Mother – A Busca Pela Verdade | Finge ser sobre um assassinato, mas é sobre muito mais coisas

Talvez haja alguma coisa de errado com o cinema sul-coreano, como se uma certa depressão movesse seus filmes e tudo a suas voltas fosse um exercício de vingança e culpa. Fatores que juntos poderiam resultar em um jeito “sem vontade”, mas que, graças a essa geração nova e habilidosíssima em suas imagens, o resultado são filmes fortes e, contrariando tudo isso, cheios de vida. Mother- A Busca pela Verdade é, com certeza, mais um desses acertos.

Dirigido pelo mesmo Joon-Ho Bong que trouxe a vida o igualmente sensacional O Hospedeiro, esse novo filme parece andar pelo mesmo lugar, aquele onde seus personagens precisam lutar sozinhos contra um mundo que, praticamente os relega a algum tipo de escória desacreditada, mas que necessitam de uma força de vontade sobre-humana para encontrarem seus caminhos e suas buscas. E é do mesmo jeito que O Hospedeiro fingia ser sobre um monstro aquático, Mother finge ser sobre um assassinato e, assim como em ambos, na verdade, estão ali para seguir a busca de pais por seus filhos.

Aqui, uma mãe precisa provar a inocência do filho acusado de ter matado uma jovem, mesmo que ela tenha que fazer isso sozinha. A primeira coisa que salta aos olhos é essa simplicidade, já que é de uma trama tão fácil que acaba nascendo um filme extremamente complexo (exatamente como em seu ¿Hospedeiro¿), seu filho parece ter algum tipo de deficiência mental e essa busca em certo ponto parece extrapolar os limites da sanidade da própria mãe.

Em um trabalho extremamente complexo de criação de seus personagens, com precisão, Bong faz com que tudo em volta da trama fizesse realmente parte de uma imagem maior, sem desperdícios e deslizes. A mãe sofrida e frágil, vivida esplendorasamente bem por Hye-ja Kim, é o retrato desse desespero e ainda assim, sem a menor pena do roteiro, parece a todo momento ser jogada em algum canto, desprezada e enganada pelos outros personagens, como se, mesmo diante de toda sua busca cega, ela ainda precisasse ser desacreditada. E por mais que isso possa parece exagero, é na verdade um retrato cruel de uma personagem trágica, com um desfecho anunciado que ninguém parecer quere aceitar (principalmente o espectador).

Ainda que o desfecho não acabe se tornando nenhuma surpresa, não só por um pessimismo e uma melancolia com que Bong trata suas imagens, principalmente enquanto acompanha a mãe sozinha e pequena em planos abertos, como se seu caminho fosse longo e lento, mas, principalmente por em nenhum momento ele próprio contradizer sua narrativa. Se esforçando não para criar um filme de suspense onde essa ¿busca pela verdade¿, do subtítulo nacional, tivesse hora nem lugar (e como Hollywood adora fazer, correndo contra algum relógio), mas sim ela apenas tivesse que acontecer.

É diante dessa construção toda que tudo acaba se tornando uma busca, sim, pela inocência do filho, haja o que houver. Como se essa verdade, a partir de certo ponto, parasse de ser importante, ficando em um segundo plano e obrigando o espectador a lidar com o peso que a mãe tem que conviver e que, na verdade, como uma sombra que a acompanha desde o primeiro instante em cena olhando para o filho quase ser atropelado, não se transforma em uma superproteção aparentemente que gratuita, mas que é o que a move pelo resto do filme.

Mas não se engane, o assassinato está ali e o diretor acertadamente faz questão de sempre deixar uma certa dúvida pairando no ar, como uma pulga atrás da orelha em uma sub-trama pertinente que cresce e em nenhum momento se mostra descartável, mesmo servindo apenas como pano de fundo pois é mesmo com seus personagens que você se preocupa. Em certo momento o diretor até comete um pequeno deslize, derrapando em um aparente desespero de inocentar o filho preso, talvez até por acompanhar de perto demais a mãe em sua busca, compartilhando de suas conclusões, mas que, na verdade, pouco (ou nada) atrapalha no ótimo ritmo do filme, e que, ainda assim ao parecer olhar para vários culpados, o que pode ser considerado um pouco forçado, no fim acaba se mostrando necessário para segurar a trama até os instantes finais e ainda surpreender um monte de gente.

Mas bem longe de ser um daqueles filmes que serão lembrados por seu final, ainda que se não surpreendente, é acachapante e forte o bastante para ser carregado na lembrança após seu termino  Mother- Em Busca da Verdade é acima de tudo sobre uma mãe que precisa reviver seus pecados e no fim tomar o rumo que sua própria culpa lhe traçou, afogada por esse mesmo sentimento, a deriva, batendo pelos cantos sem aceitar o que seus olhos vêem, optando por decisões até egoístas, mas sempre movidas por esse amor incondicional.

Mother… não é surpreendente, é apenas um filme que faz o que se propõe desde seu começo, só não conta nada para seu espectador enquanto não vê necessidade dele saber de nada, coisa muito rara no cinema atual.


“Madeo” (COR, 2009) escrito por Eun-Kyo Park, Joon-ho Bong e Wun-kyo Park, dirigido por Joon-ho Bong, com Hye-já Kin, Bin Won, Ku Jin, Yoon e Jae-Moon


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