Armas na Mesa Filme

Armas na Mesa | Um filme interessante, relevante, atual e com uma protagonista à altura de tudo isso


Armas na Mesa é, definitivamente, um filme interessante. Lidando com dois assuntos extremamente relevantes atualmente ¿ a sujeira da política norte-americana e a luta por um maior controle na venda de armas ¿, a produção ainda nos apresenta a uma protagonista complexa, arrogante, brilhante, ambiciosa e, frequentemente, detestável. São características que protagonistas femininas raramente podem possuir em Hollywood, especialmente de forma carismática.

Pois, mesmo que compreendamos as reações dos demais personagens diante da frieza e das estratégias da lobbysta Elizabeth Sloane (Jessica Chastain), ficamos sempre do lado dela, e é impossível não vibrar diante de suas frases de efeito e jogadas certeiras. Afinal, por mais que seus atos sejam discutíveis, sua causa é certamente nobre. Além disso, é revigorante acompanhar uma protagonista definida por seu trabalho, ambição e inteligência.

O diretor John Madden e o roteirista Jonathan Perera fazem um belo trabalho na caracterização de Sloane, algo acentuado pelo talento habitual de Jessica Chastain. Ela constrói a (anti-)heroína com segurança e cinismo, fazendo de Sloane uma mulher que abomina qualquer demonstração pública de vulnerabilidade. Aliás, é justamente isso que a atrai em Esme Manucharian (a excelente Gugu Mbatha-Raw), uma colega enfrentando seus próprios demônios de maneira bastante diferente da sua.

A trama acompanha Sloane sendo julgada pela suposta falta de ética em seu trabalho e os eventos que levaram até isso. O montador Alexander Berner percorre os diferentes tempos com fluidez, imprimindo um ritmo acelerado, envolvente e certeiro à produção. Madden, por sua vez, comanda Armas na Mesa com segurança, voltando a dirigir Chastain depois de trabalhar com ela em A Grande Mentira, de 2010.

De forma sutil, Perera e Madden demonstram a maneira com que uma mulher ambiciosa e talentosa é enxergada por seus colegas masculinos, como no momento em que o representante do grupo pró-armas pergunta se Sloane deve ser cumprimentada com um beijo ou com um aperto de mão (ao entrar na sala, ela imediatamente vai para o aperto de mão) e que, assim que a conhece, já se sente no direito de chamá-la de ¿Liz¿.

Enquanto isso, Perera acerta ao não revelar muitos detalhes sobre a história de vida da protagonista, algo condizente com sua personalidade fechada. Da mesma maneira, os óbvios problemas psicológicos de Sloane são tratados de forma certeira e com seriedade, ao mesmo tempo em que não a definem. Os demais personagens também são figuras multifacetadas e complexas, trazidos à vida por um elenco competente.

Armas na Mesa Crítica

Entretanto, por mais que Armas na Mesa abrace o cinismo e a frieza como forma de impactar e de entregar momentos marcantes e frases de impacto, a verdade é que os realizadores, em última instância, não resistem ao otimismo e ao sentimentalismo. Isso tira algo da força do longa, pois esses momentos surgem deslocados. É como diz a expressão em inglês: ¿You can¿t have your cake and eat it too¿; Madden obviamente ambiciona entregar uma obra analítica, mas não resiste à tentação de encerrá-la de maneira mais leve.

Afinal, diante do cenário político e cultural retratado aqui, fica difícil de acreditar que esse mesmo governo tomaria a decisão anunciada por Sloane em sua penúltima cena. Da mesma forma, o garoto de programa interpretado por Jake Lacy jamais encontra um lugar na trama: enquanto o arranjo faz sentido para Sloane (¿É uma lembrança da vida que eu escolhi deixar de lado¿), as ações tomadas por ele fora do quarto de hotel são absurdamente ingênuas.

Mais eficientes são as demonstrações dos oponentes de Sloane, que está sempre um passo à frente deles. Afinal, como não se enfurecer diante da falta de lógica e da paixão por um objeto criado para matar daquelas pessoas? Por outro lado, o acontecimento envolvendo Esme é outro exemplo da dramaticidade exagerada a que o filme tende a se entregar.

Armas na Mesa, assim, tem sua parcela de problemas. Acima de tudo, porém, encontra em Elizabeth Sloane, uma personagem fascinante e marcante que merece ser conhecida.


¿Miss Sloane¿ (EUA/Fra, 2016), escrito por Jonathan Perera, dirigido por John Madden, com Jessica Chastain, Gugu Mbatha-Raw, Mark Strong, Alison Pill, Jake Lacy e John Lithgow.


Trailer – Armas na Mesa

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