Repo Men – O Resgate de Orgãos

por Vinicius Carlos Viera em 12 de Novembro de 2010

Por mais que “Repo Men – O Resgate de Orgãos” tente abrir com um monólogo do protagonista sobre o “Gato de Shrodinguer” (aquele que pode estar vivo ou morto dentro da caixa), essa ficção científica, que por aqui acabou chegando direto para DVD, não parece se esforçar para ser muito mais que isso mesmo: uma ficção científica. Nada de filosofia ou qualquer outra coisa que atrapalhe o espectador, somente uma boa idéia em um futuro não muito distante.

Nele, a transfusão de órgão deu um passo adiante e, uma grande empresa chamada União, desenvolveu um modo de usar fígados, rins, corações, e o que mais se precisar, artificiais. A boa ação acaba quando o contrato de aluguel desses órgãos expira e ela é obrigada a usar seus “coletores” para irem atrás de seu material. É ai que entra o herói vivido por Jude Law, para variar o melhor no que faz (atalho de roteiro preguiçoso), mas que, durante um último trabalho (mais uma cortada de caminho) ele acaba se acidentando e perdendo a “mão” para o mesmo, já que encara sua mortalidade e todo mal que já fez durante seus anos de serviço.

O Problema disso, é que esse acidente lhe dá um coração artificial, e sem trabalho, mais cedo ou mais tarde essa dívida terá que ser paga ou o produto confiscado.

Se de um lado a idéia é criativa e interessante, o produto final acaba se tornando incrivelmente desequilibrado, já que durante quase uma hora de filme, “Repo Men” se resume a te mostrar apenas isso que foi contado nas linhas anteriores, perdendo em ritmo, porém ganhando em desenvolvimento, o que vai agradar quem embarcar na história, mas chatear quem estiver à procura de um pouco mais de ação. O bom disso, é que ambos iram sair ganhando com a segunda parte do filme, que acaba sendo muito mais movimentada ao mesmo tempo que consegue ligar os pontos até uma conclusão coerente e agradável. E ainda mais, presenteando a todos com um final surpresa que fará muito gente gostar mais ainda do filme.

É isso mesmo, “Repo Men” é um daqueles filmes que as pessoas irão gostar e passar para frente a indicação, que talvez tenha sido ignorado pelas distribuidoras do Brasil por pouco confiarem no gênero ou simplesmente por um erro, mas que no mercado de DVD vai funcionar que é uma beleza.

Melhor que isso, o filme de estreia de Miguel Sapochinik acaba sendo uma ficção competente que sabe onde pisa e, em nenhum momento se perde em uma correria qualquer contra o relógio. Mais ainda, resultando em um filme plástico, bem amarrado e que não economiza na hora de ser… bom, uma ficção científica, com suas traquitanas futurísticas na medida e suas referências ao gênero (“Blade Runner”, “Vingador do Futuro” e até uma vinda de fora, em um corredor à lá “Old Boy”, com martelo e tudo.)

O que talvez não deixe “Repo Men” alçar vôos mais altos seja exatamente aquele ritmo falado parágrafos atrás, não uma falta movimentação, já que isso sua trama tem, mas sim uma montagem mais despreocupada em deixar muita coisa no “chão da sala de edição” (ou na cesta de lixo do computador). Muito provavelmente, a culpa nem seja do trabalho de Richard Frances-Bruce (experiente montador que trabalhou em filmes com “Seven”, “Um Sonho de Liberdade” e “A Rocha” entre outros), mas sim de um roteiro preciosista demais com sua trama e que não consegue ligar os pontos sem “enrolar” um pouquinho entre eles. Como se tivesse muita coisa para contar e mostras (e o faz), mas esquecendo de deixar um pouco de coisa de fora.

Um chamariz para os brasileiros ainda aparece na presença de Alice Braga, cada vez mais a vontade com papeis principais e irretocável dentro das possibilidades que a história lhe cria, já que os holofotes da trama só caem, como seria de se esperar, sobre a figura de Jude Law, que se esforça para dar vida ao personagem e acaba mostrando mais uma vez, o quanto suas escolhas em Hollywood vêm rendendo bons frutos. Na outra ponta, um Forest Whitaker no mesmo piloto automático que vem acionando em cada filme que faz depois de seu Oscar, mas isso pouco atrapalha.

No fim das contas “Repo Men– O Resgate de Orgãos” talvez até se torne um pouco óbvio pelas dicas que o roteiro e o diretor fazem questão de espalhar, assim como vai fazer quem tem um estomago mais fraco torcer o nariz para as “extrações” de órgãos (assim como para um momento singelo entre o casal de protagonistas, lá para o final, onde se “tocam” profundamente). Mas sobre tudo isso, vai acabar sendo uma ficção cientifica que tem uma história para contar e uma reviravolta para mostrar, suficientemente boas para deixarem seus espectadores satisfeitos com o que viram.

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Repo Men (EUA/Can, 2010), escrito por Eric Garcia e Garret Lerner, dirigido por Michael Sapochinik, com Jude Law, Forest Whitaker, Alice Braga e Liev Schreiber

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