O Espetacular Homem-Aranha | Sai diretamente das HQs… mas nasce obsoleto


Talvez a Sony Pictures tenha realmente ficado traumatizada com a porcaria sem rumo que foi Homem-Aranha 3 e decidido passar uma borracha nos três filmes, ou, simplesmente, na falta de uma história melhor, o mais fácil tenha sido recontar logo tudo de novo. Difícil responder, mas a verdade é que O Espetacular Homem-Aranha nasce obsoleto e isso se torna um problema enorme para quem vai ao cinema ver o “amigão da vizinhança” em mais uma aventura.

Desnecessário talvez seja uma palavra mais simpática, já que não se incomoda de contar uma história fresca demais na cabeça do espectador. Faz apenas uma década que os cinemas conhecerem Peter Parker, seu Tio Ben, seus poderes e responsabilidades, para se ter uma ideia entre as origens de Batman contadas por Tim Burton e Christopher Nolan há o dobro de tempo. Por isso, é difícil entender a razão de perder tanto tempo nesse novo filme para mostrar tudo aquilo que todos já estão carecas de saber, o que acaba dificultando demais o ritmo de O Espetacular Homem-Aranha.

É lógico que existe um esforço óbvio do trio de roteiristas James Vanderbilt, Alvin Sarge e Steve Kloves para se afastarem completamente da versão clássica (o que até ameniza um exercício que poderia ser completamente cansativo), criando então, quase um novo personagem em um mundo muito mais moderno e menos fantasioso. Um esforço que parece, então, ser muito mais uma prova de que poderiam fazer algo distante do universo criado por Raimi, do que uma simples modernização do herói. E o caso nem é em relação à possibilidade de deixar algum ¿spider maníaco¿ bravo por rever certos dogmas do personagem (até por que as editoras fazem isso há décadas e não deveria mais ser surpresa para ninguém que isso acontecesse nos cinemas também), mas sim por mover tudo isso de modo desleixado e pobre, principalmente diante das possibilidades.

Antes mesmo de pensar em entrar em contato com qualquer tipo de aranha geneticamente alterada (e pensar que lá no começo de tudo ela era radioativa), Parker, que agora é vivido por Andrew Garfield (de Rede Social) é abandonado por seus pais, sofre bullying na escola, defende outro loser, toma um esporro do diretor e ainda ganha um olhar simpático da gatinha loirinha (Gwen Stacy, a loira que nos quadrinhos é a primeira paixão do herói e aqui é vivida pela sempre simpática Emma Stone). Um esforço hercúleo para criar um personagem que já nasce perdedor e bastaria sua presença para criar essa óptica, ainda mais quando todo estereótipo dele esbarra, justamente nisso. Voltando ao Cavaleiro das Trevas, seria como perder tempo mostrando que Bruce Wayne é um garoto absurdamente rico antes de ver seus pais serem mortos.

Pior ainda, diante de motivações tão claras que movem o personagem desde sua criação, mexer demais nisso resulta em ações que beiram furos no roteiro, ou alguém no cinema vai realmente acreditar que o personagem, mais de uma década depois de ser abandonado pelos pais, e sabendo que o pai era uma cientista importante, nunca digitou seu nome no Google nem foi atrás de alguma de suas pesquisas? Ou que peça para que o espectador acredite que, mesmo inteligente (ele conserta o cano da casa, cria o dispositivo que tranca seu quarto e até invade a sala na Oscorp), o garoto entraria sem a menor proteção em um laboratório de onde acabaram de sair dois cientistas protegidos dos pés às cabeças e, ainda por cima, ficaria passeando por uma antessala cheia de aranhas?

O Espetacular Homem-Aranha Filme

Não por poucas vezes, o diretor Marc Webb (do romântico 500 dias com Ela), junto com o roteiro, permite, principalmente enquanto reconta toda origem do personagem, que o espectador duvide das ações desse ou daquele personagem (além de uma enterrada de basquete digna de Sessão da Tarde), o que não permite que ninguém navegue com eles no clima realista que eles próprios parecem se esforçar para criar. A sorte deles é que, com o collant vermelho e a máscara, a simpatia do personagem ainda é imbatível.

Para os fãs, que podem até reclamar da “modernização”, Webb entrega, mais do que nunca, o personagem saído direto dos quadrinhos e perfeito em sua caracterização (o que passa muito pela estrutura mais esguia de Garfield em relação a Tobey Mcguire), um lado muito mais humano e crível e que, automaticamente, separa o herói daquele panteão de personagens bombados e aproxima-o do público. É mais fácil acreditar em sua roupa, no tão esperado lançador de teias (no lugar daquelas nojentas teias orgânicas inventadas por Raimi) e, muito mais ainda, no humor caótico que tanto caracteriza o personagem, já que, fica fácil perceber o quanto (assim como o próprio Batman) dentro daquela máscara, o jovem nerd e loser pode ser, e é, o cara descolado e heroico (no caso do Batman, sociopata e fascista).

