Amante a Domicílio

Amantes à Domicilio começa com um simpático jazz, algumas cenas com Manhattan ao fundo e o nome de Woody Allen nos créditos, curiosamente não na cadeira de diretor, mas na ponta do elenco, junto de John Torturro, que, por sua vez, assina essa amante-a-domicilio-postercomédia romântica simpática. Nada de muito empolgante, apenas simpática mesmo.

Torturro, que já esteve por quatro outras vezes comandando as câmeras (nenhuma de muito destaque), mas que agora parece se esforçar, justamente, para homenagear Allen. Não copiar, já que o diretor não parece ter a habilidade técnica nem narrativa de seu “muso inspirador”, mas ainda assim é impossível não enxergar as referências em seu novo filme.

Talvez logo de cara em um premissa que surge sem você perceber, sobre o dono de uma livraria (Allen) que ao ver sua loja fechar, e ter um momento sem qualquer lucidez aparente, sugere para que seu amigo de tempos (Torturro) “devolva a magia para mulheres solitárias”, como uma de suas “clientes” cita mais à frente. Na verdade a ideia nasce com a procura de duas ricaças em busca de um menage a trois e culmina em um juri de rabínos ortodoxos. Um caminho curioso que talvez seja o ponto mais interessante do filme.

Entre esse ponto inicial curioso (afinal Torturro é a última pessoa que você imaginaria sendo um gigolô) e essa situação final inusitada, infelizmente, há um caminho que gruda o filme de modo frágil por um romance pouco interessante entre o protagonista e a viúva de um rabino, vivida por Vanessa Paradis (que não acrescente muito ao papel). Pior ainda, por mais que isso seja o grande foco do roteiro e movimentador da trama é bem difícil se interessar, sem muito humor, um pouco meloso demais e com uma resolução pouco inspirada e preguiçosa.

Por outro lado, ainda que o roteiro (também escrito por Torturro) falhe também ao não explorar melhor a relação do protagonista com a dupla de quarentonas vividas por Sharon Stone e Sofia Vergara, que culmina em uma situação pouco digna e nada divertida, não há dúvida que sabe que o melhor do filme é mesmo o personagem de Allen. Felizmente a direação de Torturro também percebe isso, o que permitirá que todos no cinema se divirtam com cada momento onde o morador mais ilustre de Manhattan surja na tela.

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E ainda que ele acabe interpretando um pouco daquele mesmo cara que vem se repetindo nos últimos 30 anos, meio acelerado, se atropelando com as palavras, cheias de observações impertinentes, esse mesmo cara é um dos personagens mais deliciosos do cinema. Daqueles que tornam épicos uma discussão para escolher o seu “nome de cafetão” ou que arrancam mais risos ainda enquanto passeia por um bairro judeu com seus quatro filhos negros.

Allen é o melhor do filme, sem dúvida sua estrela e quem levará mais pessoas a escolherem o filme entre as estreias, mas tampouco Torturro (como é de se esperar) fica para trás, criando um protagonista seguro, charmoso e que aproveita cada espaço dado pelo seu parceiro em cena. Principalmente segurando a onda de um filme que poderia se tornar um caos se dependesse só de Allen, fugindo pela porta lateral de seus captores ou tentando ensinar baseball para um grupo de garotos judeus pragmáticos.

Características que surgem em seus filme (de Allen) com muito mais sutileza, graças à sua direção habilidosa, mas que aqui parecem brilhar como um farol no meio da madrugada. De qualquer jeito, um baita elogio para Torturro, que não consegue captar o ritmo agitado, nem os diálogos ácidos e rápidos, mas serve muito bem como uma espécie de “sub-Allen”, e isso é mais que o bastante para fazer o filme valer à pena.


“Fadin Gigolo” (EUA, 2013), escrito e dirigido por John Torturro, com John Torturro, Woody Allen, Vanessa Paradis, Liev Schreiber, Sharon Stone e Sofia Vergara


Trailer do filme Amante a Domicílio

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