigo escrito por Nancy Jo Sales (publicado na Vanity Fair em março de 2010) seja nem perto de seu melhor filme, talvez então o mais maduro, já que impõe, sem escorregões, sua assinatura estética e narrativa (e por que não ideológica) em uma história que prima muito mais pela curiosidade do que pela profundidade.

O interessante disso é que a diretora, mesmo diante de um material até certo ponto superficial, continua a discutir aquele mesmo vazio da fama que moveu seus personagens em Encontros e Desencontros, que procurou mais ainda essa falta de objetivo em Um Lugar Qualquer e deu status de postar para Maria Antonieta. Como se agora Sofia Copolla olhasse além dessas personalidades, em direção ao mundo que às rodeia.

Bling Ring – A Gangue de Hollywood então é sobre esse mundo que fica abaixo das mansões das estrelas de Hollywood, que muitas vezes até orbita essas mesmas em festas e baladas, mas que estão sempre à procura da oportunidade de se tornarem elas próprias essas celebridades. Um mundo que serve de combustível, principalmente em Hollywood, para programas como TMZ e sites como o que encontra os endereços das estrelas. Dupla que serviu de ferramenta na mão da tal “gangue de Hollywood”.

Nesse caso, a gangue era um grupo de amigos de Los Angeles que se juntavam para invadir casas de celebridades enquanto essas estavam fora da cidade, ou em grandes festas como o Oscar (como é o caso de um dos assaltos). Os roubos realmente aconteceram, lá por volta de 2009, e diante disso, Sofia Coppola faz de tudo para criar uma experiência realista e crível. E se isso quer dizer personagens muito menos desenvolvidos que em todos seus outros filmes, isso também quer dizer um ótimo trabalho diante do pouquíssimo material com o qual trabalha.

Copolla então se esforça para não julgar ninguém, tanto durante toda a história quanto quando prefere apenas ver a porta do julgamento deles fechar e abrir, observando pelo lado de fora as sentenças desses personagens que, de acordo com um deles, ironicamente, “se tornaram famosos por fazerem algo que a mesma sociedade que os celebra acha desprezível”.

E por, obviamente, o caso deles ter ficado tão famoso nos EUA, a diretora é obrigada a tomar o caminho mais complicado enquanto se esforça para humanizar cada um dos envolvidos, seja apresentando alguns deles como mais um perfil comum do Facebook logo no começo, seja criando essa espécie de loirinha riquinha que fala como rapper (Claire Julien). Assim como abusa do começo loser do protagonista Israel Broussard, mesmo que em pouco tempo o personagem deixe um pouco de lado essa insegurança, e se diverte com a presença da ex-Harmione (Harry Potter), Emma Watson, no papel mais divertido do filme. Opções que acabam parecendo apressadas e supérfluas, principalmente diante dos outros trabalhos da diretora, mas que ajudam em muito a não tornar o filme torturante.

Bling Ring Filme

“Torturante”, pois se trata de um monte de jovens roubando casas simplesmente por terem a oportunidade disso. E por mais que fiquem óbvias suas motivações passarem pela vontade de “serem seus ídolos”, assim como pelo prazer de serem reconhecidos por isso, é exatamente o afastamento da diretora dessa profundidade (que, diga-se de passagem não existe no artigo original e que teria que ser inventada no filme) que permite, principalmente à personagem de Katie Chang não se tornar uma vilã (nem no final) e possibilita ao espectador poder, simplesmente, acompanhar a história sem torcer por esse ou por aquele personagem (como é comum nas obras da diretora).

É claro também que a leveza da situação não permite outra opção, afinal Bling Ring – A Gangue de Hollywood não é trágico nem violento, mesmo com o final do personagem de Broussard soando como uma espécie de lição de moral, ao para a penitenciária cercado de criminosos “de verdade”, tão sozinho em sua “nova casa” como quando chegou ao novo colégio, antes de conhecer Rebecca (Chang), uma espécie de líder da gangue. Momento que não se importa de ser contraposto pelo discurso extravagante de Nicki (Watson), em mais um dos divertidos momentos que a atriz tem para criar essa personagem.

E falando em Emma Watson, é bom deixar claro o quanto a atriz parece completamente à vontade e bem longe de Hogwarts, ficando sempre no limite entre uma personagem sexy e que vive em um mundo que só parece fazer sentido para ela mesma. Uma boa atuação que acaba refletindo no trabalho pouco interessante do resto do elenco (que chega até a vergonhosa ponta do vocalista do Bush, Gavin Rossdale, que é melhor não pensar em parar de cantar ainda). Um problema que também mostra que Sofia Copolla está mais que pronta para segurar esse tipo de problema, pois isso pouco influência o resultado final.

E não só não atrapalha, como ainda não a impede de fazer seu trabalho com segurança e determinação. À vontade com uma estática moderna que tanto acompanha as fotos posadas para o celular, como, ainda por cima, não se se sente acanhada de enxergar esse mundo através da webcam do computador de um deles. Coppolla, mais até que em seus outros filmes, parece preparada para absorver melhor uma série de referências estéticas que fazem com que Bling Ring – A Gangue de Hollywood se torne uma experiência moderna e, ao mesmo tempo, clássica.

Bling Ring Filme

Esse segundo momento vem do cuidado com que ela está, na maioria do tempo, observando o mundo através de seu protagonista (sobre seu ombro), que mesmo diante de tudo, continua sozinho nesse mundo em que tem que esconder seus “troféus” em um baú, ou sob sua cama. Um retrato que permite uma dramaticidade interessante ao personagem e que, maquiavelicamente (no bom sentido), o coloca como grande vítima de toda situação diante de sua ingenuidade.

Entretanto, do mesmo modo que tem a genialidade de se afastar do segundo roubo, acompanhando a dupla através das paredes de vidro da mansão, mudando aquela série de planos da primeira ação e mostrando que, a partir daquele momento tudo seria diferente e surpreendendo o espectador, tempos depois não consegue fugir de uma série de slow motions sem sentido e uma passagem de tempo igual demais a tudo que já se viu em termos de passagens de tempo. Uma mesmice que está bem longe dos melhores momentos da diretora.

Mas o resultado final deBling Ring – A Gangue de Hollywood é um filme recheado desses momentos interessantes, e ainda que não seja o melhor da curta carreira da diretora (muito provavelmente, acabe entrando como o mais fraco de todos), ainda assim é o retrato de uma cineasta que já entrou para o clube daqueles que, mesmo em seu pior momento ainda é melhor que a grande maioria do que o cinema tem a oferecer.


Bling Ring (EUA, 2013), escrito por Sofia Copolla, a partir de um artigo de Nancy Jo Sales, dirigido por Sofia Copolla, com Katie Chang, Israel Broussard, Emm Watson, Claire Julien, Taissa Farmiga e Leslie Mann.


Trailer do filme Bling Ring – A Gangue de Hollywood

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