Adeus Gary

por Vinicius Carlos Vieira em 19 de Janeiro de 2011

É indiscutível que, muitas vezes, mais que de uma boa história o cinema é carente de mensagens, daquele sentimento de ter entendido alguma coisa naquela hora e pouco de exibição que você, talvez, até leve embora para o resto da vida. “Adeus Gary” é um exemplo desses.

Nele, é difícil traçar mais que um fiapo de trama sobre um cara que sai da prisão e volta para a casa da família, em uma espécie de conjunto habitacional esquecido pelo tempo, onde apenas algumas poucas pessoas parecem teimar em permanecer ali. Lá, ele reencontra o pai (vivido por Jean-Pierre Bacri em um trabalho irretocável), que parece estar prestes a uma aposentadoria compulsória, já que a fabrica onde trabalha está sendo desmontada, e o irmão sem ambições, que trabalha em um supermercado.

Bem verdade “Adeus Gray” pode até ser sobre esse personagem voltando para casa e recomeçando a vida, mas se mostra muito mais preocupado em ser um drama sensível sobre pessoas que parecem isoladas do mundo, mas permanecem ali, continuando suas vidas mesmo que as oportunidades não batam mais em suas portas.

A mão leve de Nassin Amauche persegue essas pessoas deixadas para trás nesse lugar ermo, sozinhas (mesmo quando juntas), se movendo com lentidão para um destino que parece não lhes dar escolha. Essa mesma sensibilidade com que olha para o filme só vira um pouco sua própria inimiga quando acaba se tornando refém de uma simbologia que talvez torne o resultado um pouco hermético demais. Coisa que dá uma boa sobrevida ao filme, mas atrapalha, justamente, quando tenta apenas contar uma história mais casual, como para tentar explicar um pequeno esquema de tráfico e até na hora de dissertar sobre a ligação do pai de um dos personagens com o resto (dialogando com um cowboy arquetípico que acaba sendo muito mais profundo que o resto do filme e que é quem dá o tom, e o título, ao filme).

Esse desequilíbrio só não prejudica o produto final de “Adeus Gary”, pois ele acaba sendo um daqueles filmes que discutem um assunto e fazem o espectador acabar de vê-lo e entender uma mensagem, sem precisar ter nada esfregado em sua cara. Um filme que faz pensar no quanto cada um pode fazer seu trabalho e no fim ver tudo acabar funcionando como uma maquina azeitada, mesmo separados do mundo e entre eles próprios.

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Adieu Gary (Fra, 2009), escrito e dirigido por Nassim Amaouche, com Jean-Pierre Bacri, Dominique Reymon, Yasmine Belmadi, Mhamed Arezki e Sabrina Ouazani.

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