Pensando nessa aproximação, Webb, acertadamente, traz seu Homem Aranha do alto dos prédios para o chão, enfrentando um de seus mais icônicos vilões, o Lagarto (vivido por um esforçado Rhys Ifans) e se divertindo, muito mais, com o lado atlético do personagem do que, simplesmente, com voos entre os prédios de Manhattan. Webb permite então que cada vez que o personagem se balance pelos ares, o espectador se deleite com as possibilidades de um 3D interessantíssimo e que parece caber perfeitamente no personagem (principalmente quando saca algumas sequências onde assume o ponto de vista do personagem com sua câmera). Um acerto que, infelizmente, não reflete o resto do filme, já que, longe dos arranha-céus, o diretor entrega um uso completamente equivocado do 3D, sem aproveitar sua profundidade e até trabalhando, na enorme maioria do tempo, com uma profundidade de campo pequena e esquisita, já que deixa o fundo fora de foco demais (coisa que não precisa acontecer com as três dimensões, e mostra que, mesmo sendo filmado em 3D, ainda assim foi pensado em 2D).

O Espetacular Homem-Aranha Filme

E ainda quando o assunto são as cenas de ação, Webb aproveita bem as possibilidades que os ótimos efeitos especiais do filme permitem e, em momento nenhum, se obriga a mascarar suas sequências, ganhando um dinamismo visual interessante que nunca impede o espectador de ver o herói pulando e ¿quicando¿ ao redor de seus inimigos, muito menos quando entra em cena o, digitalmente criado por computador, Lagarto. Infelizmente, todo essa aventura acaba perdendo mais um pouco de sua ¿magia¿ graças a uma trilha sonora equivocada do sempre exagerado James Hornes, que até ganhou um Oscar por seu trabalho em Titanic (tremendamente datada), mas que não parece se contentar em ser coadjuvante em seus trabalhos mais recentes (e nada sutis) como em Avatar, Karate Kid e o Garoto do Pijama Listrado.

Mas sobre tudo isso, O Espetacular Homem-Aranha acaba sendo divertido (já que seria difícil não ser) e, pelo menos, faz um trabalho mais eficiente na hora de ser o pontapé inicial para essa história, preparando muito melhor o terreno para o aparecimento de um maluco vestido de Duende Verde e, quem sabe, ter a coragem de manter a importância narrativa de Gwen Stacy para o desenvolvimento do personagem (mesmo que isso exija muita coragem). E mesmo que acabe rodeando de modo prolixo e sem sentido os ¿grandes poderes e grandes responsabilidades¿ da boca do Tio Ben, ainda assim é um começo promissor para uma nova série de filmes do ¿amigão da vizinhança¿, assim como há dez anos o filme de Sam Raimi era, o que quer que isso queira dizer.


The Amazing Spider-Man (EUA, 2012) escrito por James Vanderbilt, Alvin Sarge e Steve Kloves , dirigido por Marc Webb, com Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen e Sally Field.


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3 Comentários. Deixe novo

  • Vinicius Carlos Vieira
    23/07/2012 13:59

    “Espero que para uma continuacao Peter pegue um pouco de peso na academia e pare com o pilates” adorei esse comentário… e valeu Ken.

  • Ficou excelente a critica, talvez um pouco cansativa de ler, mas nao tira a qualidade.Concordo com algumas coisas e discordo de outras. Achei um bom passa tempo para quem gosta de filmes de herois e efeitos especiais, mas ainda prefiro os 3 ultimos.
    Eu costumo reclamar de protagonismo em excesso, mas acho que faltou um pouco neste filme, o Homem aranha aqui nao passa muita firmeza, e sinceramente achei o senso de humor do personagem tosco. Podia se preocupar mais com sua identidade secreta tambem.
    Nao sabia que a Gwen era a primeira paixao do aranha.
    Espero que para uma continuacao Peter pegue um pouco de peso na academia e pare com o pilates.

  • Olá! Apesar de a gente realmente perceber que esse novo HOMEM-ARANHA tenta ser agradável ele não nos convence como a trilogia anterior. Sim claro que é um novo início pro aracnídeo, mas parece que àquela magia dos três anteriores morreu…não sei se é culpa do ator principal comm sua fraquíssima interpretação ou do diretor ou roteirista mas fica tudo muito vago em “O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA” de Marc Webb . Não posso deixar de dar os parabéns para os efeitos especiais no que se refere aos saltos de prédio em prédio soltando suas teias do Aranha que é realmente muito bom e bem feito, mas na minha opinião continuo achando o HOMEM-ARANHA de Tobey Maguire e do diretor Saim Raimi bem melhor e com a cara desse querido herói da MARVEL. abraços!

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