O Dia do Atentado Filme

O Dia do Atentado | Um retrato competente de um momento triste e violento


Mais de uma década após a queda das Torres Gêmeas, os Estados Unidos sofreu seu pior atentado desde aquele fatídico 11 de setembro: a explosão de duas bombas durante a Maratona de Boston, em 15 de abril de 2013. Contando a perspectiva da polícia, dos investigadores, das vítimas e dos terroristas, O Dia do Atentado é, de maneira geral, um retrato competente do evento, mesmo que pouco se aprofunde em seu contexto.

Quem nos guia pelos acontecimentos é o sargento Tommy Saunders (Mark Wahlberg), responsável por policiar a linha de chegada da Maratona. Na véspera da corrida, acompanhamos brevemente a rotina do protagonista e de outros personagens que reencontraremos após o atentado, incluindo a esposa de Tommy, a enfermeira Carol Saunders (Michelle Monaghan), o jovem casal Jessica Kensky (Rachel Brosnahan) e Patrick Downes (Christopher O¿Shea), o sargento da cidade próxima de Watertown, Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons) e, é claro, os irmãos Tamerlan (Themo Melikidze) e Dzhokhar Tsarnaev (Alex Wolff), além da esposa do primeiro, Katherine Russell (Melissa Benoist).

A montagem ágil e eficiente de Gabriel Fleming e Colby Parker Jr. nos permite navegar com fluidez por todos os núcleos e momentos do filme, deixando a narrativa organizada e facilmente acompanhável. Entretanto, para tentar realçar esse efeito, o diretor Peter Berg (que assina o roteiro ao lado de Matt Cook e Joshua Zetumer) investe em constantes letreiros indicando nossa localização atual, assim como o horário e/ou contagem regressiva para a Maratona. Como tratam-se de informações excessivas e que ou são desnecessárias ou perfeitamente esclarecidas pelo próprio longa, tais letreiros tornam-se um incômodo até que passem a ser totalmente ignorados.

Por outro lado, Berg acerta ao manter sob controle o patriotismo exacerbado que os norte-americanos adoram demonstrar, assim como sua tendência a se considerarem heróis absolutos. Assim, Wahlberg, Simmons e seus companheiros de tela vivem sujeitos completamente regulares que, diante de uma situação terrível, demonstram competência e coragem, mas sem arroubos inverossímeis de heroísmo e sem se tornarem imunes a quedas, erros e demais ¿incômodos¿ que os mocinhos norte-americanos adoram ignorar. Essa naturalidade também permite que o roteiro invista em um senso de humor simples e eficiente, que consegue fazer rir sem prejudicar o peso da narrativa.

Entretanto, é uma pena que esse cuidado não alcance os antagonistas de O Dia do Atentado. Tamerlan, Dzhokhar e até mesmo Katherine, têm um tempo de tela considerável, deixando claro que Berg teve a intenção de dar a eles uma grande participação na trama. O problema é que isso não trouxe consigo uma vontade de humanizar os personagens. Dessa forma, mesmo que a antecipação à corrida e a investigação pós-atentado frequentemente seja interrompida por uma cena centrada nessa família, eles continuam sendo… apenas terroristas.

O Dia do Atentado Crítica

Uma explicaçãozinha no terceiro ato tenta justificar as ações dos irmãos, mas a importância de Tamerlan e de Dzhokhar para o filme deveria ter sido capaz de esclarecer isso por si só, sem a necessidade de soluções rápidas e pouco eficientes. Quem são aquelas três pessoas? O que elas sentiam antes do atentado? E depois? O que levou Dzhokhar a seguir os planos do irmão? E o que há por detrás do mistério representado pelas poucas palavras de Katherine? Mesmo que a história seja verdadeira, o filme deve ser capaz de se sustentar por si só. Berg não caracteriza os irmãos como ¿vilões¿ típicos, mas tampouco se interessa por fazê-los multidimensionais.

Diante disso, O Dia do Atentado não consegue inserir o acontecimento devastador que acompanha em um contexto maior. Mesmo assim, o longa se sai bem na demonstração do espírito e da força da cidade, responsáveis por transformar o termo ¿Boston Strong¿ no slogan pós-atentado. A sequência-chave do filme é tensa e devastadora.

Mas Berg prefere focar no local, esquecendo-se de que o atentado à Maratona de Boston faz parte de um contexto muito maior. É claro que é fundamental pensarmos nas pessoas por trás de tragédias como essa e, por isso mesmo, a abordagem do diretor funciona na maior parte do tempo. Entretanto, a forma com que ele retrata os terroristas é particularmente incômoda; não é preciso esquecer que eles são os vilões da história para permitir que os irmãos sejam personagens complexos. Da mesma forma, enquanto consegue evitar o maniqueísmo na maior parte do tempo, o roteiro chega perigosamente perto de cair para o sentimentalismo barato com um discurso proferido por Walhberg no terceiro ato.

Assim, O Dia do Atentado é um longa envolvente, que consegue emocionar e que se mostra eficiente por sua abordagem que, na maior parte do tempo, é natural e sem exageros de heroísmo ou drama. Entretanto, o desinteresse da produção de inserir sua história em um contexto mais amplo prejudica sua relevância e sua própria complexidade.


¿Patriots Day¿ (EUA/Hong Kong, 2016), escrito por Peter Berg, Matt Cook e Joshua Zetumer, dirigido por Peter Berg, com Mark Wahlberg, John Goodman, Kevin Bacon, J.K. Simmons, Michelle Monaghan, Themo Melikidze, Alex Wolff, Melissa Benoist, Rachel Brosnahan, Christopher O¿Shea e Jimmy O. Yang.


Trailer – O Dia do Atentado

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