Ladrões de Bicicleta Filme

Ladrões de Bicicletas

Talvez a tarefa mais difícil dentro da crítica seja enxergar alguns clássicos com seus olhos, tentar entender por que aquilo ali diante de você, ganhou esse rótulo tão proeminente. Ladrões de bicicletas é um desses casos.

É lógico que precisa-se enxergar além das imagens de Vittorio de Sica, tentar entender a Itália ainda vítima de uma guerra, tentando se levantar diante do mundo, do mesmo jeito que procurar compreender o neo-realismo, toda sua carga sociopolítica e sua estética marcante. Ver não só o que está à sua frente. Ms talvez, ainda assim, nada disso o prepare para encarar um clássico como Ladrões de bicicletas.

De Sica faz um filme quase sem parâmetros narrativos, cria uma história sobre uma bicicleta roubada que mascara toda aflição de uma sociedade. Faz da bicicleta a única chance dos personagens voltarem a ter uma dignidade. Não é a bicicleta que é roubada, mas sim uma vida, um futuro de uma família, o brilho nos olhos da criança, e por fim a integridade do mesmo que a teve roubada. A câmera se fecha sobre a face do protagonista como se ele não tivesse saída, como se, mesmo sob a chuva, quase atropelado por uma comboio de outras bicicletas, não tivesse o que fazer, a não ser esperar pela sorte. Pelo destino.

De Sicca não só parece dominar tudo a sua volta como dá um show, em um filme carregado de uma sinceridade sutil, que faz o espectador ficar quase arrepiado quando acha que a bicicleta foi roubada logo no começo, enquanto visitam uma vidente, a própria imagem lhe conforta quando, anunciada pela abertura do zoom da câmera, os personagens descem uma escada ao fundo e você recebe de volta a bicicleta. Não para criar suspense, mas para demonstrar ao espectador o quanto aquele roubo será sentido momentos depois.

A angustia final, onde o personagem precisa decidir que caminho tomar, por mais que acabe sendo o mesmo que o prejudicou, não mostra uma ambiguidade daquele pobre homem, mas um sentimento de sobrevivência que ele não sabia que tinha. Um sentimento que obriga todos a, nem sempre, tomar a decisão mais correta.

Ao fim o que nos resta é sempre um mundo à frente, uma multidão à ser encarada sabendo que, em algum lugar, sua bicicleta está a sua espera, mesmo que um monte de obstáculos tentem te impedir.


Ladri di Bicicletti (1948) escrito por Casere Zavattini, Suso Cecchi d´Amico, Vittorio De Sica, Oreste Biancoli, Adolfo Franci e Gerardo Guerrieri, a partir do livro de Luigi Bartolini, dirigido por Vittorio de Sica, com Lamberto Maggiorani, Enzo Staiola e Lianella Carell.


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