Bem-Vindo à Chechênia | Uma guerra ainda mais violenta


“Não saímos por causa do país, mas por causa do povo”. A frase, dita por uma das muitas pessoas que se tornaram refugiadas por causa de sua orientação sexual, resume bem a tristeza da situação retratada por Bem-Vindo à Chechênia: aquele nível de violência pode parecer distante (se você tem o privilégio de não testemunhá-la ou vivê-la na pele dia após dia), mas, mais ou menos visível, é a realidade de pessoas LGBTI+ em qualquer lugar do mundo.

Por isso mesmo, questiono a forma com que o documentário expõe na tela cenas reais de violência — ainda que funcione como um “tratamento de choque” para quem tem pouca noção dessa realidade, será mesmo que as pessoas que sofrem aquilo tudo precisam ver minorias sendo torturadas? A realidade já não faz isso o bastante?

Mais eficazes são momentos tão melancólicos quanto ternos, como a forma com que um jovem, de olhar entristecido, acaricia as mãos do namorado enquanto ele narra o que sofreu nas mãos da polícia. Tais momentos humanizam as vítimas, mostrando-os como indivíduos para além do que aquilo que sofreram, para além dos números da tragédia.

“É uma vergonha ser gay na Chechênia”, alguém conta, e tal vergonha “é lavada com sangue”. Fugir de casa, esconder a sexualidade da família, passar a vida inteira fingindo ser o que não é, ou arriscar ser torturado pela polícia e depois morto pela própria família — essas são, basicamente, as opções para quem é LGBTI+ naquela região. Pode ser menos escancarado, mas não tenha dúvidas: não é muito diferente no Brasil ou em qualquer outro lugar.

Retratando também a coragem daquelas pessoas de não apenas contarem o que sofreram, mas de arriscarem as próprias vidas nesse processo e na tentativa de impedir que esse absurdo continue acontecendo sem que ninguém faça nada, Bem-Vindo à Chechênia definitivamente tem uma causa nobre, ainda que nem sempre acerte nesse caminho.


Welcome To Chechnya” (EUA, 2020); escrito por David France e Tyler H. Walk; dirigido por David France.


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