A Quietude Filme

A Quietude | Sobre famílias e segredos


[dropcap]O[/dropcap] novo filme de Pablo Trapero, A Quietude, é um drama cheio de controvérsias em seu núcleo familiar. Pra começar, há uma cena entre duas irmãs na cama que começa inocente e que passa para um momento, digamos, mais intenso. Sim, é um filme forte. Mas a sua força narrativa reside justamente na sutileza de seus detalhes. É um jogo de contrapontos que alia família, política e história em um pacote só.

Para isso ele conta com essa trama inicial simples que vai se desdobrando aos poucos. Vemos a irmã mais velha, Eugenia (Bérénice Bejo), acompanhar o pai em um testemunho processual. O pai passa mal e fica em estado de coma por tempo indefinido. O tempo passa e a irmã mais nova chega de viagem, logo em seguida chega seu marido. A matriarca da família mantém um tratamento obviamente diferente com as duas filhas. Assim como o marido/cunhado. Está armada a trama que através de pequenas reviravoltas não precisa de muito diálogos para que o espectador aos poucos vá entendendo qual a real dinâmica dessa família.

Ao mesmo tempo a reviravolta final desdobra a história para o nível político, não sem antes ter plantado um ou dois diálogos que irão ser resgatados lá na frente (você irá reconhecê-los). Trapero é econômico demais em seu roteiro e o torna um trabalho visual muito mais interessante, onde até as frequentes quedas de energia no suntuoso sítio da família é usado com economia, mas muita pertinência.

A Quietude Filme

Apesar do elenco afiado é preciso dar mais créditos para Bérénice Bejo por construir uma personagem ao mesmo tempo resiliente e sem medo das consequências dos seus atos. Acostumada a tomar as rédeas de sua vida, pois do contrário não teria o apoio de ninguém – exceto o do pai, com quem mantém o único vínculo carinhoso – agora sem ninguém e em uma casa que lhe traz más lembranças, sua Eugenia é uma figura admirável de acompanhar. E Bérénice ainda consegue equilibrar força e vulnerabilidade em seu caráter.

Tudo que não é dito em A Quietude vai se revelando ao espectador como um tapa na cara. É uma forma intensa de manter um drama pertinente o tempo todo intercalando com momentos de plena calmaria em meio ao nada. Os segredos que essa família esconde não são o verdadeiro escândalo, mas a forma como eles lidam com isso.

Esse texto faz parte da cobertura da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


La quietud  (Arg, 2018), escrito e dirigido por Pablo Trapero, com Martina Gusman, Bérénice Bejo, Edgar Ramírez, Graciela Borges, Joaquín Furriel, Isidoro Tolcachir.

Trailer – A Quietude

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