Mulher do Pai Filme

Mulher do Pai | Carece de palavras, mas sobra de imagens


Apesar do que sugere o nome e a sinopse exagerada, Mulher do Pai é um estudo delicado e sutil sobre amadurecimento dos mais jovens, algo que não estamos mais acostumados a ver em um mundo cada vez mais conectado. De fora dessa aldeia global há ainda pequenos mundos rurais. E dentro desses mundos há a possibilidade de revisitarmos o bê-a-bá do crescimento humano.

E é claro que o filme, como sugere o nome, gira em torno de sexo proibido, ou pelo menos do seu desejo e curiosidade. “Sexo é o que nos aproxima” talvez fosse a frase que resume este filme, mas há muito pouco dele na história, que gira mais em torno do toque, principalmente onde falta o olhar. A protagonista é Nalu (Maria Galant), uma garota de 16 anos que vive com seu pai, Ruben (Marat Descartes), que não consegue enxergar devido a uma doença desde seus 20 e poucos anos. Quando a avó de Nalu vem a falecer os dois passam a morar sozinhos, o que obriga uma maior comunicação entre eles.

Ou pelo menos em teoria. O fato é que a cidade onde vivem é muito pequena e não há nada para fazer; sequer jovens garotos para ela e sua melhor amiga namorarem, apenas os colegas da escola “que só pensam em cavalos”. Ambas ficam sonhando em viver na cidade grande e como seria muito mais empolgante. Só que enquanto isso seu pai, até então quase ignorado na casa, passa a ser a única referência de homem que Nalu tem, e que começa a virar a projeção do já conhecido Complexo de Édipo (mas para meninas).

A diretora Cristiane Oliveira consegue aqui evocar um visual cheio de significados em torno de uma vila que nunca vemos por inteiro (talvez porque não valha a pena ver) e principalmente em torno da casa da família. O nascer e o por do sol são oportunidades para vermos na parede o reflexo da sombra do pai cego sob a luz vinda da janela, ou a visão da porta que dá para o mundo, de onde vemos uma Nalu ansiosa para abrir suas asinhas e sair voando de lá.

Mulher do Pai Crítica

O roteiro, também escrito por Cristina, em parceria com Michele Frantz (Sonhos Roubados), parece não se preocupar em tornar tudo mais ou menos óbvio. Dessa forma, quando vemos a professora de arte de Nalu ensinando os alunos a moldar argila com os olhos fechados já imaginamos na vida de quem ela irá parar. Da mesma forma, quando um jovem uruguaio começa a ficar com a garota já sabemos onde isso vai dar. Não há nada de imprevisível em Mulher do Pai, mas é nos detalhes que o filme nos captura, fazendo com que sua história por si só já seja digna de acompanhar.

Para uma rotina em que não acontece nada o filme parece te prender a cada detalhe. Isso porque com um roteiro minimalista, que carece de palavras, mas sobra de imagens, vamos aos poucos tateando o que a história quer dizer. E, talvez, no final das contas, o título do filme acabe chamando a atenção pelo que ele nos faz esperar. E com personagens tão simbólicos quanto estes, isolados do mundo como estes, trabalhar apenas com expectativas já prova a capacidade do filme em surpreender mesmo em cima do óbvio.


“Mulher do Pai” (Bra/Uru, 2016), escrito por Cristiane Oliveira, Michele Frantz, dirigido por Cristiane Oliveira, com Maria Galant, Marat Descartes, Verónica Perrotta, Áurea Baptista, Amélia Bittencourt


Trailer – Mulher do Pai

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