Crítica do filme Superpai

Superpai

Com um protagonista unidimensional e piadas bobas, o melhor que pode ser dito de Superpai é que é um filme que existe e que não chega a ser terrível – o que pelo menos levaria o espectador, em sua indignação, a pensar no longa ao sair da sala de cinema. Não é à toa que, durante os créditos finais, vemos erros de gravação, o que quase sempre indica que os próprios realizadores percebem o pouco talento para fazer rir da comédia que acabam de exibir – mas, ei, pelo menos o elenco se divertiu!

Em Superpai, acompanhamos Diogo (Danton Mello), um pai e marido pouco atencioso incapaz de dedicar meia hora para brincar com seu filho, e seus planos de ir, naquela noite, à festa que comemora os 20 anos de formatura de sua turma de ensino médio. Quando sua esposa Mariana (Minica Iozzi) vai passar a noite no hospital ao lado da mãe, que sofreu uma queda, Diogo decide largar o filho pequeno, Luca, em uma creche noturna. Na festa, Diogo reencontra sua antiga paixão de colégio, Patrícia Ellen (Juliana Didone), com quem planeja finalmente transar depois de perder a oportunidade na formatura. Chegando na creche, Diogo busca o filho, que está usando sua adorada máscara de cachorro. No carro, ele descobre que, por baixo da máscara, está não seu filho, mas um menino coreano que não fala português. Agora, Diogo e seus amigos Nando (Thogun), Cezar (Antonio Pedro Tabet) e Julia (Dani Calabresa) tem que reencontrar Luca, devolver o outro garoto para a família e encontrar Patrícia Ellen – tudo isso sem que Marina desconfie de nada e antes de ela voltar para casa na manhã seguinte.

Danton Mello encarna Diogo como um homem arrogante, egoísta, estúpido e que parece enxergar a esposa e o filho como obstáculos à vida fascinante que ele deveria estar levando – ainda que, na festa, ele prefira pregar peças em um ex-colega do que dar atenção à mulher que ele supostamente estava doido para reencontrar. Funciona na maior parte do tempo, porque Diogo realmente é assim, mas tanto Mello quanto o diretor Pedro Amorim esquecem de dar nuances ao personagem. Assim, a cada momento em que vemos Diogo conversando ou brincando com o filho, ele parece simplesmente querer manter a criança comportada, e não como se estivesse realmente aproveitando a companhia do garoto.

Isso também, claro, faz com que o arco dramático percorrido pelo protagonista pareça apenas uma obrigação do roteiro, e não algo que realmente muda ou amadurece o personagem. Não é à toa, portanto, que no terceiro ato vemos Luca copiando as atitudes do pai na cena que abre Superpai – Diogo pode ter percebido a importância de passar tempo de qualidade com o filho, mas será que isso é uma coisa boa, considerando seu caráter duvidoso?

Superpai Crítica

Enquanto isso, a nacionalidade coreana do outro menino gera uma série de comentários racistas e estereotipados por parte do grupo central – mas a óbvia imaturidade deles, pelo menos, faz com que eles realmente pareçam ignorantes ao, por exemplo, insistir em chamar o garoto de “Jaspion”. Mesmo assim, o roteiro não é esperto o suficiente para impedir que a piada e, portanto, o que deveria fazer rir, esteja mesmo nos comentários. E se o vício em sexo de Julia está ali apenas para poder sexualizar a personagem, pelo menos torna a interação existente entre ela e os homens como algo condizente com o grupo – e é ela quem toma a iniciativa com Cezar. Finalmente, a homossexualidade de Nando é tratada com naturalidade e não resulta em piadas homofóbicas, o que, unido ao fato de que ele é o personagem mais centrado – e o único bem sucedido – do grupo, torna-se algo interessante e bem vindo.

Os poucos elementos que funcionam, porém, não apagam o fato de que passamos duas horas acompanhando um cara chato, pedante e patético, em mais um exemplo de história que trata o casamento, do ponto de vista masculino, como um obstáculo à diversão e à liberdade – e Diogo pode ter acertado o relacionamento com o filho, mas não há sinal algum de que ele pretende melhorar como marido. Este é, afinal, um homem que acredita que trair a esposa com uma ex-colega trata-se apenas de “resolver uma pendência”, e não de um sinal de que algo não vai bem no casamento ou que Mariana poderia ficar chateada se soubesse o que ele planeja fazer.

Talvez o longa funcionasse melhor se abraçasse a picaretagem de Diogo, ao invés de tentar construir um amadurecimento falho para ele. Porém, a falta de um arco dramático apenas servisse para ilustrar ainda mais a falta de ambição e de direção do roteiro e a falta de complexidade do protagonista. Arrancando uma risada aqui e ali com piadas, mesmo assim, pouco eficientes, Superpai é um filme medíocre e que será esquecido pelo espectador assim que as luzes do cinema se acenderem.


Superpai” (Brasi, 2015), escrito por Pedro Amorim, com Danton Mello, Thogun, Antonio Pedro Tabet, Dani Calabresa, Danilo Gentili, Fernando Muylaert, Martha Nowill, Mônica Iozzi, Juliana Didone, Nicole Bahls, Rafinha Bastos, Ricardo Oshiro, Erik Min Soo Chung, Paulinho Serra e Maurício de Barros.


Trailer do filme Superpai

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