Ao investir também em um lado emocional efetivo, Perfeita é a Mãe! consegue divertir por não depender apenas de uma série de sequências em que pessoas adultas se “comportam mal”. Assim, o longa constrói um retrato carismático e engraçado de mães que precisam desesperadamente de uma mudança em suas rotinas sufocantes — mesmo que essas estejam em posições extremamente privilegiadas para que possam colocar esse desejo em prática.
Amy Mitchell (Mila Kunis) tem trinta e poucos anos. Trabalhando em uma produtora de café ao lado de pessoas pelo menos uma década mais novas, ela tem dois filhos adolescentes com seu marido, o babaca Mike (David Walton). Ela engravidou ainda nova e, assim, casou-se com seu único namorado — que, atualmente, está envolvido há meses em um affair online. A descoberta desse caso é a gota d’água para que Amy resolva retomar as rédeas de sua vida: depois de mandar Mike embora de sua casa, ela abandona a Associação de Pais e Mestres comandada pela rígida Gwendolyn (Christina Applegate). Com isso, Amy conhece a mãe solteira Carla (Kathryn Hahn) e Kiki (Kristen Bell), dona de casa mãe de quatro filhos presa a um casamento tóxico. As três, então, decidem assumir-se como “mães ruins”, abandonando as limitações impostas pela sociedade e, também, as expectativas e regras de Gwendolyn.
Os diretores e roteiristas Jon Lucas e Scott Moore (responsáveis por Se Beber, Não Case!) se esforçam para estabelecer a diversidade da sociedade da escola: vemos casais de mães lésbicas, mulheres negras, de diversas etnias e nacionalidades, etc. Entretanto, é inegável o fato de que a pequena revolução proposta e que as expectativas impostas nelas são típicas de mulheres brancas, heterossexuais, dentro dos padrões de beleza e financeiramente estáveis — Amy larga o emprego e o marido, por exemplo, sem maiores preocupações quanto ao sustento da casa e dos filhos. Da mesma forma, o abuso sofrido por Kiki, que precisa dar satisfações constantes para o marido e deve cumprir suas “obrigações” com o lar e os filhos antes de qualquer coisa, é suavizado para originar comentários como “você é tão estranha!”. Nesse contexto, torna-se particularmente desagradável vermos a única negra de (relativo) destaque, Stacy (Jada Pinkett Smith) ser completamente desperdiçada e ter pouquíssimo material com o qual desenvolver-se enquanto personagem.
Por outro lado, o roteiro é eficiente ao mostrar que os tais maus comportamentos e loucuras a que o trio central se entrega são, na verdade, bastante ingênuos. Nesse sentido, destaca-se a cena em que elas bebem e fazem bagunça em um supermercado: as ações das mães são imaturas e estúpidas e, portanto, é divertido perceber as reações inexpressivas dos clientes e funcionários que as observam que, assim, parecem reconhecer o quanto a situação é patética (mesmo que as três estejam adorando). Uma festa promovida por Amy, regada a vinho barato, termina às onze da noite em ponto — afinal, tem aula no dia seguinte. Gwendolyn, por sua vez, também faz rir com suas ideias de perfeição tipicamente associadas ao subúrbio dos Estados Unidos, chegando a sentir tesão por um homem pelo fato de ele conseguir instalar uma cadeirinha infantil no carro em apenas dois segundos.
As altíssimas expectativas propostas pela escola não alcançam apenas as mães, mas também as crianças — e Perfeita é a Mãe! acerta ao utilizar isso para aprofundar o relacionamento de Amy com seus filhos e, assim, centrar o filme não apenas no comportamento das mães, mas também no amor que elas sentem por seus filhos. Por outro lado, é decepcionante perceber que mesmo um filme sobre um assunto estritamente feminino precisa ser comandado por dois homens — por que não dar espaço para as várias cineastas mulheres que gostariam de falar sobre maternidade?
Outro ponto que merece destaque nesta comédia é a forma com que ela retrata o divórcio de Amy e Mike: o amor que eles sentiam um pelo outro já não está mais lá, o casamento não vai bem, eles tentam consertar a situação, não conseguem e, portanto, se separam. Amy não é condenada por isso (apenas, claro, por Gwendolyn e suas capangas) e, considerando as circunstâncias em que o casamento acabou, ela coloca isso em último lugar na lista dos problemas que a vemos enfrentar.
Em termos de trama, entretanto, o roteiro claramente encontra dificuldades. Mães bebendo e indo ao cinema à tarde, chamando babás para cuidar dos filhos enquanto saem e deixando seus filhos um pouquinho de lado não sustentam um filme inteiro, mas Lucas e Moore parecem se lembrar disso apenas às vésperas do terceiro ato. Este, assim, insere a “reviravolta” da candidatura de Amy para o comando da Associação de Pais e Mestres, levando-nos a uma conclusão em que tudo se resolve rapidamente e tudo termina em harmonia.
Mesmo assim, em última instância, Perfeita é a Mãe! é divertido em sua proposta de promover loucuras entre um grupo de mães que, apesar de constantemente sufocadas, exaustas e frustradas, continuam fazendo de tudo por seus filhos. Mas que, nem por isso, deveriam aceitar as expectativas errôneas e, até mesmo, inalcançáveis impostas pela sociedade.
“Bad Moms” (EUA, 2016), escrito por e dirigido por Jon Lucas e Scott Moore, com Mila Kunis, Kristen Bell, Kathryn Hahn, Christina Applegate, Jada Pinkett Smith, Annie Mumolo, Oona Lawrence, Emjay Anthony, Jay Hernandez e David Walton.