Ad Astra: Rumo às Estrelas | Uma grande farota interestelar


[dropcap]A[/dropcap]d Astra é um filme de mais de cem milhões de dólares indo para o espaço com Brad Pitt aprendendo a deixar seu pai ir embora (Tommy Lee Jones). No caminho, percebendo as referências, aprendemos como alguns filmes icônicos de sci-fi deixaram sua marca nas mentes dos millennials, e junto do personagem de Pitt iremos testemunhar a farofa mais realista que você irá ver sobre exploração espacial esse ano.

Entre os filmes icônicos que se tornaram inspiração para Ad Astra, 2001: Uma Odisseia no Espaço é o que mais nos lembramos. Este clássico inquestionável de Stanley Kubrick, filmado em 1968, continua irretocável. Fala sobre a ascensão do Homem em direção ao seu destino após quebrar alguns ossos em seu estado de primata e ter gerado o filósofo Friedrich Nietzsche, com sua ideia de que o próximo passo de nossa existência é sermos mais que apenas descendentes de primatas quebradores de ossos.

No entanto, imitando seus passos, Ad Astra vai se tornando sua versão “emo-depressiva”: junta uma emoção inútil com uma letargia certeira. Faz pouco caso das conquistas espaciais de sua história, como uma base lunar gigantesca e vôos comerciais de rotina (devem ter privatizado a Nasa pra conseguir esse feito). Uma estação em Marte e foguetes e naves que conseguem viajar em tempo recorde pelo sistema solar. O motivo principal (pelo menos oficial) da corporação que coordena tudo isso é encontrar vida inteligente, pois pelo jeito, analisando as melindradas do personagem/passageiro de Pitt, ela não existe mais na Terra. Pelo menos a inteligência emocional. Ele e nós viramos, então, observadores passivos dessa realidade.

No começo do filme ele relata ao computador, fazendo uma análise psicológica de rotina, que é focado e não se deixa levar pelo que não for essencial: a missão de encontrar vida fora da Terra. Enquanto isso observamos sua mulher deixar a casa. Em algum momento do longa ele deverá perceber que possui os interesses de sua vida invertidos, mas não entendemos muito bem quando que ele muda de opinião. Em sua jornada em busca do pai estaremos ouvindo sempre seus pensamentos, e desde o começo ele não parece muito empolgado com o progresso da civilização. Acompanhar algum esporte americano pela televisão e deixar a espécie humana entrar em extinção seria uma decisão mais coerente com seus valores, pois apesar da máscara de funcionário fiel, ele critica dentro de si tudo o que a empresa para quem trabalha faz; inclusive perder seu pai.

Mas não. Poço de contradições, ele segue sua “via crucis” interplanetária. Pelo bem do filme e seus estonteantes efeitos. Todo o passeio pelo sistema solar é carregado de poesia pelas lindíssimas imagens dos planetas e das construções humanas que permitiram esse alcance. Os artistas digitais responsáveis por Ad Astra estão apaixonados pela oportunidade, o que por tabela nos deixa, também. No meio do vazio escuro do universo cada passagem por um novo planeta e pela lua ganha uma paleta de cores condizente com a cor predominante do astro da vez. Na Lua tudo puxa para o branco; em Marte o vermelho é predominante; em Netuno o azul. Isso não tem qualquer significado para a história. É a arte pela beleza.

O filme tem também seus momentos de ação aqui e ali, que estão mais para chacoalhar o espectador comum do que fazer parte da história, que não precisava nada daquilo. As perseguições, explosões e lutas são a quebra em nossa crença nesse universo realista e muito provável de como o mundo poderá se tornar daqui algumas décadas; quem sabe um século. Não importa. Cedo ou tarde iremos nos voltar com mais ímpeto para as estrelas e começar uma colonização que irá lembrar as viagens de Colombo e outros exploradores das grandes navegações.

Ad Astra gasta bastante do seu tempo em sua apresentação, deixando para segundo plano sua história principal, que acaba virando um fiapo de narrativa que só ganha mais corpo nos breves momentos que Tommy Lee Jones participa. O resto é vácuo, a cara de paisagem de Brad Pitt e o espaço sideral. Tentando se unir a 2001, Contato, Solaris e tantos outros, o filme de James Gray (Era Uma Vez em Nova York) vai se tornando mais próximo de uma anti-propaganda do projeto SpaceX e como pais relapsos geram filhos distantes, tão distantes quanto estamos hoje do planeta Netuno. É ou não é pano de fundo para uma farofa interestelar?


“Ad Astra” (Chn/Bra/EUA, 2019), escrito por James Gray e Ethan Gross, dirigido por James Gray, com Brad Pitt, Tommy Lee Jones e Ruth Negga.


Trailer – Ad Astra: Rumo às Estrelas

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