Sem Escalas | … é só colocar dentro de um avião

É lógico que uma hora a criatividade acaba, tanto em qualquer camada da sociedade quanto em Hollywood. A diferença é que lá na “terra do cinema”, quando isso acontece é hora de colocar tudo dentro de um avião. O que nem sempre é um problema, como não é em Sem Escalas, mas de qualquer jeito é um recurso pra lá de preguiçoso.

Na verdade no final das contas é sempre um avião sendo sequestrado, a diferença é o segundo ato, e nesse quesito Sem Escalas acaba nem levando a pior. Depois de cobras, o presidente, e um grupo de presidiários (e até o Steven Segal, mas esse morreu logo no começo de Momento Crítico, então não vale!), agora a vez é de um agente aéreo (Liam Neeson), daqueles que os Estados Unidos colocaram em cada voo depois do “11 de setembro”, travar uma batalha com alguém que, aparentemente, sequestrou o avião e promete matar um passageiro a cada vinte minutos.

E a diferença está no segundo ato, por que, como sempre, logo de cara todos esses filmes se sentem obrigados a perseguir os passageiros durante o embarque e sentando em suas poltronas. E no final de tudo o avião pousa (seja quem esteja no manche… geralmente não o piloto). E no caso do novo filme de Jaume Colett-Serra (espanhol que assinou o thriller Desconhecido, também com Neeson), o recheio desse sanduíche é uma agradável e tensa mistura de Agatha Christie com toda paranóia americana. É verdade também que Sem Escalas não parece ir a fundo em nenhum das duas vertentes, ficando muito aquém de onde poderia chegar, mas mesmo assim agrada.

Enquanto ataca de suspense, com essas mortes criativas, misteriosamente pontuais e interessantes, Sem Escalas tem um ritmo incrível. Isso se dá pelo ótimo trabalho de apresentação do protagonista, que antes de ser apresentado como “homem da lei”, além de cheio de falhas, mal humor e alcoolismo, poderia ser facilmente ele próprio o vilão do sequestro. E por mais que o roteiro depois brinque com isso e coloque o personagem em uma situação onde é desacreditado, acompanhar todo esse arco (e então se sentir injustiçado junto com ele) faz o filme ganhar o espectador. O suficiente para nem se importar com um final burocrático e pintado com o azul, o vermelho e o branco da bandeira dos Estados Unidos.

Sem Escalas Filme

Um plano que soa enorme demais em todos os seus detalhes para que consiga chegar perto de dar certo (o que o roteiro dribla com um monte de momentos convenientes), mas que tem uma premissa interessante com esses SMSs e com a valorização da problemática do espaço, que sempre vem junto com esses thrillers em aviões. Então, para o bem de todos, nada de compartimentos de bagagens e espaços amplos. E aqui um adendo cheio de palmas para para a distribuidora/estúdio no Brasil, que traduziu os textos direto no celular do personagem, de modo diegético, não usou legendas, e manteve a dinâmica desses momentos.

Diante disso, o que Colett-Serra faz é primar pela simplicidade, vez ou outra passeando por fora do avião ou enxergando por frestas, mas no resto do tempo optando pelo garantido e criando um filme que, mesmo dentro de um avião apertado, tem composições e um visual livre para respirar. Livre também para que Neeson seja mais uma vez aquele personagem no qual vem se especializando, com poucas palavras e com a impressão de que pode dar conta de um batalhão inteiro de bandidos (fazendo a bordo o que o Segal não conseguiu no filme citado no começo do texto). Depois de dar conta de metade dos traficantes de pessoas da face da terra em Busca Implacável (em ambos), agora sobe em um avião e bate em terrorista, policial, passageiro, nerd e em quem mais cruzar seu caminho (mais um pouco desativava a bomba com um golpe… e sim, isso foi um spoiler!).

E como é de se esperar, no final das contas tudo dá certo, o avião pousa, uma apresentadora de TV explica tudo que aconteceu durante o filme (talvez para quem dormiu), o protagonista é chamado de herói por uma criança e ainda leva a “mocinha” pra sair (bom, talvez a Julianne Moore não seja mais tão mocinha!).

Tudo isso do mesmo jeito como mais um monte de filmes onde o avião é lugar perfeito para os roteiristas que não encontram um lugar onde contar sua história comum, e então o fazem pleno voo, afinal todo mundo adora um avião despressurizado desde que esteja na poltrona do cinema, e não na do passageiro.


Non-Stop” (EUA/Fra, 2014), escrito por John W. Richardson, Christopher Roach e Ryan Engle, dirigido por Jaume Collet-Serra, com Liam Neeson, Julianne Moore, Scoot McNairy, Michelle Dockery, Nate Parker e Corey Stoll


Trailer do filme Sem Escalas

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3 Comentários. Deixe novo

  • Vinicius Carlos Vieira
    23/08/2017 10:07

    Oi Francisco. Aqui é o Vinicius, editor do site. Pesquisei aqui e o celular usado pelo personagem é um LG Versa.

  • Francisco
    22/08/2017 17:13

    Como faço para descobrir qual modelo de celular usado pelo ator liam nessom no filme????

  • Bela crítica. Adorei.

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