A Saga Crepúsculo: Eclipse | Nem o sol dá conta deles

Do momento que David Slade, do ótimo Menina Má.Com e do estiloso 30 Dias de Noite, foi anunciado para dirigir a segunda continuação da Saga Crepúsculo, Eclipse, seria impossível não ter a mínima esperança que algo fosse melhorar. Infelizmente o que acaba se mostrando é que isso só aconteceria caso o resto também sofresse mudanças (talvez incluindo até o livro).

Não que aqui se tente fazer uma crítica literária de um produto que nem ao menos foi lido, o caso é que, mais do que nunca, fica claro que o maior problema da saga inteira é justamente os originais de Stephanie Meyer. O sucesso da série de livros talvez passe por um assunto um pouco mais complicado envolvendo um mundo onde o amor por si só é cada vez mais botado de lado em relação a um monte de outros problemas contemporâneos, e que esse público carente acabe vendo nesses livros um porto seguro intelectual, onde tudo dá certo e no final o próprio predomina. Uma solução escapista para um problema um pouco mais profundo, mas isso é assunto para um outro tipo de debate.

O que importa, é que esse terceiro filme é, mais do que os outros até, uma tentativa totalmente pueril de contar uma história sobre nada. O filme começa com Bella e Edward apaixonados, pensando em casamento no meio das flores, metáforas e cinismos se perdem entre declarações apaixonadas e pensamentos sobre esse próximo passo, enquanto cada um deles se obriga a dissertar, e até divergir, sobre o que essa união representa de verdade. Passasse todo filme e no fim eles estão lá, os problemas são os mesmos, os conflitos e os pensamentos, mas as conclusões são outras. Sem perceber que durante todo aquele tempo realmente aconteceu para mudar ou acrescentar àquela situação toda. E não aconteceu mesmo, por mais triste que seja.

A Saga Crepúsculo: Eclipse na verdade só serve para tentar contar uma trama sobre uma espécie de exército de vampiros que está chegando em Forks e para pincelar de leve mais um pouco da relação de Bella com o lobisomem Jacob. De leve, por que todo mundo sabe o desenrolar daquilo então é impossível esperar qualquer surpresa. A novidade de tudo talvez fique por um ritmo um pouco mais agitado, tanto pela câmera de Slade quanto pelo roteiro que saca algumas perseguições e uma briga final entre os vampiros e os lobisomens. Nada que empolgue, mas pelo menos elas estão lá.

E talvez, ainda uma outra coisa também salte aos olhos, proposital ou não: a cada segundo de filme todos personagens da Saga Crepúsculo parecem mais problemáticos. Edward Cullen se torna um psicopata possessivo ciumento, que persegue sua namorada, abre a porta para ela antes dela sequer chegar a bater e faz sempre questão de tentar descobrir onde ela esteve, pelo cheiro, “jogando verde” ou até usando do poder da irmã. Mais ainda, em um momento para lá de bizarro ainda é obrigado a observar com felicidade sua amada dormir “de conchinha” com Jacob, que por sua vez acaba se mostrando mais e mais um mau caráter sempre a fim de roubar a namorada do outro, chegando até a jogar isso na cara dele.

Aqui uma pausa para lembrar que a dinâmica dos dois perde tanto o controle, que, em certo momento, tudo acaba rumando para uma verdadeira declaração de amor entre eles, que se fosse seguida por um beijo apaixonado, provavelmente, ninguém reclamasse de falta de sentido.

Por fim então tem Bella, cada vez mais tomada por suas aflições sexuais, manipulando ambos com sua libido e até tentando por em prova toda “boamocisse” do namorado que não quer fazer nada antes do casamento, além de, ainda por cima, dar um “prêmio de consolação” para o amigo Jacob. Por fim, ainda deixa a impressão de pouco se importar com os sentimentos de seu amado Edward, já que o deixa se sentir culpado por algo que o corrói desde o primeiro momento, sendo que podia simplesmente contar a verdade para ele e acabar com sua dor.

A verdade é que colocada assim Bella não seria exemplo de heroína para ninguém, pelo contrário, até seria dada como manipuladora, a solução então é fazer esses três personagens terem todos esses defeitos em razão de uma paixão arrebatadora demais para qualquer um entender e o roteiro (e acho que o livro faz o mesmo) não se envergonha de fazer isso manipulando tudo para deixar toda situação, diálogo e conclusão à flor da pele. Como se a cada sequencia, todo amor dos dois estivesse sendo colocado à prova e a única solução fossem aquelas linhas de diálogos meladas que se seguem. Um verdadeiro exagero narrativo sem o menor sentido, já que nada vai acabar com o casal e todo mundo sabe disso.

E já que o sentido parece ser um fator a não ser colocado em pauta, seus lobisomens continuam andando só de bermudas jeans (essas que agora se materializam em seus corpos assim que eles voltam à suas formas humanas, ou isso ou perdem tempo colocando roupas enquanto um deles está ferido, coisa que a censura agradece), um problema que, no único momento interessante de todos três filmes, é lembrado por Edward em tom irônico. Do mesmo jeito que agora o Clã Cullen (sempre posando ao melhor estilo modelos cada vez que aparecem em um enquadramento juntos) decide entrar para a sociedade de Forks, com festas em suas casas e seus filhos até sociabilizando com os outros alunos. Assim como acabam ganhando dois flashbacks só deles, que nada importam para a trama, mas que dá a oportunidade do espectador conhecer um pouco mais sobre dois personagens que tem menos importância ainda. Um verdadeiro “deleite” para quem não vê a hora daquilo tudo acabar.

Mas como um dos personagens bem lembra, “os clichês estão ali para serem abraçados”, os vampiros tem que brilhar ao sol e quebrarem como diamantes, Kristen Stewart tem que morder o lábio e colocar o cabelo atrás da orelha, e absolutamente nada no filme precisa explicar o título dele (nem da saga). Lugares comuns que foram criados pelo primeiro filme e precisam ser repetidos sempre.


Eclipse (EUA, 2010), escrito por Melissa Rosenberg, a partir do livro de Stephanie Meyer, dirigido por David Slade, com Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Xavier Samuel, Bryce Dallas Howard, Anna Kendrick e Dakota Fanning


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3 Comentários. Deixe novo

  • meu deus des do dia em que li aquele livro vi que besterra e essa ainda mas agora fala seri comcordo com você vinicios

  • sinceramente esses filmes são um lixo!e o material é totalmente comercial.De fato o que nos mantém no filme é a relação entre bela e edward q se analisarmos na vida real isto é impossível além do mais estabece um romance que por ser para o público infanto-juvenil enfrenta problemas de censura.mas, amanhecer prometa quebrar esta faixada da censura.

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