Uma Viagem à Groenlândia Filme

Viagem à Groenlândia | A mensagem que deixa é o mais importante


[dropcap]E[/dropcap]ntre os fenômenos que o sucesso da popularidade dos serviços de streaming podem trazer para o cinema será, justamente, uma mudança de paradigma quando “Netflix e cia.” decidirem começar a produzir filmes. Em algum momento dos anos que se passaram, muito gente deve ter dito isso. Hoje isso é uma realidade e Uma Viagem à Groenlândia é apenas mais um exemplo que corrobora com isso.

Não estamos falando de ganhar Oscars, brigar com Cannes ou irritar o Spielberg, essa “pequena revolução” está intimamente ligada ao “chão da fábrica” de quem faz cinema. Pequenas produções que brigam por um espaço em festivais e circuitos restritos com um fio de esperança de, depois de tudo isso, ainda encontrarem um público um pouco maior nos canais à cabo (ou “homevideo”). Quem sabe até servir de cartão de visita para passos maiores de seus realizadores.

Uma Viagem à Groenlândia iria se encaixar em todos esses quesitos se não tivesse encontrado a Netflix no caminho. Escrito e dirigido pelo também francês (igual ao filme), Sébastien Betbeder, o filme agora está nas salas e computadores de milhões de pessoas. É lógico, ainda dependendo de um algoritmo que pode dificultar sua vida, mas já é muitos mais chances de ser visto do que teria em se percorresse aquele caminho que eu apontei no parágrafo anterior.

E quem “trombar” com ele, não irá se arrepender. Nele, dois amigos/atores frustrados, Thomas (Thoams Blanchard) e Thomas (Thomas Scimeca), viajam até a Groenlândia para visitar o pai de um deles e, por lá, acabam descobrindo o quanto a diferença de mundo pode ser um choque.

Não bem um choque, na verdade nem bem um clímax, apenas esses dois Thomas tentando entender onde estão, o que estão fazendo, o que querem fazer e como tentar qualquer coisa sem entender absolutamente nada da língua local. Uma Viagem à Groenlândia é então uma sutil comédia que parece quase um documentário que olha com sensibilidade para essa pequena aldeia enquanto tenta entender o quanto os valores de suas terras natais de nada servem em um mundo muito mais simples.

É lógico que o humor ácido, inteligente e sutil acompanha esse ritmo lento e contemplativo do lugar. Sem o dia dar lugar à noite e onde a conexão com o vizinho é muito mais importante do que a da internet. Quase uma crítica nada velada ao momento de falta de comunicação que o mundo vive hoje.

Nenhum dos Thomas consegue falar com nenhum habitante do lugar e isso resulta em cenas impagáveis, mas, por outro lado, mesmo falando a mesma língua, Thomas não consegue se comunicar com seu pai. Mesmo diante de algo inevitável, o afastamento dos dois parece igual à distância de suas moradias.

Pequeno, simpático, inteligente e bem humorado, Uma Viagem À Groenlândia, entretanto, tem uma poderosa e moderna mensagem que não deveria ser ensurdecida pelo barulho do helicóptero que leva os protagonistas embora, mas que deixa para trás uma experiência única e que deve mudar a vida de ambos.

Ao mesmo tempo em que, é claro, só estamos falando sobre tudo isso, porque talvez estejamos às portas de uma “pequena revolução” que irá permitir que, de qualquer lugar do mundo, poderemos viajar para várias “Groenlândias” com cada vez mais “Thomas” por ai.


“Le Voyage au Groenland” (Fra, 2016), escrito e dirigido por Sébastien Betbeder, com Thomas Blanchard, Thomas Scimeca e François Chattot


Trailer do Filme – Uma Viagem à Groenlândia

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