Ameaça Profunda | Tirou zero na “Escala Alien”

Ameaça Profunda é um candidato a Alien: O Oitavo Passageiro embaixo da água, só que em uma versão alternativa onde todas as grandes sacadas do filme de Ridley Scott deram errado ou sequer foram cogitadas.

Um exemplo de filme de terror que, diferente dos outros filmes da década deste gênero, não evoluiu. Irá passar despercebido nos cinemas e será visto ocasionalmente em canais por assinatura às três da manhã ou em serviços de streaming que vão acabar o recomendando no final de um outro filme porque pagaram barato e alguém precisa assistir para justificar a compra.

Sua estrela é Kristen Stewart, que está idêntica à época em que a Demi Moore queria ser levada a sério e raspou a cabeça. Muitos se lembram hoje de Até o Limite da Honra por ser um filme simpático e temático, mas provavelmente ninguém vai se lembrar de Ameaça Profunda o ano que vem. E olha que Stewart tenta com muito esforço, mas sem muitas chances, trazer humanidade para uma protagonista em um filme que lembra mais o roteiro de um vídeo-game. Ela passa a impressão correta de uma pessoa fragilizada que transforma suas últimas forças em um movimento vital, mas este filme de sustos e gore não está se importando muito com isso.

A história nunca convence desde o início por partir de pressupostos econômicos que não fazem o menor sentido. Começa descrevendo uma corporação que supostamente se blinda com propaganda (deslocada, tirada de outros filmes) enquanto realiza perfurações no solo mais profundo do oceano. O que eles procuram? Minerais valiosos? No lugar mais inacessível possível? Quem é o CEO brilhante desta companhia? Eles também tentam abafar casos de mortes e desaparecimento nas instalações a 10 km de profundidade como se toda obra faraônica como essa já não envolvesse ambos. Ignorando que a descoberta de seres vivos visíveis a olho nu neste local poderia trazer investimentos fáceis de órgãos de pesquisa para continuarem explorando, pelo menos a única decência do roteiro de Brian Duffield e Adam Cozad é nunca afirmar que uma empresa dessas está tendo lucros exorbitantes.

Na verdade, a única verossimilhança com a vida real é que eles parecem ter várias instalações abandonadas.

Por mais brilhante que seja o elenco, é impossível acreditar em qualquer uma das seis pessoas que formam o grupo que tenta sobreviver e fugir para a superfície depois de um acidente. Uma dessas pessoas é um fã de anime que usa como mascote uma ovelha de pelúcia. Outra é uma bióloga que decide cutucar com vara curta uma espécime animal encontrada que é uma total incógnita, o que junto de Prometheus faz lembrar como os biólogos são retratados como verdadeiros estúpidos nesses filmes de sci-fi horror. Apenas Kristen Stewart e Vincent Cassel possuem o privilégio de se levar a sério como a engenheira com um passado traumático e o capitão responsável, mas nenhum deles possui um destino à altura da carnificina que está para acontecer.

Se há uma coisa que você irá notar durante o filme inteiro é que ele é muito barulhento. Sua trilha sonora já começa barulhenta, e os sustos, além de previsíveis, usam um som alto que apenas irrita quem já conhece o truque. Cheirando a um catálogo “Fundo do Mar” e “Explosões Aleatórias”, não parece haver nenhum som desenhado especialmente para este filme. E a trilha sonora, orquestrada à parte, não consegue nem comentar o momento, muito menos se manter sutil. É como se junto do grupo houvesse alguém carregando um alto-falante não-relacionado com a aventura.

Os efeitos visuais são bem feitos, e a arte em cima dos monstros não é nada criativa, mas bem executada. Porém, é difícil acreditar que um filme dessa escala gastou 80 milhões de dólares tão fácil, e está prestes a não recuperar nem metade dessa quantia. Além disso, por melhor que seja o visual, o diretor William Eubank não nos deixa ver muita coisa, pelos dois motivos consideráveis de estarmos no fundo do oceano e porque mostrar demais no terror pode causar o efeito contrário. Entretanto, há uma diferença entre ocultar para gerar medo e ser incapaz de conduzir cenas de tensão sem que a câmera trema tanto que não conseguimos ver nada exceto borrões.

Nós sabemos que a maioria dos personagens irá morrer, cada uma de sua forma horrível concebida para o filme, mas essas pessoas estão tão alheias a tudo nesta luta pela sobrevivência que não sentimos a falta de ninguém. No final são seres humanos genéricos escolhidos pela diversidade étnica e de gênero, mas nunca intelectual. No final das contas todas elas se parecem na única dimensão que apresentam: querem sair vivas, embora estejam paralisadas de medo para conseguir.

A reviravolta final, envolvendo escolha de quais vidas salvar e monstros de um calibre maior, é de uma imbecilidade que se torna o momento climático em que você pensa se tudo não passa de uma piada. Mas a trilha sonora dramática está aí para nos fazer crer que não é, que tudo aquilo é para ser visto como trágico e arrebatador.


“Underwater” (EUA, 2020), escrito por Brian Duffield e Adam Cozad, dirigido por William Eubank, com Kristen Stewart, Vincente Cassel, T.J. Miller e Jessica Henwick.


Trailer do Filme – Ameaça Profunda

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