O Que Esperar Quando Você Está Esperando

Não é surpresa nenhuma que O Que Esperar Quando Você Está Esperando seja uma comédia simpática e eficiente, tanto pelo assunto (maternidade) quanto pelo trabalho de Kirk James (que já fez um trabalho interessante em A Fortuna de Ned), o surpreendente é perceber o quanto o próprio parece se sentir obrigado a apelar para algumas ferramentas rasas em busca de um riso fácil, mas completamente desnecessário dentro de todo contexto.

Nele, o roteiro de Shauna Cross e Heather Hach (essa segunda, que também escreveu a comédia Sexta-Feira Muito Louca) parte do Best Seller/guia (homônimo) de Heidi Murkoff para contar a história desses cinco casais com uma coisa em comum: a gravidez. Cinco modos sinceros e interessantes de enxergar esses nove meses.

Interessantes, por que, de modo habilidoso, as duas roteiristas tem a humildade e a inteligência de afastar bem cada um dos arcos, tanto em termos de conflitos e resoluções quanto na obrigatoriedade de cruzar os personagens entre si, o que permite que O Que Esperar Quando Você Estiver Esperando caminhe com leveza. Melhor ainda, de modo sutil, porém muito bem acentuado, todas essas peças acabam muito bem posicionadas sem nenhuma “forçassão de barra”, como se ninguém parecesse obrigado a encontrar com o outro personagem, mas que, ao acontecer, o espectador perceba por si só, não por ter isso esfregado em sua cara.

Um acerto que, ironicamente, faz então que um dos arcos narrativos mais interessantes (que trata de um aborto) estrague bastante a resolução geral do filme, já que deixa a impressão do roteiro não ter o que fazer com os dois personagens depois que a gravidez é interrompida. Infelizmente, já que o momento da perda, em silêncio, apenas observando o casal, é um dos poucos momentos emocionantes do filme. O problema então é logo na sequencia ter que aceitar um conflito se formar de modo artificial e pontual.

E talvez essa pontualidade ainda atrapalhe um pouco a estrutura geral do filme, que acaba caminhando de modo óbvio e se sentindo obrigado demais a refletir o mesmo problema em todos casais. Como se cada um tivesse que descobrir a gravidez, encarar o problema de ter que lidar com a responsabilidade, depois “curtir” uma pequena discussão entre os casais, para que tudo se resolva com amor e, no final, tudo acabe bem. Estrutura que permite que o espectador, praticamente, adivinhe o que vai acontecer depois do próximo corte (e troca de casal).

Sem perceber essa obviedade, o roteiro ainda peca ao (e aqui um Spoiler), praticamente, esfregar na cara do espectador a reviravolta do aborto durante uma ultrassonografia e um “muito cedo para saber o sexo”, o que impede completamente que alguém dentro do cinema seja pego de surpresa (fim do Spoiler). Uma certa preguiça narrativa que acaba se estendendo também para tentar arranjar algumas risadas e fazer com que O Que Esperar Quando Você Está Esperando seja uma comédia de situação ao invés de apenas uma comédia (ironicamente, as únicas piadas que realmente funcionam são as mais sutis e que acompanham o tema).

Entre um casal comparando suas cicatrizes e a presença, um tanto quanto desnecessária, de Chris Rock, só para falar algumas besteiras com cara de improviso, Kirk James ainda permite que seu filme caia em exageros pouco interessantes, como abrir a história com um vómito, passar por algumas flatulências e narizes torcidos e até uma saia amareladamente urinada. O que demonstra que, mesmo sendo obrigado a tocar no assunto (pela gravidez e todos os seus problemas), talvez fosse muito mais interessante se feito com uma mínima sutileza. James ainda se permite perder tempo com alguns coadjuvantes engraçadinhos (como a ajudante “gordinha” da loja de uma das personagens, que mais parece ter algum problema mental) sem perceber que o filme já conta com personagens suficientes para encaixar qualquer tipo de piada.

Seu trabalho de direção ainda reflete esse exagero ao inflar certos momentos com referências sem a menor importância, como alguns slow motions cumpridos demais (ambos envolvendo um grupo de pais em um parque) e um momento completamente artificial onde a personagem de Jennifer Lopéz é despedida após mostrar um porta-malas repleto de compras para o bebê, como se, talvez, o espectador não fosse perceber que ela ser despedida fosse um problema. Ao mesmo tempo em que não consegue esconder que um dos partos pode dar errado, o que deixo o final sem ritmo, já que seria inviável que esse conflito terminasse de qualquer jeito senão com um final feliz, pois toda estrutura do filme só o permite ser mais um exemplo simpático e bem humorado, contando esses vários problemas antes do brilho que vem com o nascimento.

Mas acima desses problemas, O Que Esperar Quando Você Está Esperando ainda é uma experiência interessante e deixa a impressão de não querer contar uma única história, mas sim várias ao mesmo tempo e, com isso, conseguir refletir um número interessante de conflitos, problemas e felicidades que acompanham a maternidade. Sem sobrecarregar nenhuma linha narrativa, o que acaba sendo mais acertado ainda diante de um elenco experiente e que (mesmo mediano) segura bem a onda de todas essas pequenas histórias.

E para os brasileiros, deixa ainda a impressão do bom trabalho de Rodrigo Santoro, que parece entender perfeitamente o tamanho de seu personagem (que é um daqueles caras charmosos e com um emprego descolado e dos sonhos que sempre aparecem em comédias românticas) e conseguir ser comedido, o que mostra um controle interessante, já que sai completamente do exagero de seu Heleno de Freitas e mostra que, mais do que nunca, está preparado para ser um galã descartável de Hollywood e suas comédias simpáticas.


What to Expext When You´re Expecting (EUA, 2012) escrito por Shauna Cross e Heather Hach, com Cameron Diaz, Jennifer Lopez, Elizabeth Banks, Chace Crawford, Brooklyn Decker, Ben Falcone, Anna Kendrick, Matthew Morrison, Dennis Quaid, Chris Rock e Rodrigo Santoro.


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2 Comentários. Deixe novo

  • Vinicius Carlos Vieira
    11/08/2012 11:13

    o Parentesco da Anna Kendrick é realmente ruim… mas acho que é o reflexo daquilo que eu escrevi, do roteiro não ter a mínima ideia do que fazer com ela e o namorado depois do meio do filme…

  • Discordo quando fala que a narrativa caminha com leveza, acho os esbarrões e as coincidências bastante exageradas (o parentesco da personagem de Anna Kendrick, ou o encontro no parque com um futuro pai). Além disso, o filme me desagradou muito, mas a crítica está bem elucidativa e escrita.

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