A Ressaca

por Vinicius Carlos Vieira em 08 de Novembro de 2010

Se mais que qualquer coisa, o tempo é o maior inimigo das grandes amizades, olhar para o presente e ver que ele nada parece com o futuro que se pensava no passado é uma arma a favor da depressão. O diretor Steve Pink sabe perfeitamente de tudo isso e até tenta tratar disso em seu novo filme, a diferença é que o faz através de uma “Maquina do Tempo em Forma de Banheira de Hidromassagem*” .

O ruim de tudo isso, pelo menos aqui no Brasil, é ver uma idéia que só funciona por ser estapafúrdia e idiota ser diminuída simplesmente por um erro de escolha da distribuidora. Do momento que se pede um ingresso no caixa do cinema para ver o filme “A Banheira de Hidromassagem * Maquina do Tempo” até a hora em que os quatro protagonistas entram na dita cuja, a idéia já está sendo trabalhada. Da vergonha ao ridículo, esses dois fatores perseguem o espectador nessa primeira parte do filme, esperando para ver como aquilo tudo vai fazer jus ao nome do filme. “A Ressaca”, definitivamente tira um pouco disso.

Enfim, se diante disso, esse primeiro ato só arrancará alguns risos burocráticos, já que ali, o filme parece muito mais preocupado em desenvolver seus personagens de modo linear demais, certinho e sem ritmo, pelo menos consegue preparar o terreno para o momento em que o quarteto acorda dentro da banheira, só que no ano de 1986.

E se a idéia pode parecer um simples “De Volta para o Futuro”, não se preocupem, em pouco tempo todo aquele preciosismo com paradoxos e mudanças no futuro são deixados pra trás pelo trio de caras que tem uma segunda chance de mudarem suas vidas diante daquele inverno passado e o sobrinho de um deles que acaba sem muita função é verdade (e existe, única e exclusivamente para possibilitar uma surpresa bem engraçada até). É lógico que existe a preocupação moral com isso, mas o que eles percebem mesmo é que, já que eles estão ali, por que não fazer jus a essa segunda chance.

A direção de Pink sabe disso, dessa lição de moral, mas tem mais certeza de que tudo isso não pode, e não deve, ser olhado sem ser pelo olhar ridículo de uma década ridícula, com um filme com um título ridículo e personagens que tomam decisões ridículas. Por isso tudo, “A Ressaca” acaba se tornando divertido, pelo menos para quem viveu, ou conhece, essa década colorida e brega dos anos 80.

Não que quem não esteve lá vá perder o filme, já que algumas piadas até funcionam sem esse lado, mas, em grande parte, isso com certeza nem é uma preocupação do filme, já que a idéia é essa mesma, azar de quem não enxergar as referências. Um desdém que pode até chatear, mas que é o único jeito de fazer o filme funcionar, já que, de resto o filme de Pink pouco se esforça.

Mesmo o elenco afiado e à vontade não se salva de uma montagem sem sentido, que pula de riso em riso sem prepara muita coisa, sem um ritmo e até, em certo momento apelando para uma certa corrida contra o tempo, que pouco condiz com o andamento do filme até ali. É lógico que sem isso (o ponto a ser alcançado) o filme se tornaria apenas um monte de piadas sem rumo, porém, o interessante disso, é que justamente são nesses momentos mais livres que o filme funciona melhor, sem amarras, apenas esperando braço do carregador de malas ser decepado, ou simplesmente por uma piada esparsa.

Mas de qualquer jeito, “A Ressaca” vai acabar agradando, tanto pelo humor cheio de referências, quanto por uma ótima química entre os personagens e até pela idéia geral amalucada, mas com certeza não irá decolar por não conseguir tentar sair de uma estrutura corriqueira demais para um filme sobre uma “Banheira de Hidromassagem * Maquina do Tempo”.

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Hot Tub Time Machine (EUA, 2010) escrito por Josh Heald, Sean Anders e John Morris, dirigido por Steve Pink, com John Cusack, Clark Duke, Craig Robinson, Rob Corddry, Lizzy Caplan, Crispin Glover e Chevy Chase

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* o nome com “J”, que todo mundo deve estar pensando, é uma marca registrada e eu não seria bobo de fazer propaganda de graça

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