Acima das Nuvens Filme

Acima das Nuvens

É incrível como em certos momentos o cinema pode ser tão rico em significado, sutil, sensível e apaixonante, ao mesmo tempo que consciente e ácido como em Acima das Nuvens, novo filme de Olivierposts Assayas (mais conhecido por ter dirigido a sensacional mini-série Carlos).

Mas Acima das Nuvens não tem absolutamente nada da biografia do famoso terrorista, muito pelo contrário, já que é, na verdade, um verdadeiro exercício sobre cinema, teatro, fama, tempo e decisões. Sobre uma estrela de Hollywood (Juliette Binoche) que volta para prestar uma homenagem a um antigo amigo dramaturgo e acaba descobrindo que os caminhos que o destino lhe impôs podem não ser aqueles que ela vai seguir.

AndersAcima das Nuvens Poster (Binoche) acaba então dando de frente com a oportunidade de reviver não só seu passado, mas a grande peça que lhe jogou no estrelato. Mas agora assumindo o papel da mulher experiente que vê sua vida transformada pela paixão por uma mulher muito mais nova e manipuladora. A primeira, uma vítima da situação, perdida em suas ambições, a segunda, papel que 20 anos atrás ela interpretou, uma jovem que conta com a pouca idade para atingir suas metas.

Uma mudança que lhe faz repensar completamente não só a personagem, mas o que realmente elas representam para ela, para a história, para o autor e, consequentemente, para o espectador. Um conflito que aos poucos vai afundando com a estrela em um monte de dúvidas e questionamentos. Que passam não só por isso, mas por toda sua carreira e pelo que o público e a industria cultural pensam sobre tudo.

Isso mesmo, tudo. Durante a maioria do tempo Anders tem a presença de sua assistente, Valentine (Kristen Stewart) enquanto ensaia o remake da peça, e é a partir dessa dinâmica que o roteiro, também escrito por Assayas, mostra essa consciência ácida que permeia o filme. De modo extremamente orgânico e sutil, Acima das Nuvens não julga, mas discute o cinema, o teatro e a cultura em geral com uma força incrível. Acabar o filme é o mesmo que ter uma vontade enorme de discutir se realmente aquela “porcaria descartável” que você viu no cinema enquanto comia um pacote de pipoca é realmente descartável.

Com isso em mente, Assayas ainda procura discutir o quanto toda e qualquer ideia pode ser interpretada e reinterpretada de tantos jeitos e maneiras que a tornam imortal por menor que seja.

Um texto que se permite não correr atrás de nenhum ponto óbvio no começo, convidando o espectador a observar e esperar pelo que vem a seguir. Uma opção de não mastigar qualquer trama e deixar que a estrela do filme sejam mesmos os diálogos. Mais ainda quando essas linhas acabam se deixando ser ditas pela enorme atuação de Juliette Binoche.

Acima das Nuvens Crítica

A atriz francesa é incrível em cada plano e a impressão que fica é de um diretor apaixonado por seu trabalho. Não só valorizando-a, mas mais do que isso demonstrando um privilégio enorme de estar ali com ela, como se não tivesse a mínima preocupação em simplesmente deixar essa câmera ligada observando-a. E para a surpresa de muitos, a presença de Stewart ao seu lado não fica menor nem por um segundo sequer.

Mostrando que realmente a atriz pretende se afastar cada vez mais e mais de sua Bella Swan, Stewart repete mais um bom trabalho, quase não morde o lábio nenhuma vez (quase!) e mostra um esforço enorme para se esconder por trás dos óculos e da personagem. Um acerto que ainda se mostra mais forte ao entrar em cena Chole Grace Moretz para viver a jovem atriz que ficará com o papel que um dia foi de Anders, já que não são poucos os momentos que ambas se mostram escancarando e criticando o status quo atual de uma Hollywood vazia e perdida. Uma quase metalinguagem que gera alguns dos momentos mais deliciosos do filme.

E talvez seja isso que Assayas mais procure: esse confrontamento. Uma vontade não de se rebelar, mas de tentar entender o que se passa ao redor. Observar a leveza da formação de nuvens, que dá nome a tal peça, passando por sobre o vale, mas também tentado entender que, mesmo ela sempre pegando um mesmo caminho, ela nunca é igual. Mostrando que existem vários jeitos de seguir em frente e, no final das contas, sempre conseguir se encarar em seu reflexo e lembrar que não é por que se escolhe seguir o caminho mais óbvio que isso queira significar a morte, mas sim um novo começo.


“Clouds od Sils Maria” (Fra/Sui/Ale, 2014) escrito e dirigido por Olivier Assayas, com Juliette Binoche, Kristen Stewart, Chloe Grace Moretz, Lars Eidinger, Johnny Flynn, Angela Winkler e Hanns Zischler


Trailer – Acima das Nuvens

*CinemAqui convidado pelo Cine Roxy para cobrir a Itinerância
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