Uma Manhã Gloriosa

por Vinicius Carlos Vieira em 05 de Abril de 2011

O problema do passado é que ele vai estar sempre ai para servir de comparação, por isso que é difícil entender como o sul africano Roger Michell foi da interessantíssima comédia romântica “Um Lugar Chamado Notting Hill” até seu mais recente (e mais que bobinho) “Uma Manhã Gloriosa”, passando por uma série de dramas interessantes como, “Fora de Controle” e o delicioso “Vênus”. Não que seu mais novo filme seja um desastre, mas é tão fraquinho que é impossível não levar essa derrocada em consideração.

A começar pelo próprio tema, que sai de amores e situações fortes (e marcantes), para uma comedinha, com algumas pitadas românticas, sobre uma jornalista (Rachel McAdams) que é mandada embora de seu emprego em uma pequena TV de Nova Jersey e acaba ganhando a oportunidade de revitalizar um antigo programa matutino na cidade grande, por uma rede nacional. O problema disso é que, para conseguir tal façanha é obrigada a “domar” um experiente jornalista turrão que passa a apresentar o programa.

Bem verdade, “Uma Manhã Gloriosa” é um resultado tão preguiçoso da mesma Aline Brosh McKenna que escreveu “O Diabo Veste Prada” que é difícil até pensar em um verdadeiro conflito que mova a personagem, com o espectador tendo que se contentar com uma esbarrada em um pequeno romance, e no fim das contas com o eminente fim do programa, devida às baixas audiências, dois momentos que até aparecem para fazer esse papel, mas sem empolga muito, fazendo dessa falta de emoção o retrato mais fiel do filme.

E se você não se chateia pelo filme, é simplesmente pelo enorme esforço inicial de Michell para criar essa protagonista charmosamente estabanada e inquieta, empolgada com seu trabalho, que age com o coração, e tem essa franginha simpática e conquistadora. Feito isso, o resto é lucro, já que é impossível não torcer para que ela conquiste seus objetivos e todos vivam felizes para sempre. O problema disso é que, sem dúvida nenhuma, “Uma Manhã Gloriosa” tinha tudo para ser muito mais que “apenas simpático”, principalmente se soubesse para onde apontar suas armas.

A principal delas é a presença de Harrison Ford como esse jornalista mal-humorado, que é praticamente coagido pela protagonista, a trabalhar nesse programa de variedades sem um pingo de seriedade e, consequentemente, criando, com sua presença, uma ótima dinâmica dentro daquele estúdio. Talvez “Uma Manhã Gloriosa” peque exatamente por isso, por se deixar sair demais daquele mundo maluco e corrido onde o programa é feito, tanto que, é fácil perceber o quanto o filme se mostra muito mais divertido enquanto o espectador é agraciado com esse “making-of”.

E não só Ford é desperdiçado, como também sua companheira de apresentação do programa vivida por Diane Keaton (assim como todo núcleo à sua volta, e principalmente “homem do tempo” interpretado por Matt Malloy) e, o cada vez mais cínico, Jeff Goldblum, como o diretor geral do canal, presenças que, sem sombra de dúvida, se melhores usadas dariam muito mais vida ao resultado final.

Sobre tudo isso, é ainda mais esquisito ver Michell solucionar problemas de seu filme de modo tão pesado e sem ritmo, como nas grandes seqüências em slow motion para alargar a felicidade de seus personagens, ou aumentando a velocidade em outro momento, de modo mais artificial e infantil ainda (assim como apostando em uma corrida final, da personagem pelas ruas de Manhattan em câmera lenta). Amostras de que aquele cineasta tão sensível que transformou o octogenário Peter O´Toole (em Venus) em um garotão olhando escondido sobre a porta, assim como fez todos se apaixonarem pelo amor entre Julia Roberts e Hugh Grant em Notting Hill, deve ter se escondido em algum lugar e só resta então torcer para que ele volte rápido à ativa.

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Morning Glory (EUA, 2010), escrito por Aline Brosh McKenna, dirigido por Roger Michell, com Rachel McAdams, Harrison Ford, Dian Keaton, Patrick Wilson,  Jeff Goldblum e John Pankow.

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