Reino Escondido

Por mais que não pareça, Reino Escondido é diferente. Diferente dos que as animações dos grandes estúdios vêm se acostumando a fazer e, definitivamente, do que a FOX e a Blue Sky sempre fizeram. Diferente ainda por parecer procurar um público alvo que acaba Reino-Escondido-postercarente nessa briga pelas bilheterias. Diferente por que parece querer contar uma história e não ficar bonito como opção para o Mc Lanche feliz.

Mas é claro que Reino Escondido daria uma ótima série de bonequinhos superfaturados pela rede de lanchonetes, mas, mais do que isso, ele tem uma óbvia vontade de ser uma aventura infanto-juvenil. Aventura de verdade, que até abre espaço para alguns coadjuvantes engraçadinhos (como a lesma e o caracol, que são uma espécie de R2-D2 e C-3PO gosmentos), mas está muito mais preocupado com seus heróis e sua estrutura épica.

E “épico” talvez seja o que melhor resuma o esforço do filme (e não coincidentemente é seu título original), não no sentido empolgante, mas sim um pouco mais literal. Com uma trama muito maior que os personagens e que os obriga a evoluir e combater a personificação clássica da maldade. E tudo isso sem bichinhos bonitinhos e coloridos para atrapalhar (ainda que reserve espaço para isso em certas “multidões”).

Essas multidões são a população desse reino que vive nas florestas nos arredores da casa desse cientista esquisitão que persegue a ideia de, justamente, uma civilização avançada de pequenos guerreiros que dominam aquele lugar. Ideia que o fez acabar sozinho com essa obsessão, até que sua ex-mulher morre e sua única filha volta para casa. Lógico que, de modo bem pouco criativo, o roteiro (que é escrito a seis pares de mãos, e quando isso acontece quase sempre desastroso e que, curiosamente, não acontece aqui) conta a histórias dessa adolescente (filha) que acaba indo parar no meio dessa guerra e, obviamente, com o poder para não só sair vencedora, como também salvar todo esse mundo.

A diferença aqui é o cuidado com que esse cruzamento é construído, nada de pressa nem falta de motivações, antes de partir para a simples e corriqueira estrutura “peixe fora d´agua” com a personagem tendo que se acostumar a ser pequena, Reino Escondido conta uma história cativante e inteligente, que sabe se movimentar nos meandros do lugar comum pragmático e estereotipado em ambos os lados. Por fim (meio, na verdade… vulgo ao término do primeiro ato), quando tudo se cruza, o espectador já está tremendamente acostumado com toda situação, disposto a torcer com unhas e dentes pelos diminutos personagens e, consequentemente, pela protagonista.

Entretanto, por mais que sua estrutura prime pela clareza de objetivos, Reino Escondido escorrega feio em certos momentos e decisões que parecem não fazer parte da ideia geral do filme (talvez reflexo do monte de mãos no roteiro). Se perdendo em pouca emoção enquanto os protagonistas seguem em uma espécie de comitiva (sai um anel e entra um botão de rosa), passam por situações que não acrescentam muita coisa e, praticamente, dão de cara na parede e são obrigados a voltar para onde nunca deveriam ter saído. Problema que deve incomodar não só o espectador mais atento, mas sim todos que já estão acostumados com o caminho linear que esse tipo de aventura tem, bem diferente daqui.

Reino-Escondido-still

Mas é justamente esse detalhe que acaba empurrando os personagens para mais duas sequencias de ação que não poderiam ficar de fora do filme, o que acaba mostrando que talvez o que falta seja a cola que liga tudo isso em certos momentos, e não as intenções dos roteiristas.

Felizmente, isso pouco atrapalha, não só pelo trabalho interessante de Chris Wedge (de Era do Gelo e Robôs), que percebe, e aproveita bem, todas as possibilidades técnicas e cria uma série empolgante de sequencias de ação (com direito a planos longos e movimentos de câmera “impossíveis”, coisa que acaba sendo pouco explorada nas animações), quanto por um poderoso e marcante trabalho de direção de arte, que aposta em conceitos simples (bom X mau, verde X preto, vida X morte) para criar esse reino, ganha a identificação imediata do espectador e ainda consegue aproveitar extremamente bem o dito “mundo dos pisadores” como ponto de partida para todo visual em miniatura.

Reino Escondido é então simplesmente diferente de seus primos da FOX, principalmente por não apostar e algumas risadas bobas (e muito menos na piada que se tornaria óbvia da adolescente descobrindo esse novo mundo, tanto que guarda essa discrepância de tamanho para uma sequencia só, o que a torna muito mais marcante) e nem em bichos falantes. E ainda que não seja épico, tampouco é pequeno como seus protagonistas.


Epic, escrito por Tom J. Astle, Matt Ember, James V. Hart, William Joyce e Daniel Shere, dirigido por Chris Wedge , com vozes (no original) de Jason Sudeikis, Steve Tyler, Amanda Seyfried, Pitbull, Josh Hutcherson, Beyoncé Knowles, Colin Farrel e Christoph Waltz


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